Aos 59 anos, a inglesa Jillian Anne Ellis é uma das mulheres mais poderosas do esporte mais popular do mundo. Nascida em Folkestone, a simpática senhora de 1,70m não foi nomeada pelo presidente Gianni Infantino diretora de futebol da Fifa por acaso. Ela é a única treinadora bicampeã da Copa do Mundo Feminina em edições consecutivas. Levou os Estados Unidos à glória nas versões de 2015 e de 2019. Até a sequência dela, somente o italiano Vittorio Pozzo ostentava esse feito na Copa do Mundo masculina na dobradinha de 1934 e 1938.
Nesta semana, Jill Ellis foi escolhida a dedo por Infantino para vir a Brasília. Falta um ano e meio para o início da Copa do Mundo de 2027 no Brasil. A primeira na América do Sul em 10 edições. Uma das virtudes da treinadora convertida em executiva é a capacidade de agir estrategicamente. As movimentações pela cidade foram discretas como as táticas usadas no passado para surpreender adversários, ganhar jogos e empilhar taças.
Jill Ellis usou o carisma para promover a Copa do Mundo, mas também para checar o ritmo e os cumprimentos do protocolos do Brasil dos preparativos para atender às demanda da Fifa na contagem regressiva para o megaevento.
Antes da parte burocrática da agenda, Ellis fez questão de ir até o Centro de Treinamento da Associação Desportiva de Futebol do Distrito Federal (ADEF-DF). Vestiu a camisa, interagiu com as jogadoras da base ao profissional e tentou balançar as redes das goleiras do time de futsal. Engajadas em não permitir, as donas das traves encerraram o desafio como mandam os tempos modernos: baliza zero.
De tênis, calça preta e camisa da Fifa antes de trocá-la pelo uniforme da ADEF, Jill Ellis arriscou chutes, transmitiu conhecimento, observou talentos, contou, ouviu história e fez elogios. “Eu acho que é um ótimo projeto para a comunidade. Isso é inacreditável, fantástico. Eu amo que as meninas tenham de vir todas as noites e jogar futsal”, disse na visita ao Ginásio da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Apcef), no Setor de Clubes Norte.
Na manhã de terça-feira, Jill Ellis foi até o Ministério do Esporte para tratar sobre a governança da Copa do Mundo de 2027. “O Brasil vai poder mostrar seu amor ao futebol e a energia única do país. A Copa será um evento extraordinário. Sempre que um país sedia o torneio, há um aumento imediato na participação. As jovens e os jovens se inspiram ao assistir atletas e jogos de alto nível”, testemunhou.

Jill Ellis destacou o compromisso da Fifa com o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil, ressaltou a importância de fortalecer a liga nacional e de ampliar oportunidades para jovens jogadoras. “Queremos ajudar a construir caminhos para que meninas encontrem um espaço seguro para jogar. O desenvolvimento acontece aqui, no Brasil. É essencial apoiar a liga local e a descoberta de talentos”, reforçou.
A dama de ferro da Fifa não veio a passeio nem embarcou de mãos abanando rumo a Washington, capital dos Estados Unidos, palco do sorteio da Copa do Mundo masculina de 2026 nesta sexta-feira, às 12h. Gianni Infantino precisava de atualizações sobre as questões burocráticas da versão feminina.
Do Ministério do Esporte, Jill Ellis levou a informação mais importante para Infantino: a certeza de que a minuta da Lei Geral da Copa do Mundo de Futebol Feminino da FIFA 2027 está concluída e seguirá para análise da Casa Civil antes do envio do Governo Lula ao Congresso Nacional. Foram apresentadas a estruturação jurídica e administrativa para o evento.

A inglesa também conheceu as estruturas responsáveis por coordenar os preparativos da competição. São oito Câmaras Temáticas: vistos e imigração, legislação trabalhista, regime fiscal e cambial, segurança, proteção de direitos de competição, tecnologia da informação, questões jurídicas e transporte. A secretária executiva adjunta do Ministério do Esporte, Cinthya Mota, e a representante de Relações Governamentais da Fifa, Jacqueline Barros, interagiram no encontro.
A agenda de Jill Ellis terminou onde ela mais gosta: no Estádio Mané Garrincha. Depois de uma sequência de entrevistas para falar, principalmente, sobre a paixão pelo futebol feminino, a inglesa foi até a tribuna de honra de uma das 10 arenas selecionadas pela Fifa para receber a Copa de 2027, sentiu o vento da capital no rosto, abriu os braços e relaxou como se estivesse em casa diante da vista perfeita: o gramado. Com o sentimento de missão cumprida, seguiu rumo ao aeroporto para apresentar o relatório da discreta blitz de 48 horas no país da Copa do Mundo Feminina de 2027 a Gianni Infantino.
X: @marcospaulolima
Instagram: @marcospaulolimadf
TikTok: @marcospaulolimadf

