Acredite se quiser. Rogério Micale conseguiu. Seis meses depois de levar o Brasil ao inédito ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, o técnico não classificou a Seleção para o Mundial Sub-20 da Coreia do Sul. O time de David Neres, Lyanco, Guilherme Arana, Felipe Vizeu e companhia foi incapaz de derrotar a Colômbia neste sábado, na ultima rodada do hexagonal final do Sul-Americano: 0 x 0. Na preliminar, a Argentina venceu a Venezuela, por 2 x 0, e colocou pressão na equipe vereda-amarela. Equador, Uruguai e Venezuela já estavam classificados. A Argentina ficou com a última das quatro vagas do continente. Os hermanos secaram o Brasil de camarote no estádio, em Quito. No fim, o olho grande deu certo e os arquirrivais ficaram com a quarta senha para o Mundial. Recordista de títulos continentais na categoria, o Brasil termina em quinto lugar — pior posição no atual formato.
É a terceira vez que o Brasil não se classifica para o Mundial Sub-20 — a segunda em cinco anos. A Seleção ficou fora do torneio em 1979, 2013 e 2017. Em 2015, sob o comando de Rogerio Micale, o Brasil foi vice-campeão na Nova Zelândia ao perder a decisão do título para a Sérvia. A campanha no Sul-Americano do Equador foi marcada pela irregularidade e o desleixo do time nos últimos minutos do segundo tempo. No confronto direto com a Argentina, por exemplo, vencia por 2 x 1 e garantia classificação antecipada para o Mundial até sofrer o gol de empate nos acréscimos e ressuscitar a Argentina no torneio.
Nos bastidores, há quem diga que o assédio dos clubes europeus aos jogadores da Seleção fez com que o elenco perdesse o foco no Sul-Americano Sub-20. David Neres foi vendido ao Ajax durante a competição. Lyanco sofre assédio para deixar o São Paulo. Caio Henrique, do Atlético de Madri, é pretendido por clubes maiores do Velho Mundo. A safra é fraca. O principal jogador da categoria, Gabriel Jesus, queimou etapas e já está na Seleção principal. Malcom não foi liberado pelo Monaco. Além disso, as mudanças táticas de Rogério Micale e a troca de peças durante o torneio deixaram o time inseguro. Houve erros graves na defesa, inclusive com barração de goleiro. Apagões inaceitáveis, como na estreia contra o Equador no hexagonal — empate por 2 x 2 quando vencia por 2 x 0 e cedeu dois penaltis bobos aos donos da casa. A lateral direita foi um problema durante toda a competição. Sem contar a altitude e a péssima qualidade do gramado na primeira fase — a bem da verdade, problemas comuns a todas as 10 seleções que participaram do Sul-Americano Sub-20 do Equador.
Na minha modesta opinião, não é o caso de derrubar Rogério Micale, de mudar tudo. Longe disso. Se fizer isso, a CBF vai cometer um erro grave. Fabian Coito, técnico do Uruguai, trabalha as seleções de base celeste desde 2003. É preciso apostar na continuidade. Essa garotada que fracassou no Equador precisa ser reciclada para tentar dar a volta por cima nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 se o Brasil se classificar no Sul-Americano Sub-20 de 2019. Vale a lição: Rogério Micale precisa rever alguns dos seus métodos, conceitos, escolhas. Em certos momentos, falta convicção, excesso de mudanças táticas e de peças, opção por jogadores altos, pesados, sem mobilidade para dar leveza e velocidade ao time.
Além da anfitriã Coreia do Sul, estão classificados para o Mundial Sub-201 16 países. Pela América do Sul, Uruguai, Equador, Venezuela e Argentina. A Europa qualificou Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Portugal. A Ásia levará ao torneio Irã, Japão, Arábia Saudita e Vietnã. A Oceania, Nova Zelândia e Vanuatu. Faltam oito vagas para completar as 24 seleções, sendo quatro da África e outras quatro das Américas do Norte, Central e região do Caribe.
Resumindo: Venezuela, Vietnã e até Vanuatu está na Copa. O Brasil, não!