Houve um tempo em que os brasileiros adoravam dizer que o futebol inglês era chutão pra frente, chuveirinho e gol de cabeça. A Premier League não abre mão dos cruzamentos para a área, óbvio, tem suas recaídas, mas mudou radicalmente. Há beleza, sim, com a bola no chão, belas tramas, golaços com a bola passando de pé em pé e as bolas aéreas passaram a ser apenas mais acessório no rico repertório. O futebol daqui, sim, regrediu. Neste fim de semana, a Série A do Brasileirão conseguiu empatar com a Premier League em número de gols marcados de cabeça. E olha que a rodada das duas competições só acaba nesta segunda-feira.
Fiz um levantamento de quantos gols foram marcados de cabeça neste fim de semana no Campeonato Brasileiro e nas cinco principais ligas nacionais da Europa. Foram seis bolas na rede nesse estilo na Série A e outras seis na Premier League. Sabe quem menos usou a cabeça como ferramenta para o gol neste fim de semana? O Campeonato Italiano. Só um foi assim.
Das nove partidas disputadas neste fim de semana no Brasileirão, cinco tiveram gol de cabeça. Começou no sábado com um de Bruno Alves para o São Paulo e um de Léo Gamalho para a Ponte Preta. Continuou neste domingo com um de Werley para o Coritiba no Atletiba, um de Júnior Dutra para o Avaí na vitória sobre o Sport, um de Roger no triunfo do Botafogo em casa diante do Flamengo e um de Túlio de Melo para a Chapecoense na derrota para o Cruzeiro.
Dos oito jogos da Premier League na sua quarta rodada, cinco tiveram gol de cabeça. Um dos dois gols de Gabriel Jesus foi assim no massacre por 5 x 0 sobre o Liverpool. O Arsenal também balançou a rede uma vez usando a cuca, com Welbeck, nos 3 x 0 sobre o Bournemouth. Hemed fez um gol para o Brighton de cabeça na vitória por 3 x 1 contra o West Brom. O primeiro gol do triunfo do Chelsea no duelo com o Leicester City foi como? De cabeça, com Morata. Stoke City e Manchester United empataram por 2 x 2 com um gol de cabeça para cada lado — um de Moting e outro de Rashford para os Diabos Vermelhos.
Gols de cabeça no fim de semana
6 Campeonato Inglês
- Gabriel Jesus, Welbeck, Hemed, Morata, Rashford e Moting
6 Campeonato Brasileiro
- Júnior Dutra, Roger, Bruno Alves, Túlio de Melo, Léo Gamalho e Werley
3 Campeonato Espanhol
- Piqué, Maxi Gómez e Sergio León
3 Campeonato Alemão
- Finnon, Diallo e Naldo
2 Campeonato Francês
- Dossev e Thuram
1 Campeonato Italiano
- Callejón
Arsenal, Chelsea e Leicester City são os líderes de gols de cabeça na Premier League: três cada um. No Brasileirão, a Chapecoense é o time que mais tem gols de cabeça — 11 no total. O Atlético-MG vem logo atrás com 9 e o Botafogo tem 8. Curiosamente, o Flamengo é o líder em número de cruzamentos para a área, mas só tem seis gols de cabeça. Por sinal, o chuveirinho voltou a ser a principal jogada rubro-negra na derrota para o Botafogo. Sport , Chapecoense, Atlético-MG e Atlético-PR aparecem logo atrás no ranking.
Um campeonato que, historicamente, tem altura para explorar a bola aérea, preferiu jogar com a bola nos pés neste fim de semana. A Bundesliga teve apenas três gols de cabeça, mesma quantidade do Espanhol, que viu até o Barcelona usar a cuca de Piqué. O Francês, que também tem fama de jogadores altos, sobretudo os africanos, só viu dois de cabeça. No Italiano, apenas o Napoli usou o recurso no gol de Callejón diante do Bologna.
A 23ª rodada do Brasileirão mostra que há algo de errado na proposta de jogo dos times da Série A. Cruzar a bola para a área com os pés ou com as mãos nas cobranças de lateral, como virou moda, não pode ser uma proposta de jogo, mas um recurso, uma alternativa. Do contrário, estaremos regredindo no tempo e assumindo a pior versão do Campeonato Inglês. Aquela de um passado bem distante, do tempo do chuveirinho.