Corinthians e Palmeiras respeitam suas camisas, a bola e a plateia em um clássico à altura da tradição

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Corinthians e Palmeiras colocaram em prática nesta quinta-feira, na Neo Química Arena, em São Paulo, um pouquinho do maior legado da final das finais da Copa do Mundo entre Argentina e França: a vontade — e a coragem — de jogar futebol. Protagonistas de uma final de Paulistão modorrenta em 2020, decidida nas cobranças de pênaltis, os dois times aproveitaram a qualidade de um gramado que resistiu bravamente à chuva e respeitaram suas camisas, a bola e a plateia em um clássico digno de aplausos em Itaquera.

Aplausos para a coragem do jovem e promissor técnico Fernando Lázaro na escalação. Mandou Giuliano a campo no papel de segundo volante e surpreendeu Abel Ferreira —  que está habituado a dar nó nos outros. Mas o português é inquieto. Uma das virtudes dele é não esperar intervalo para alterar o time. Mudou o posicionamento tático em resposta aos donos da casa. Deslocou Endrick da função de centroavante para as pontas com a missão de domar os avanços de Fagner, colocou Rony no papel de 9, voltou rapidamente ao jogo.

Voltou, pois a finalização de Roger Guedes no lance do primeiro gol merece muitos elogios. Lembrou a excelência de um ex-centroavante que virou senador e trabalha aqui em Brasília. Romário assinaria o belo arremate na frente de um goleiro do nível do excelente Weverton.

Aplausos também para o talento de Raphael Veiga. Enquanto a presidente Leila Pereira não contrata, o meia tem jogado por ele e pelo companheiro Gustavo Scarpa, que se transferiu para o Nottingham Forest. É o dono do pedaço. Faz o que quer com a bola. Colocou-a duas vezes na cabeça de Rony e viu o ídolo da torcida alviverde virar o clássico, em Itaquera. No segundo, o Palmeiras provou mais uma vez que tem a melhor bola parada do país. O repertório de cobranças ensaiadas pelo técnico Abel Ferreira impressiona pela variedade. A movimentação é praticamente impossível de ser marcada. Gil que o diga…

Ironicamente, o Palmeiras provou do próprio veneno. O gol de empate do Corinthians começa numa bola parada seguida pelo passe do meia Giuliano para o zagueiro Gil finalizar de chapa da entrada da área para estufar a rede de Weverton. Até aquele momento, o goleiro operava milagres e evitava a reação alviverde. O grandalhão Gil (1,93m), que não deu conta do baixinho Rony (1,66m) nas tramas aéreas dos dois gols do arquirrival, se redimiu com o bando de loucos protagonizando um arremate de louvável categoria.

O clássico deu uma daquelas aulas elementares. Futebol se ganha no meio de campo. Quem tem aumenta as chances de vencer. Giuliano foi importantíssimo para o Corinthians. Renato Augusto, para mim, o melhor em campo. Raphael Veiga funcionou como maestro alviverde. Os dois gols começaram justamente nos pés de quem dá cadência ao Palmeiras.

Em um post anterior, escrevi que a escolinha do professor Tite era protagonista em mais um dérbi. Depois de Fábio Carille e de Sylvinho, foi a vez de Fernando Lázaro debutar no clássico. Juntos, os três discípulos do ex-técnico da Seleção enfrentaram o Palmeiras 11 vezes e só perderam uma. Todos foram doutrinados a tratar o jogo como um campeonato à parte. Lázaro passou no primeiro teste contra o melhor time do futebol brasileiro. Ótimo para torcedores e apreciadores do bom futebol. Os dois times estão de parabéns. Que mantenham a chama da final da Copa do Mundo acesa e sigam jogando bola.

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Marcos Paulo Lima

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