Pia Sundhage teve 23 dias de trabalho antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo Feminina contra o Panamá nesta segunda, em Adelaide. O mesmo tempo de preparação da Espanha de Vicente Del Bosque na campanha do título inédito da Fúria na versão masculina do torneio na África do Sul, em 2010. Assim como o colega, a técnica sueca não desperdiçou o longo período de treinos cada vez mais raro das seleções no futebol de alto rendimento.
O Brasil se impôs contra o Panamá. Sim, as adversárias são frágeis. Estreantes. Tiveram de passar pela repescagem contra Papua Nova Guiné e Paraguai, mas passaram. Estão na Copa pela primeira vez. Tudo isso é verdade. Fato também a dificuldade de algumas potências contra seleções teoricamente acessíveis. Citemos a França, por exemplo: empatou sem gols com a Jamaica na primeira rodada. A Inglaterra sofreu horrores contra o Haiti.
A Seleção se exibiu com um sistema de jogo tradicional, mas moderno na execução. A configuração 4-4-2 de Pia lembra times históricos dela como os Estados Unidos do bicampeonato olímpico em Pequim-2008 e Londres-2012, vice da Copa do Mundo em 2011 ou a Suécia medalhista de prata nos Jogos do Rio-2016. Todas trabalhadas nesse formato.
A faceta moderna do sistema tático está no modelo agressivo de jogo. O Brasil não deixou o Panamá respirar desde o início da partida. Tomou o campo defensivo das adversárias com sete ou até oito jogadoras. O plano era implodir o ferrolho o mais rapidamente possível. Ignacio Quintana montou o Panamá como esperado, no modelo 5-4-1.
Um dos erros dos ingênuos equívocos do Panamá foi a preocupação excessiva com Debinha e a parceira de ataque dela, Bia Zaneratto. Esqueceram das pontas Ary Borges e Adriana. Ambas têm facilidade para trabalhar pelas pontas, como exige Pia, mas também são boas finalizadoras. Sabem se posicionar nas costas da zaga à espera dos cruzamentos das laterais. Foi assim em Brasília na goleada por 4 x 0 contra o Chile na despedida rumo à Copa. Aquele triunfo também começou a ser costurado pelos lados do campo.
A movimentação do Brasil confunde totalmente as panamenhas. Em vez de flecha, Debinha vira arco. É dela a assistência para Ary Borges abrir o placar e sair chorando. Lágrimas da primeira maranhense a balançar a rede pela Seleção em uma Copa do Mundo. Iluminada, Ary Borges fez o segundo, o quarto depois do passe de Geyse. E foi solidária ao servir Bia Zaneratto no lance do terceiro gol. Uma exibição espetacular da artilheira isolada da Copa.
O Brasil teve posse de bola de 73% posse de bola contra 27% do Panamá. Foram 32 finalizações contra seis das adversárias. Uma superioridade esmagadora e inquestionável. Vale ressaltar o seguinte: quando o Panamá se soltou um pouinho, tirou o sistema defensivo do Brasil na zona de conforto. Como a Seleção foi pouco agredida, fica a curiosidade sobre qual será o comportamento contra a França no sábado.
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