COB x CBF: Legado das eras Nuzman e Teixeira, treta da roupa olímpica resiste desde Atlanta-1996

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A treta parece nova, mas é antiga e não por isso deselegante. A guerra entre as marcas fornecedoras de material esportivo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na conquista do bicampeonato contra a Espanha no último sábado, em Yokohama, é uma herança das eras Carlos Arthur Nuzman e Ricardo Teixeira. A polêmica já quebrou protocolo olímpico em Atlanta-1996 e fez até parte de uma negociação para não prejudicar a candidatura do Rio de Janeiro a sede dos Jogos de 2016. Dessa vez, o COB pretender cobrar a CBF na Justiça pelo fato de os jogadores não terem utilizado o agasalho da chinesa Peak, parceira do COB. Patrocinada pela Asics, por exemplo, a Seleção feminina de vôlei usou a roupa do COB no pódio ao receber a medalha de prata.

Em Atlanta-1996, a CBF cumpria os últimos dias do contrato com a Umbro. A fornecedora inglesa de material esportivo havia vestido a Seleção na campanha do tetra na Copa dos Estados Unidos. No entanto, a roupa do Time Brasil nos Jogos Olímpicos era de grife concorrente: a Reebok. O ápice do atrito aconteceu na decisão da medalha de bronze.

O time liderado por Mário Jorge Lobo Zagallo goleou Portugal por 5 x 0 e ficou com o terceiro lugar. Um suposto acordo entre a Fifa, presidida à época pelo sogro de Ricardo Teixeira, João Havelange, e o Comitê Olímpico Internacional (COI), liderado à época por Juan Antonio Samaranch, antecipou a entrega do prêmio ao Brasil. O correto seria a Seleção receber a medalha no dia seguinte a final entre Argentina e Nigéria. Afinal, as decisões do ouro e do bronze foram no mesmo estádio e cidade — Athens, a 114km de Atlanta.

Teixeira disse não teve nada a ver com a vergonhosa entrega antecipada da medalha de bronze à Seleção em 2 de agosto e não no dia seguinte, como manda o figurino. Fez cara de surpreso, mas foi desmentido antes da decisão do terceiro lugar. Antes de o jogo entre Brasil e Portugal começar os alto-falantes do estádio anunciaram que, em caso de vitória brasileira, a premiação seria feita após o jogo e, na hipótese da vitória lusa, somente no dia seguinte. O Brasil, vestido à época pela inglesa Umbro, goleou Portugal por 5 x 0 e não precisou vestir o uniforme oficial do COB, que à época usava Reebok. O time de Zagallo recebeu a medalha antecipadamente e deixou o espaço reservado ao terceiro lugar no pódio vazio na premiação da final.

Em 2008, a polêmica foi sobre o escudo da CBF. A entidade queria mantê-lo e fez queda de braço com o COI. Pelas normas, somente o escudo de cada comitê olímpico nacional ou símbolos como a bandeira ou o nome do país são permitidos. Nem a Intervenção da Fifa deu jeito. O Brasil chegou a estrear com a logomarca da CBF contra a Bélgica, mas recuou contra a Coreia do Sul depois de uma acordo político entre os presidentes do COB e da CBF.

À época, o Brasil pleiteava receber os Jogos Olímpicos de 2016. Nuzman convenceu Teixeira de que a teimosia em utilizar o escudo poderia prejudicar a candidatura do país no colégio eleitoral. Para não ser acusado de atrapalhar os planos olímpicos do Brasil, Teixeira, que já tinha a organização da Copa do Mundo de 2104 assegurada — teve de ceder, mesmo contra sua vontade. Até jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Hernanes entraram na pilha em defesa da utilização do escudo da CBF nos Jogos de Pequim.

Eliminado pela Argentina na semifinal, o Brasil disputou o terceiro lugar contra a Bélgica. Ganhou e passou por certo constrangimento no pódio. Os jogadores usavam uma camisa da CBF na premiação ao lado da bicampeã Argentina e da vice Nigéria, mas o escudo da entidade máxima do futebol brasileiro estava coberto com esparadrapo.

O futebol participou dos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e Rio-2016, mas não houve treta com uniforme por um motivo simples: a Nike vestiu o Time Brasil nas duas edições. Dessa vez, o COB acertou com a chinesa Peak e viu os bicampeões olímpicos ignorarem a roupa na premiação. Além de publicar nota de repúdio, o COB acionará a CBF na Justiça.

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Marcos Paulo Lima

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