Copa América: eliminação prova incapacidade da CBF em 10 anos de crise

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O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso tem uma frase marcante sobre o processo de elaboração, execução e lançamento do Plano Real há 30 anos, em 1994: “Não se pode desperdiçar uma crise”. A CBF empilha desperdícios há pelo menos uma década.

A entidade máxima do futebol brasileiro jogou 10 anos fora desde a catástrofe na semifinal da Copa de 2014. Foi incapaz de aprender com o 7 x 1. A maior goleada na história centenária reverbera na eliminação nos pênaltis contra o Uruguai nas quartas de final da Copa América, em Las Vegas, Nevada, nos Estados Unidos.

A CBF não usou a maior crise da Seleção para estabelecer um plano de reconstrução. A camisa amarela ficou largada enquanto cartolas mediam forças pelo poder. São quatro presidentes desde o 7 x 1: José Maria Marin, Marco Polo Del Nero, Rogério Caboclo e o atual, Ednaldo Rodrigues. Isso sem contar os períodos de interinidades do coronel Nunes.

A capacidade de envolvimento em escândalos como o FifaGate e na articulação para eleições e golpes falta para pensar o futebol brasileiro. Não existe projeto. Filosofia não há. Linha de trabalho? O que é isso? O estilo de jogo da Seleção é o de quem assume a prancheta. Dunga, Tite, Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Júnior passaram pelo cargo depois daquele 7 x 1 sob as batutas de Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira.

O adeus nos pênaltis contra o Uruguai nas quartas de final da Copa América é apenas mais uma constatação de que a CBF não tirou lições do 7 x 1. A boa geração de Vinicius Junior, Rodrygo, Endrick, futuramente Estêvão e outras joias precisa de ordem para entregar progresso. A Seleção treinou 25 dias para o torneio continental e faltou repertório.

A exibição diante do Uruguai foi pobre, principalmente depois da expulsão de Nández. O Brasil não teve a mínima capacidade de encurralar a defesa celeste. Marcelo Bielsa fez o básico. Posicionou a última linha na frente da área bem ajustada e deixou o time de Dorival Júnior tocar a bola desordenadamente. A Seleção piorava a cada substituição.

Os pênaltis deixaram o pânico estampado na cara dos jogadores. A caminhada do zagueiro Éder Militão até a cobrança é simbólica. Não vejo marra. Enxergo medo, tensão, uma total falta de convicção do que fazer. Na tentativa de aliviar a pressão, o beque brinca de jogar a bola para cima até o desfecho óbvio: o desperdício da cobrança defendida por Rochet.

Dez anos depois do 7 x 1, a Seleção continua em crise — e a CBF não sabe aproveitá-la para refundar a Seleção. Simplesmente porque não há quem saiba o que fazer, mas a maioria bate no peito e diz saber o que está fazendo. Nada como o balanço dos resultados.

O Brasil foi eliminado do Mundial Sub-20 por Israel. Caiu no Sub-17 diante da Argentina. Não se classificou para os Jogos Olímpicos de Paris-2024. Despediu-se da Copa América com uma vitória em quatro jogos. Derrotou o Paraguai e empatou com Costa Rica, Colômbia e Uruguai.  Tombou na fase de grupos da Copa do Mundo Feminina.

Como diria o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “não se pode desperdiçar uma crise”. A CBF tem uma nova oportunidade de entender isso, mas há outras prioridades. Tite anunciou que deixaria a Seleção em fevereiro de 2022. A entidade não sabia o que fazer depois da eliminação contra a Croácia e jogou fora um ano do ciclo para a Copa de 2026. Alguém acreditou de verdade que o Brasil seria campeão da Copa América nos Estados Unidos diante dessa bagunça?!

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Marcos Paulo Lima

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