Há nove anos, um menino de Santa Maria, bairro da periferia do Distrito Federal, participava da campanha do tricampeonato do Santos na Libertadores. O meia Felipe Anderson, de 18 anos, era um dos parças de Neymar no elenco comandado por Muricy Ramalho. Em 30 de janeiro, às 17h, no Maracanã, outro jogador nascido na capital do país pode entrar para a galeria dos heróis do alvinegro praiano na história do principal torneio de clubes da América do Sul.
Criado em Samambaia, o atacante brasiliense Ângelo Gabriel Borges Damasceno ainda não entrou em campo nesta edição da Libertadores, mas está inscrito pelo técnico Cuca na competição continental com a camisa 43. Aos 15 anos, 10 meses e 4 dias, tornou-se, no ano passado, o segundo jogador mais novo a estrear no time profissional. Entrou em campo contra o Corinthians, no Maracanã, em 25 de outubro de 2020, superou Pelé e fica atrás apenas do precoce Coutinho. O lendário centroavante debutou com 14 anos, 11 meses e 6 dias.
Ângelo Gabriel é uma das joias descobertas na escolinha Menino da Vila DF. Começou a levar o futebol a sério em 2012, aos oito anos, nos gramados da Celacap, o clube da Novacap, no SIA. “No primeiro treino notamos que ele tinha muita habilidade e velocidade acima da média”, conta em entrevista ao blog o professor Carlos Roberto, 50 anos, mais conhecido como Betinho. Ele e o amigo Flávio Bastos ensinaram os fundamentos ao atacante do Peixe.
“Apresentamos (o Ângelo Gabriel) ao Santos para testes nas categorias de base. Ele foi aprovado rapidamente. Mostrou perfil do clube praiano: jogador rápido, habilidoso, irreverente, com bastante qualidade técnica e ofensividade”
Betinho, treinador do atacante brasiliense na escolinha Meninos da Vila DF
Betinho lembra que, no primeiro campeonato, a tradicional Copa Dente de Leite, Ângelo Gabriel brilhou e o time foi campeão no dia do aniversário de nove anos do pupilo, em 21 de dezembro de 2013. “No ano seguinte, apresentamos ao Santos para testes nas categorias de base. Ele foi aprovado rapidamente. Mostrou perfil do clube praiano: jogador rápido, habilidoso, irreverente, com bastante qualidade técnica e ofensividade”, elogia. Palmeiras, Desportivo Brasil, Athletico Paranaense e Cruzeiro também tentaram tirar Ângelo Gabriel do Distrito Federal.
O menino da Vila saiu do banco três vezes no Campeonato Brasileiro. Jogou 30 minutos na estrei contra o Fluminense, seis na derrota para o Bahia, na Vila Belmiro, e outros três no revés diante do Flamengo, novamente no Rio. No Brasileirão Sub-20, balançou a rede contra o Internacional e duas vezes no duelo com América-MG. Alvo de olheiros brasileiros do futebol europeu, Ângelo Gabriel assinou contrato com o Santos em dezembro, quando completou 16 anos.
Emocionado, publicou nas redes sociais depois da estreia contra o Fluminense: “Aos 14:06 minutos do segundo tempo, eu realizo o sonho de me tornar jogador profissional de futebol. No dia em que o Rei do Futebol foi homenageado e na semana do seu aniversário, eu, um simples garoto sonhador e humilde, que só queria brincar com a bola nas vielas e campos do simples bairro onde cresci (…). A favela venceu”, comemorou.
Os treinadores candangos de Ângelo Gabriel comparam o estilo do pupilo ao de outras duas estrelas do Santos. “Edu, ex-ponta, e Neymar pelos dribles em velocidade e mudança de direção. Um jogador muito interessante que vai evoluir e brilhar”, aposta Betinho.
O menino da Vila tem a chance de ser o quarto jogador nascido no Distrito Federal a conquistar o título da Libertadores. Amoroso ganhou pelo São Paulo na edição de 2005. Felipe Anderson vestindo a camisa do Santos em 2011. Reinier no ano passado na virada épica do Flamengo contra o River Plate por 2 x 1 no Estádio Monumental, em Lima, no Peru.
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