O futebol da Seleção Brasileira não arranca suspiros, mas na vitória de virada desta terça contra o Peru reforçou uma virtude que não faltou no segundo tempo da eliminação contra a Bélgica nas quartas de final da Copa da Rússia, mas nem sempre será suficiente: alma. A cada gol sofrido era visível o sangue nos olhos de Tite e, consequentemente, dos jogadores pelo troco, a resposta imediata.
O Peru abriu o placar aos seis minutos. O Brasil pressionou e respondeu aos 28. Os donos da casa marcaram o segundo aos 14 da etapa final. A Seleção igualou novamente cinco minutos depois e dali em diante tomou conta da partida e virou o placar para 4 x 2. Guardadas as devidas proporções, bem diferente da pane geral de dois anos atrás.
Tite tem um trauma. Demorou a reagir contra a Bélgica. Foi para o intervalo daquele jogo, em Kazan, perdendo por 2 x 0. Deixou para reagir na etapa final. Os 45 minutos não foram suficientes. O toma lá dá cá contra o Peru é a demonstração de uma das lições assimiladas pelo treinador e a comissão técnica depois do fracasso na Rússia: é preciso encontrar soluções imediatas diante de um momento de instabilidade — mesmo que a última alternativa seja um time com alma. Contra a Bélgica, nem mesmo o coração valente do time no segundo tempo foi suficiente na tentativa de levar o jogo para a prorrogação.
O Brasil não iniciava as Eliminatórias com duas vitórias desde 2003, no início da caminhada do time de Carlos Alberto Parreira para a Copa 2006. As vítimas à época foram Colômbia e Equador. Desta vez, Bolívia e Peru. Tite mudou uma peça no tabuleiro em relação à estreia, mas mexeu bem. Richarlison entrou no lugar de Everton Cebolinha aberto na direita. Funcionou. A defesa, nada exigida contra a inofensiva Bolívia, teve problemas com o ataque do Peru e sofreu dois gols. Por sinal, o adversário fez quatro gols nos últimos três duelos com o Brasil. É muito quando se trata de Tite. Uma das virtudes do técnico é a capacidade de organizar e blindar a defesa.
O início da caminhada rumo ao Qatar-2022 tem pelo menos duas boas notícias: Renan Lodi na lateral esquerda e Douglas Luiz ao lado de Casemiro no papel de volante. Dali pra frente as ideias de Tite estão claríssimas. Ele quer um quarteto ofensivo. Como uma é do intocável camisa 10 Neymar, quatro jogadores disputam três vagas: Roberto Firmino, Everton Cebolinha, Richarlison e Gabriel Jesus.
Os 64 gols de Neymar com a amarelinha
Como?
49 com pé direito, 12 com pé esquerdo, 3 de cabeça
Posição
32 na grande área, 13 de pênalti, 11 na pequena área, 4 de falta, 4 do fora da área
Maior garçom
Daniel Alves, 4 assistências
Maior vítima
Japão, 8 gols sofridos
Danilo não mostrou que podemos começar a esquecer Daniel Alves. Gostaria de ver a dupla de zaga do ouro olímpico formada por Rodrigo Caio e Marquinhos começando a partida, mas Tite preferiu substituir o zagueiro do PSG pelo do Flamengo no segundo tempo.
Neymar marcou três gols, mas o hat-trick não implica dizer que ele foi individualista e muito menos que jogou para ultrapassar os 62 gols de Ronaldo na perseguição ao Pelé. O dono da camisa para o time e aproveitou as três chances que teve: converteu dois pênaltis e foi oportunista no lance do terceiro gol. Com 64, está a 13 dos 77 do Rei. Neymar nada de braçada numa Seleção sem concorrentes à altura do talento do camisa 10.
Houve um tempo em que a Seleção Brasileira contava com repertório farto. Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Kaká, Adriano, Fred, Robinho, Cafu e Roberto Carlos, por exemplo, participaram das Eliminatórias para a Copa 2006. Havia concorrência de altíssimo nível. Neymar é soberano desde a estreia com a amarelinha, em 2010. O dono do pedaço. Sem dúvida, contribui com a impressionante coleção de gols do Neymar.
Só há um detalhe: a obrigação de conquistar um título importante — diga-se a Copa do Mundo — continuará perseguindo a carreira de Neymar. Três dos cinco maiores artilheiros da Seleção conseguiram: Pelé, Ronaldo e Romário. Zico não conseguiu em três participações. Aos 28 anos, Neymar terá, no mínimo, mais duas pela frente em 2022 e 2026.
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