Memphis Depay desembarcou no Corinthians fora de forma em um time desorganizado e sem confiança no ano passado. O técnico Ramón Díaz precisou de tempo para encaixar as peças e encontrar a melhor maneira de se jogar. Escrevi mais de uma vez aqui no blog: para mim, o argentino se inspira num trabalho autoral. Em 1996, ele levou o River Plate ao título da Libertadores organizado taticamente em um sistema parecido com o usado no Timão.
O trio formado por Rodrigo Garro, Memphis Depay e Yuri Alberto lembra a aposta de Ramón Díaz em uma trinca fora de série. O River Plate contava com Ortega no papel de enganche e o experiente uruguaio Francescoli ao lado do jovem Hernán Crespo no ataque. O desenho tático dos campeões da Libertadores era o mesmo do Corinthians: 4-3-1-2.
A química entre Garro, Memphis Depay e Yuri Alberto é perfeita. O lance do segundo gol na vitória por 2 x 1 contra o Santos, na Neo Química Arena, ilustra o entrosamento entre eles e a cumplicidade no chamado último terço do campo. Eles se procuram — e se acham — com muita facilidade. O Corinthians é dos raros times brasileiros a atuar com um dupla de ataque em tempos de dois pontas abertos e um centroavante. O diferente faz a diferença e pratica o melhor futebol da primeira fase do Campeonato Paulista.
Memphis teve tempo de adaptação, entrou em forma e joga em um Corinthians organizado, consciente do que tem a fazer. Neymar precisa justamente disso no Santos. Assim como o amigo holandês, desembarcou na Vila Belmiro fora de forma, com demanda por sequência de jogos e carente de um time organizado taticamente. Embora tenha competido em Itaquera, o Santos ainda não oferece a resistência necessária para suportar o adversário.
Mesmo abaixo da capacidade, Neymar criou alguns problemas para o Corinthians e viu o goleiro Hugo Souza intervir em alguns lances. A questão é o sistema defensivo. O setor é ruim com linha de quatro ou de três defensores, como Pedro Caixinha optou na partida desta quarta. É inadmissível escalar três zagueiros e um deles não ser o experiente Gil. A preferência foi por João Basso na direita, Zé Ivaldo no centro e Luan Peres na esquerda.
Do meio para a frente, o Santos tentou espelhar o posicionamento do Corinthians com uma linha de quatro jogadores no meio de campo, Neymar à frente deles como se fosse o “Garro” do Timão no papel de enganche, e Tiquinho Soares formando par com Thaciano.
Artilheiro do Paulistão com oito gols, Guilherme atuou praticamente como ala-esquerdo no sistema 3-4-1-2. Foi justamente ele quem diminuiu o placar na noite em que Garro e Memphis Depay transformaram Yuri Alberto em protagonista. Neymar não conseguiu realizar o mesmo com Tiquinho e Thaciano porque faltam fôlego, entrosamento e um time capaz de orbitar em torno dele. Isso demanda tempo. Haverá paciência com Caixinha?
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