Lucas Figueiredo Das 92 vagas, 80 virão das federações na temporada de 2024. Foto: Lucas Figueiredo/CBF Das 92 vagas, 80 virão das federações na temporada de 2024. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Como a CBF tenta agradar a gregos e troianos ao mudar regras de classificação para Copa do Brasil

Publicado em Esporte

Em tempos de discussões sobre a criação de uma liga nacional para o Campeonato Brasileiro e o risco iminente de enfraquecimento dos estaduais, a CBF agiu com discrição para fortalecer as competições mais questionadas do calendário ao anunciar nesta terça-feira mudanças na distribuição de vagas para o torneio mais rentável organizado pela entidade: a Copa do Brasil.

 

A partir de 2024, o Ranking Nacional de Clubes perderá valor para o Ranking Nacional das Federações na distribuição de senhas para o mata-mata nacional. Pela regra atual, 10 clubes têm acesso ao torneio via ranking, ou seja, uma espécie de blindagem a camisas grandes do futebol brasileiro que não conseguem se classificar via estaduais, torneios regionais como as copas do Nordeste e Verde e não tinham vaga para a Libertadores. A presença era garantida graças ao ranking. É o caso do Santos nas últimas duas temporadas, por exemplo. Em tese, o Peixe e tantos outros tiram vagas de federações. Portanto, o plano da CBF aliada às 27 filiadas é colocar os clubes tradicionais contra a parede e praticamente obrigá-los a levar a sério os torneios domésticos sob pena de pagarem o mico de ficar fora da Copa do Brasil. Simples assim.

 

Na edição de 2022, por exemplo, Santos, Goiás, Vitória, Coritiba, Ponte Preta, Paraná, Guarani, Criciúma, Brasil de Pelotas e Oeste participaram do torneio via ranking nacional. Atalho confortável como esse não existirá mais a partir da próxima temporada. A CBF deixa um recado nas entrelinhas.

 

Os clubes de ponta do país usam cada vez mais times reservas e/ou alternativos nos estaduais a fim de priorizar sonhos de consumo maiores como a própria Copa do Brasil, a Libertadores e torneios regionais como a Copa do Nordeste, todos disputados paralelamente no primeiro semestre. O resultado tem sido a diminuição do interesse pelas partidas dos torneios “raiz” do futebol brasileiro. Com a nova regra, repito, time grande arrisca ficar fora da Copa do Brasil.

 

Atual distribuição de vagas

  • 70 para representantes das federações
  • 12 para classificados diretamente à terceira fase
  • 10 vira Ranking Nacional de Clubes da CBF

Como será em 2024

  • 80 para representantes das federações
  • 12 para classificados diretamente à terceira fase

 

Em 2021, por exemplo, o Santos não se classificou para a fase de mata-mata do Paulistão. Pior: terminou a competição em 12º lugar, uma das piores na história do clube. Pela nova regra de acesso à Copa do Brasil, o Peixe não teria vaga na competição. As senhas pertenceriam aos seis melhores colocados. Quem tivesse vaga por outro torneio passaria ao clube seguinte na classificação final do Paulistão e assim sucessivamente. O Santos volta a ser beneficiado na próxima edição. Ficou fora do mata-mata no Paulistão, mas surfou na onda do ranking e disputará a Copa do Brasil em 2023.

 

O Campeonato Goiano é outro exemplo prático. Vice da Copa do Brasil em 1990, o Goiás foi eliminado do Estadual pelo Atlético-GO há dois anos nas quartas de final. Logo, dificilmente disputaria a Copa do Brasil em 2022. No entanto, foi salvo pelo ranking nacional de clubes. Estava dentro da nota de corte e, consequentemente, conseguiu disputar o mata-mata.

 

Com as mudanças na Copa do Brasil, a CBF tenta agradar gregos e troianos. O Ranking Nacional das Federações passa a ter peso maior na definição das vagas. Federações mais bem posicionadas na lista terão direito a mais bilhetes. São Paulo e Rio de Janeiro seis cada uma; Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná (5)’; Ceará, Goiás, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Mato Grosso, Pará e Maranhão (3) e os demais, incluindo o DF, apenas duas.

 

A CBF tenta ganhar dos dois lados. Continua apoiando as ideias dos clubes na criação da liga, uma dívida de campanha do presidente Ednaldo Rodrigues na relação institucionais com os clubes para chegar ao poder, mas também fortalece ainda mais os laços com as federações. Afinal, vale lembrar, as 27 unidades da federação têm mais peso no colégio eleitoral do que os clubes. Funciona assim desde 2017: as federações têm peso 3, os 20 clubes da Série A peso 2 e os outros 20 da segunda divisão peso 1. Logo, as federações, por si só, elegem um presidente.

 

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