A lista dos convocados de Tite para as partidas contra Paraguai e Equador pelas Eliminatórias para a Copa encaminha uma novidade na forma de o Brasil jogar futebol. Provavelmente, os melhores laterais do planeta não estarão do nosso lado no Catar. Isso é uma raridade. Chamados nesta quinta, Daniel Alves, Emerson Royal, Alex Sandro e Alex Telles defendem, respectivamente, Barcelona, Tottenham, Juventus e Manchester United, mas nenhum deles está, hoje, entre os mais talentosos. Muito menos são sonhos de consumo no mercado.
Os craques da posição atuam em seleções concorrentes. Líder do hexagonal final da Concacaf, por exemplo, o Canadá tem Alphonso Davies. O astro do Bayern de Munique é tão diferenciado que nem na lateral joga com a camisa da seleção. Condenada à repescagem, a Itália conta com o ótimo Spinazzola. A Holanda tem Dumfries como recurso ofensivo. Portugal desfruta do excelente Cancelo — arma de Guardiola no Manchester City.
Os laterais foram trunfos do Brasil nas conquistas dos últimos dois títulos. Jorginho e Leonardo depois Branco formaram o par perfeito de Carlos Alberto Parreira em 1994. Ambos também formavam a dupla de laterais na Itália em 1990. Telê ostentava Leandro e Júnior em 1982.
Cafu e Roberto Carlos herdaram a posição no vice de 1998 com Mario Jorge Lobo Zagallo e na campanha do pentacampeonato em 2002 sob a batuta de Luiz Felipe Scolari.
Criou-se uma dinastia de laterais ofensivos. O Brasil foi à Copa de 2010 com Maicon, Daniel Alves, Michel Bastos e Gilberto. Disputou a edição de 2014 com Daniel Alves e Marcelo. Ambos figuraram por muito tempo nas seleções do ano de diversas premiações. A dupla se repetiria em 2018, mas Dani sofreu contusão e ficou fora da lista final de Tite.
O perfil dos laterais do Brasil na Copa de 2022 será diferente. Tite está fechado com jogadores mais presos à marcação. O destro Danilo e o canhoto Alex Sandro são conservadores. Preocupam-se primeiro em proteger a defesa e só avançam na boa.
Danilo ficou fora da lista desta quinta-feira, mas é nome garantido na Copa. A polêmica convocação de Daniel Alves coloca o veterano na briga com Emerson Royal pela segunda vaga.
Do outro lado, Alex Sandro é outro nome certo na convocação final de outubro. Resta saber quem será o parceiro dele. Alex Telles surge como concorrente de Guilherme Arana e o não vacinado Renan Lodi corre por fora. Tite quer claramente equilíbrio na escolha dos laterais, ou seja, um mais conservador, defensivo, e outro com perfil mais agressivo no apoio.
A derrota para a Bélgica nas quartas de final da Copa da Rússia explica a postura de Tite. Lukaku deitou e rolou em cima de Marcelo no primeiro tempo da vitória por 2 x 1. Do outro lado, Fagner não conseguiu deter Eden Hazard. Fagner e Marcelo são ofensivos.
Você deve recordar a vitória por 2 x 0 sobre o México nas oitavas de final da Copa. Marcelo não jogou. Estava lesionado. Filipe Luís assumiu a posição, fez ótima partida, deu conta dos pontas adversários e deveria ter sido mantido na partida seguinte contra a Bélgica. O trauma pesa, sim, na opção de Tite por Danilo e Alex Sandro.
Siga no Twitter: @marcospaulolima
Siga no Instagram: @marcospaulolimadf