Brasil x Bolívia: minha relação afetiva com o Estádio Mangueirão

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Estádio Jornalista Edgard Proença, o Mangueirão, é o palco da estreia do Brasil. Foto: Vitor Silva/CBF

Belém — Parte da minha escolha pela profissão de jornalista esportivo se deve ao estádio Edgar Proença, o popular Mangueirão. Belém é a cidade das mangueiras. Daí o apelido da arena. Sou filho de paraenses. Mamãe Ana Maria e papai Alberto nasceram aqui. Aprendi a gostar de futebol com meu avô Deco e meus tios Adal e Juca. Nasci no Distrito Federal. Brasiliense da gema. Mas as férias eram quase sempre aqui nesse cantinho lindo do nosso Brasil na Região Norte.

Lembro-me de um jogo marcante quando eu era criança. Tio Juca levou-me ao Mangueirão para assistir à semifinal da Série B do Campeonato Brasileiro. O Remo representava o Pará na semifinal contra o Bragantino de… Vanderlei Luxemburgo. A equipe do interior paulista crescia no cenário nacional. Conquistaria o título do Paulistão em 1990 na final caipira contra o Novorizontino de Nelsinho Baptista. Disputaria o título do Brasileirão de 1991 com o São Paulo.

Jamais esqueci daquele Bragantino. Nunca fui apegado ao Remo ou ao Paysandu. Torço pelo sucesso de ambos. Os dois atolados na Série C. Tenho apenas um time de coração. Não vem ao caso o nome dele neste momento. O fato é que o Remo era a esperança do Pará naquela semifinal. Havia passado pelo Itaperuna-RJ nas quartas. Assisti ao jogo do Leão em casa e aderi à onda azulina naquele fim de ano. Mas havia um Luxemburgo no caminho.

Mesmo abarrotado, com gente pendurada no lustre, como diria Nelson Rodrigues, o Remo não conseguiu fazer o resultado em Belém. Aquele time contava com um ponta-direita liso, leve e solto chamado Thiago, o Thiaguinho para a torcida remista. Bagunçava o jogo quando entrava em campo. A criança Marcos Paulo Lima adorava o estilo do jogo dele.

A festa da torcida foi linda. Empurramos o Remo do início ao fim do frustrante 0 x 0. O Bragantino eliminou o Remo nos pênaltis na segunda partida por 4 x 1 depois de um novo 0 x 0. Os donos da casa estavam sob o domínio da família Abi Chedid. Fortíssimos nos bastidores. Mas aquele mata-mata foi resolvido, mesmo, dentro das quatro linhas. Remo e Bragantino eram bons. O Leão ficou pelo caminho e o Bragantino, atual Red Bull Bragantino, conquistou o título na decisão paulista contra o São José e subiram de mãos dadas para a primeira divisão em 1990.

Minhas perambulações na infância pelo futebol raiz do Pará passou também pela Curuzu e o Baenão. Estádios vizinhos da dupla Re-Pa. Basta atravessar a avenida Almirante Barroso e pronto, você chegou no destino de um ou do outro lado da força. Uns quilômetros à frente está a casa da Tuna Luso. O clube paraense de colônia portuguesa tem no currículo título da Série C.

Posso dizer que a minha vida de jornalista esportivo nasceu em Belém. Aqui aprendi a torcer. A escutar jogo no radinho de pilha do avô e dos tios. A volta à pé para a casa porque a carteira do vô Deco havia sido roubada na tumultuada saída do clássico. Nas férias, minha mãe Ana ia até o comércio comprar cartelas e mais cartelas de futebol de botão. Eu customizava todos eles e passava as férias narrando partidas de futebol para quem quisesse ouvir.

Hoje, não irei ao Mangueirão como torcedor. O menino daquele angustiante duelo entre Remo e Bragantino cresceu. Escolheu ser jornalista esportivo. Jamais havia feito uma cobertura como profissional onde o sonho foi semeado. É dia de plantar. Colher o sonho. Vovô Deco já se foi. Sou muito grato a ele pelos momentos de diversão. Aos tios Juca e Adal também. Os estádios de futebol de Belém trazem memórias afetivas. Vou parar de escrever para não chorar. É tempo de escrever a primeira página da era Fernando Diniz na Seleção Brasileira. E quem sabe, o início da saga do hexa. Tudo isso no estádio onde nasceu este jornalista que vos escreve.

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Marcos Paulo Lima

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