Como Bolsonaro usou a passagem discreta dos presidentes de Flamengo e Vasco pelo GDF para alimentar a guerra fria política com o Rio

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Rio à parte, Brasília e Espírito Santo são os planos A e B de Flamengo e Vasco para o retorno aos treinos. Mais unidos do que nunca pela volta aos gramados — e na contramão das campanhas pelo isolamento social no dia em que o país quebrou recorde com 1.179 mortes em 24 horas — os arquirrivais se reuniram discretamente nesta terça-feira com o governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha e com a secretária de Esporte e Lazer do DF, Celina Leão, ambos rubro-negros assumidos. O blog apurou que o encontro foi reservado no Palácio do Buriti. Além do apoio do GDF para treinos na capital, os cartolas pretendiam inspecionar centros de treinamentos e hotéis da cidade. Motivo: a realização de uma espécie de pré-temporada na capital do país. Mas a agenda (quase) secreta vazou.

Os mandatários rubro-negro Rodolfo Landim e cruz-maltino Alexandre Campello pretendiam passar despercebidos pela sede do governo local. No entanto, o presidente da República Jair Bolsonaro soube da presença dos cartolas na cidade e pediu que a caranava desse uma passadinha no Palácio do Planalto para almoçar.

Por sinal, não é a primeira vez que o Chefe de Estado abre as portas do gabinete para receber (e vestir) a camisa rubro-negra. Em fevereiro, o blog abordou a estreita relação entre o Flamengo e Bolsonaro antes da final da Supercopa do Brasil contra o Athletico-PR. Os dirigentes jamais esconderam a simpatia política pela atual gestão.

Ao receber a caravana de Flamengo e Vasco, Bolsonaro não desperdiçou a oportunidade de alfinetar o governador e desafeto do Rio, Wilson Witzel (PSC); e o prefeito da Cidade Maravilhosa Marcelo Crivella (Republicanos). Favoráveis ao isolamento social, ambos são contra treinamentos e a retomada do Campeonato Carioca a essa altura da guerra contra a covid-19. Contrário à quarentena, Bolsonaro segue em campanha pelo retorno do futebol em todo o país. Chegou, inclusive, a dizer a apoiadores, na porta do Palácio da Alvorada, que Brasília estava trazendo a final do Estadual (o regulamento do Carioca não permite que a decisão do Estadual seja fora do Rio), avisou que torceria pelo Botafogo e viu o rubro-negro Ibaneis Rocha convidar o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Heleno Nunes, para assistir a um possível jogo do Flamengo com ele no camarote do Mané Garrincha. A arena recebe um hospital de campanha.

Nas reuniões em Brasília, o Flamengo reclamou que a prefeitura do Rio torce o nariz até para trabalhos de fisioterapia no Ninho do Urubu — o centro de treinamento rubro-negro em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio. Há duas semanas, Flamengo e Vasco assinaram documento favorável ao retorno do Estadual. Botafogo e Fluminense discordaram, numa clara divisão entre os quatro gigantes do futebol brasileiro. Há divisão também entre os times de médio e pequeno porte.

A secretária de Esporte do DF Celina Leão recebe camisa customizada do Flamengo após encontro com Ibaneis Rocha e os cartolas. Foto: Instagram/Celina Leão

Flamengo e Vasco pediram apoio aos rubro-negros Ibaneis Rocha e Celina Leão para a realização de treinos em CT’s. Há preferência pelos pontos de apoio dos eventos oficiais da Fifa realizados na capital, como as Copas das Confederações (2013), do Mundo (2014), torneios de futebol masculino e feminino dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 e Mundial Sub-17 (2019). Os CT’s do Brasiliense, do Gama, Real Brasília e o Centro de Capacitação Física dos Corpo de Bombeiros são os destinos prediletos. Os dois clubes também esperam apoio para transporte, hospedagem e alimentação.

Flamengo e Vasco contam com a ajuda do GDF para fechar acordos nesta semana. Daí a visita a Bolsonaro. O presidente tem linha direta com o Buriti. Uma fonte disse ao blog que Brasília é o plano A. O B é o Espírito Santo. O Estádio Kléber Andrade, em Cariacica, está na mira. Há possibilidade de arena que recebeu o Mundial Sub-17 e também serviu de apoio a seleções em eventos da Fifa abrigar hospital de campanha. Os dirigentes dos dois clubes não descartam visitas e negociações com outras cidades.

Se conseguirem “asilo” em Brasília, Cariacica ou outra cidade, Flamengo e Vasco pretendem fretar avião, fechar hotel e migrar para a cidade escolhida com elencos e comissões técnicas completas para a temporada. Cogitam até levar as famílias para o local escolhido, como fez, por exemplo, a Seleção Brasileira, em Sochi, na Copa do Mundo da Rússia. Recentemente, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios recomendou que Brasília não receba partidas do Carioca enquanto a pandemia não estiver sob controle.

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Marcos Paulo Lima

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