Brasiliense x Real Brasília: entenda por que a final inédita inaugura uma nova ordem no Candangão

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Calouro na final, o Real (E) empatou por 1 x 1 com o Brasiliense no turno. Foto: Júlio César Silva/Real Brasília

 

A decisão inédita do Candangão entre Brasiliense e Real Brasília deve inaugurar uma nova ordem. O espaço para o amadorismo é cada vez menor. Os candidatos ao título têm um modelo administrativo parecido. São bancados por empresários. Funcionam quase como sociedades anônimas do futebol. Ambos fogem do modelo arcaico do futebol brasileiro. Têm donos. As decisões partem da cabeça deles e de mais ninguém. Dificilmente falta dinheiro na conta. Por falar em grana, o campeão receberá R$ 1 milhão. O prêmio só é inferior aos R$ 5 mi do Paulistão.

 

Conquistas na pindaíba como as do Sobradinho, em 2018; e o bicampeonato do Gama em 2019 e 2020, são cada vez mais exceções à regra. Mais sorte do que juízo! Alguns jogadores campeões por esses times foram explorados, deram taças a esses times e não receberam um tostão por isso. Lutam até hoje para receber meses trabalhados. Clubes sem o mínimo de organização para honrar compromissos estão condenados a virar ioiô ou a desaparecer do mapa da bola.

 

A nova ordem do Candangão inclui o Capital. Eliminado pelo Brasiliense, o time conclui o torneio na quarta posição. Atrás do surpreendente Paranoá. O campeão da segunda divisão em 2021 fica à espera de um milagre. A posição estratégica permite sonhar com uma vaga à Série D de 2024 caso um representante candango suba para a C nesta temporada. O Capital também é bancado por um empresário. Chegou às semifinais nas últimas duas edições. A tendência é que Brasiliense, Real Brasília e Capital sejam cada vez mais dominantes. O recém-filiado Canaã é outro candidato a deixar agremiações tradicionais da cidade para trás.

 

Os novos tempos devem afetar, inclusive, o ranking de títulos. Se for campeão neste ano, o Brasiliense ficará a um troféu de igualar o recorde do combalido Gama. Colecionador de 13 taças domésticas, o Alviverde tenta se reestruturar depois do imbróglio causado pela crise entre SAF e SEG. Os novos gestores sabem que a única saída é uma administração austera, moderna e colada no maior patrimônio do clube: a torcida carente de partidas no Bezerrão. Ironicamente, o Gama teve desempenhos contraditório nas últimas duas edições. Foi semifinalista como SAF no ano passado e ficou fora do mata-mata como SEG nesta edição. O Ceilândia acena com a possibilidade de virar SAF, porém a procura alvinegra por um mecenas está engatinhando.

 

Como escrevi ao término da primeira fase, o projeto do Real Brasília é uma lição de equidade de gênero para muitos clubes não somente do DF, mas do país. O time de futebol feminino disputa a Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino. É o único representante candango de elite da capital nos torneios da CBF. No masculino, levantou-se rapidamente da queda para a segunda divisão em 2021. Retornou à primeira divisão como vice da segundona e chega pela primeira vez à final nesta temporada. O investimento no departamento de futebol feminino inclusive supera o do masculino.

 

O Brasiliense havia abandonado as categorias de formação. Reativou neste ano. Clube sem base não tem alma. Escrevi isso várias vezes aqui no blog. Os proprietários estudam a fundação de um time feminino. Pode vestir a camisa do próprio Jacaré, do Samambaia ou de algum outro clube vinculado aos tentáculos do proprietário do clube de Taguatinga.  O fato é que a final inédita do Candangão indica uma nova ordem: a do dinheiro. Camisas pesadas estão ficando para trás.

 

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