Fernando Diniz queria muito trabalhar com Antony na Seleção. Afinal, o técnico foi um dos responsáveis pela guinada na carreira do atacante na passagem pelo São Paulo. Sob o comando dele, a cria tricolor fez seis gols, deu cinco assistências e convenceu o Ajax a pagar 15,75 milhões de euros pelo ponta na janela de transferências europeia de 2020. O técnico interino da Seleção extrapolou ao dar mais peso às quatro linhas do que ao extracampo na convocação. Errou ao minimizar o Caso Antony, mas consertou o dano antes tarde do que nunca.
Diniz não foi surpreendido. No anúncio dos 23 nomes, ele havia sido questionado sobre a suposta violência doméstica de Antony contra a ex-namorada Gabriela Cavallin. Minutos antes de tirar Lucas Paquetá da lista devido a denúncias de participação do meia em manipulação de resultados, ele agiu de maneira diferente com o ponta do Manchester United e o preservou temendo fazer juízo de valor.
“É uma coisa ainda muito incipiente. Por ora, o que eu sei é isso, de uma acusação. Eu vou parar por aí. Não vou ficar discorrendo sobre esse assunto porque é tudo muito pouco para falar agora. Eu vou falar uma vez só. Todo mundo que comete alguma coisa errada tem que pagar por aquilo que comete. Mas a gente não tem que ficar levantando essas questões o tempo todo, só porque alguém levantou. Espera os órgãos competentes para apurar esse tipo de coisa”, disse o técnico da seleção sobre o Caso Antony, em 18 de agosto, na entrevista coletiva depois da convocação.
Os fatos novos apresentados pela reportagem assinada pelos colegas do UOL Beatriz Cesarini e Pedro Lopes nesta terça-feira mostrando provas apresentadas pela acusação no inquérito contra o jogador deixou Diniz, a CBF e Antony acuados desde as 4h da manhã de segunda-feira — horário em que o texto entrou no ar no portal. Treze horas e 24 minutos depois, a entidade máxima do futebol brasileiro publicou nota oficial, às 17h24, comunicando a substituição do atacante por Gabriel Jesus do Arsenal.
“Em função dos fatos que vieram a público nesta segunda-feira (04/09), envolvendo o atacante Antony, do Manchester United, e que precisam ser apurados, e a fim de preservar a suposta vítima, o jogador, a Seleção Brasileira e a CBF, a entidade informa que o atleta está desconvocado da Seleção Brasileira”, disse o comunicado oficial aprovado pelo presidente Ednaldo Rodrigues.
Antony tem carinho por Diniz. Deixou isso claro na entrevista aos colegas Daniel Mudim e Victor Canedo em 2021 no GE. “Dentro de campo, ele cobra, cobra e cobra. Mas fora, é um cara totalmente diferente. Tem resenha, conversa. É um cara muito amigo. Acabei me acostumando quando cheguei. Ele arranca o melhor de você (…). Quando ele chegou (no São Paulo), falei que tinha total liberdade para me cobrar, porque sei que ele quer meu melhor. Me ajudou bastante aqui na Europa. Além de ser um grande treinador, é grande amigo”, afirmou à época.
Amigos de verdade nem sempre passam a mão na cabeça. Chamam à razão. Fernando Diniz e a CBF deveriam ter evitado o desgaste necessário desde o início. Bastava não o convocar neste momento. Não se tratava de bani-lo, mas de preservar a suposta vítima, o jogador e uma entidade marcada por ter afastado um presidente recentemente por assédios sexual e moral.
A nova gestão da CBF e Fernando Diniz precisam entender que elaborar uma convocação vai muito além de uma caneta, um pedaço de papel e o microfone. É preciso olhar com lupa o comportamento fora das quatro linhas. O mundo mudou. Não se empurra mais nada para baixo do tapete. Simples assim. Certo ou por linhas tortas o Caso Antony muda para sempre o processo seletivo da Seleção. A sociedade está de plantão atenta ao “nada consta”.
Twitter: @marcospaulolima
Instagram: @marcospaulolimadf
TikTok: @marcospaulolimadf