Faça o que eu digo… A Confederação Brasileira de Futebol vai propor aos clubes no Conselho Técnico desta sexta-feira, no Rio, limite de apenas uma troca de técnico na Série A, mas a entidade máxima do futebol nacional deveria ser a primeira a dar exemplo. Nesta quinta-feira, a CBF anunciou mais uma troca de comando na Seleção Sub-20 — a décima no século levando em conta competições oficiais. Carlos Amadeu está demitido após o fracasso no Sul-Americano da categoria disputado no Chile. O país está fora do Mundial pela terceira vez em seis anos. Foi vice-campeão em 2015 e não participou em 2013, 2017 e 2019.
O projeto da CBF para a base continua sendo triturar treinadores. Levantei quantos técnicos diferentes a Seleção Sub-20 teve no século nas competições oficiais, ou seja, Sul-Americano e Mundial Sub-20. O número é assustador: 11 treinadores diferentes — incluindo o próximo — ocuparam o cargo no período de 2001 a 2019 — média de uma troca a cada um ano e oito meses. Assim, não há filosofia de trabalho e principalmente de jogo que saia do papel. Osmar Loss e André Jardine são os favoritos a herdar a prancheta.
O entra e sai de técnicos na base é um reflexo da Seleção principal. Tite é o sexto treinador diferente desde 2001. Antes dele, passaram pelo cargo: Emerson Leão, Luiz Felipe Scolari (duas vezes), Carlos Alberto Parreira, Dunga (duas vezes) e Mano Menezes. Para se ter uma ideia desse absurdo, a Alemanha teve 10 técnicos distintos de de 1908 a 2019. Tite é o primeiro a permanecer no cargo depois da Copa desde Cláudio Coutinho, em 1978.
A dança das cadeiras na Seleção Sub-20 começou com Carlos César em 2001. Na sequência, passaram pelo cargo em competições oficiais Marcos Paquetá, Renê Weber, Nelson Rodrigues, Rogério Lourenço, Ney Franco, Emerson Ávila, Alexandre Gallo, Rogério Micale e o demitido Carlos Amadeu. Ganhar títulos e se classificar para o Mundial parece muito mais importante do que estabelecer e desenvolver um plano de trabalho integrado entre a base e o profissional. Quando não se conquista títulos e/ou vagas, demite-se o técnico e o projeto vai para o ralo.
Cadeira elétrica
Técnicos da Seleção Sub-20 no século – Torneios oficiais
Carlos César (2001)
Marcos Paquetá (2003)
Renê Weber (2005)
Nelson Rodrigues (2007)
Rogério Lourenço (2009)
Ney Franco (2011)
Emerson Ávila (2013)
Alexandre Gallo e Rogério Micale (2015)
Rogério Micale (2017)
Carlos Amadeu (2019)
No tempo em que era organizada, a Argentina deu uma lição nas divisões de base. O técnico José Pékermann assumiu a missão em 1994. Em parceria com Hugo Tocalli e Eduardo Urtasun, Implantou o chip dele na Seleção Sub-20. Além de formar uma série de grandes jogadores, Pékerman empilhou títulos e consolidou uma era dourada. Conquistou o título do Campeonato Sul-Americano Sub-20 em 1997, 1999 e 2001 e foi vice em 1995. Faturou o troféu do Mundial em 1995, 1997 e 2001. A série de troféus continuou quando o técnico foi promovido ao cargo de coordenador de seleções e deixou encaminhada a conquista inédita da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004. Marcelo Bielsa era o treinador da esquadra sub-23.
A CBF precisa rever o sucesso da era Pékerman na Argentina, entender o que levou o Brasil ao Brasil a picos de sucesso recentemente e aprender muito com o que está sendo feito na Europa. Afinal, as últimas três seleções campeãs do Mundial Sub-20 são do Velho Continente: França (2013), Sérvia (2015) e Inglaterra (2017). Alguma coisa acontece do outro lado do Oceano Atlântico e precisa ser investigado por um trabalho série na base da CBF. Demitir técnicos, interromper trabalhos, é simplesmente agir como os clubes de futebol do país.