Jornalista esportiva com passagem pelas redações do Correio Braziliense, do Grupo Globo (SporTV, GE e Globo) e autora do livro “Touros, tapas e meias pretas”, Carina Ávila mora em Sevilha, na Espanha. A Convite do blog Drible de Corpo, Carina relata a seguir como foi a última das duas passagens do novo técnico do Flamengo, Jorge Sampaoli, pelo Sevilla. Em 21 de março deste ano, o treinador foi demitido pelo clube recordista de títulos (hexacampeão) da Liga Europa. O argentino deu lugar a José Luis Mendilibar. Desde então, o time se afastou da zona de rebaixamento e avançou às semifinais da Liga Europa depois de eliminar o Manchester United nas quartas. Nas oitavas de final, ainda sob o comando de Sampaoli, eliminou o Fenerbahçe de Jorge Jesus. Com a palavra, Carina Ávila, que acompanha a rotina dos clubes de Sevilha in loco, onde tudo acontece.
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A torcida do Sevilla em geral ficou feliz com a demissão de Sampaoli. Na imprensa, as avaliações do trabalho do argentino também não eram nada boas. Além de os veículos especializados criticarem os resultados irregulares do time no Campeonato Espanhol (La Liga), os jornais afirmavam que, nos bastidores, os jogadores não suportavam o treinador, e que o clima interno na equipe era horrível.
Três dos principais jogadores do time se queixaram publicamente da “falta de comando” de Sampaoli em entrevistas: Iván Rakitic (que é um dos maiores ídolos do Sevilla desde a primeira passagem dele pelo clube, de 2011 a 2014), Marcos Acuña e Bono. A crítica do goleiro Bono foi uma das mais pesadas: ele disse que a equipe estava jogando com anarquia e, por isso, dependia só da sorte.
Um setorista famoso por aqui chamado Alonso Rivero cravou que Sampaoli chegou ao clube em um tempo de bonança e deixou um vestiário absolutamente dividido. Rivero diz que sempre acreditou que, “no contexto em que estava o time, não cabia um técnico tão egoísta como Sampaoli”.
Aqui, o fato de o time estar tão perto da zona de rebaixamento deixava todo mundo incrédulo (quando Sampaoli saiu, o time estava a dois pontos da zona). Os torcedores do Betis, maior rival do Sevilla, estão fazendo a festa até hoje. Em todo lugar que vou, béticos fazem piadas e tiram onda com sevillistas. Estão aproveitando o momento, porque, nos últimos anos, o Sevilla sempre esteve acima do Betis. O Sevilla costumava figurar nas primeiras colocações e, apesar de o Betis ter ido bem nos últimos anos, ficava atrás do rival. Inclusive, em 2014/2015 o Betis disputava a segunda divisão, enquanto o Sevilla ganhava a Liga Europa da UEFA. Então, agora, com o Sevilla tão mal no campeonato e o Betis em 5º, os béticos não estão perdoando.
Fato é que o Sevilla está vivendo uma crise, e a culpa do rendimento oscilante do time e dos problemas internos no vestiário recaiu em Jorge Sampaoli. A goleada de 6 x 1 sofrida contra o Atlético de Madrid e as derrotas para o Osasuna e para o Getafe fizeram o técnico ser bastante questionado.
Um dos pontos mais criticados pelos torcedores foi a decisão do treinador de jogar várias partidas sem atacantes. Outra situação que viralizou em vários confrontos foram as folhas cheias de anotações que o corpo técnico dava aos jogadores no meio dos jogos. Os atletas, muitas vezes, ficavam confusos tentando decodificar o que estava escrito (tudo flagrado pelas câmeras de TV).
A situação mais crítica aconteceu durante a derrota em casa diante do Osasuna, quando o meia Nemanja Gudelj apareceu no gramado com anotações de Sampaoli e as mostrou a Óliver Torres, e os dois jogadores passaram muitos segundos tentando entender o que o papel dizia, enquanto o cronômetro da partida continuava correndo. Então, Marcos Acuña se irritou, tomou a folha dos companheiros, amassou o papel em forma de bola e a lançou furiosamente.
Os torcedores fanáticos do Sevilla com os quais convivo acreditam que o trabalho de Sampaoli no time foi pobre. Até admitem que o time já ia mal das pernas antes e não estava se ajustando, mas esperavam que, com Sampaoli como técnico, fossem conseguir resultados melhores, o que não aconteceu. De fato, as expectativas eram bastante altas quando o argentino foi anunciado como novo treinador. A torcida se encheu de esperança.
Nos primeiros jogos, Sampaoli até mudou um pouco a dinâmica da equipe e conseguiu bons resultados, mas a alegria durou pouco. Logo depois, o rendimento do time voltou a cair.
A avaliação geral é de que são mais pontos negativos do que positivos nessa segunda passagem do treinador pelo clube. A impressão passada é que Sampaoli é um bom técnico quando tem os jogadores que quer, mas que não sabe se adaptar a uma equipe. E o Sevilla tem jogadores que não coincidiam muito com o estilo do Sampaoli, que não soube tirar proveito deles. Pediu mais contratações, mas não as fizeram.
A saída de Sampaoli foi aprovada pela maioria dos torcedores, que estavam desiludidos e não acreditavam que era possível conseguir mais vitórias sob esse comando.
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