Domingo sempre foi um dia movimentado na casa dos Souza Lima no Cruzeiro Novo, onde nasci e cresci na residência dos meus pais. Íamos à igreja da qual fazíamos parte de manhã e à noite. O tempo para assistir aos jogos era escasso, contado. Era criança em uma época na qual as partidas começavam às 17h e terminavam quase sempre às 19h. Tomava banho no intervalo para ver um pouquinho da etapa final antes e se mandar rumo os culto noturno de 19h30 para não chegar atrasado.
A introdução é para lamentar a morte do amigo João Baptista Bellinaso Neto — o Léo Batista — aos 92 anos. Não o conheci, mas permita-me chamá-lo de amigo, Léo Batista, por um motivo: ele fazia a resenha perfeita do futebol dominical nos Gols do Fantástico. Via religiosamente com um prato de janta ou um lanche nas mãos preparados por mamãe Ana e não perdia os resultados e os aguardados Gol do Fantástico, o mais bonito do fim de semana, e o Goleiro do Fantástico, o paredão da rodada pelo Brasil. Um dia, o eleito foi Bocaiuva do Sobradinho.
Nunca joguei na Loteria Esportiva, mas a cereja do bolo no velho Fantástico era o gabarito com os resultados. Léo Batista fazia par perfeito com a zebrinha, personagem criado pelo caricaturista e diretor de televisão Borjalo, Maralisi Tartarine dava voz àspatica companheira do fim de noite. Quando um resultado absurdo acontecia, a zebra logo acusava: “Olha aí”. Foram muitas.
Aprovado no vestibular, comecei a estudar jornalismo e passei a entender por que Léo Batista é mestre. Era excelente repórter, apresentador, locutor, editor, roteirista… O senhor nascido em Cordeiropolis (SP) jogou de termo em todas as posições ates os 92 anos.
Conheci pessoalmente muitos profissionais na minha curta carreira de jornalista, mas fica um vácuo: gostaria de ter falado ao menos uma vez com meu amigo das noites de domingo. O cara da resenha, dos resultados das partidas, do bom humor, das colunas um, dois, do meio, das zebras.
Léo Batista nos deixa justamente em um domingo. Dia de futebol. O dia em que ele brilhava. Parte feliz da vida por ter visto o fim do jejum de 29 anos do Botafogo no Brasileirão e testemunhado a conquista do título inédito da Libertadores em novembro do ano passado. Perdemos um sacerdote do jornalismo esportivo comprometido com a informação, com a notícia, comigo e com você até o último dia. Que profissional!
Obrigado, Léo Batista.
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