Brasil 2 x 4 Senegal Vinicius Junior lamenta o gol contra de Marquinhos. Foto: Patricia de Melo Moreira/AFP Vinicius Junior lamenta o gol contra de Marquinhos. Foto: Patricia de Melo Moreira/AFP

Brasil 2 x 4 Senegal: espera por Ancelotti será longa, desgastante e traiçoeira

Publicado em Esporte

A derrota para Senegal nesta terça-feira, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, era tudo o que a cúpula da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não queria. Afinal, o vazamento da espera por Carlo Ancelotti até junho de 2024 havia agradar mais “gregos” do que “troianos”. O feedback era positivo. Vencer ou no mínimo empatar daria um tom blasé ao resultado. Só que não. O segundo revés em três jogos depois do sétimo lugar na Copa deixa um alerta na passagem de bastão da Era Tite para Ancelotti. Vítima de uma Seleção sem pé nem cabeça, Ramon Menezes definitivamente não é o nome para tocar a transição. Sugeri no post anterior a entrega temporária da prancheta a Clarence Seedorf. As razões estão lá.

 

O Brasil não perdia por 4 x 2 desde 1997. Mário Jorge Lobo Zagallo comandava a Seleção no amistoso disputado em Oslo um ano antes da Copa do Mundo da França. Taffarel era o goleiro. Remanescente da comissão técnica de Tite, virou preparador dos arqueiros.

 

Ramon Menezes tem a favor o título no Sul-Americano Sub-20 no início do ano. Contra, a eliminação diante de Israel nas quartas de final do Mundial Sub-20 e as derrotas para Marrocos e Senegal — atual campeão da Copa Africana de Nações. A goleada por 4 x 1 contra Guiné é inócua. O amistoso não valeu sequer pela esforçada campanha contra o racismo. Afinal, houve racismo contra um membro do staff de Vinicius Junior.

 

Ramon Menezes não é o cara menos por culpa dele, mais pelo que fizeram com ele. O profissional estava quieto no cantinho dele trabalhando nas divisões de base. De uma hora para outra, se viu divido entre meninos e homens com direito a viagem bate-volta Argentina-Brasil-Argentina para convocar a Seleção principal e retornar ao torneio juvenil. Como trabalhar em paz em uma casa desorganizada?

 

O presidente da CBF Ednaldo Rodrigues deixa Lisboa sob pressão. Os pares dele ficaram contentes com a sinalização de Ancelotti. Questionavam apenas o tempo sem técnico. Muitos deles consideram um ano tempo demais. A derrota para Senegal fortalecerá os argumentos da turma do contra e Ednaldo terá de ser firme na convicção.

 

Sugeri no post anterior Clarence Seedorf como elo entre Carlo Ancelotti e a Seleção enquanto o italiano não vem. Empilhou títulos sob o comando dele. Sabe como o Milan jogava. Conhece as ideias. Fala português. Jogou no Brasil com a camisa do Botafogo. Rodou o Brasil com a camisa alvinegra. Conhece o calendário insano do nosso futebol. Esteve no vestiário com jogadores brasileiros. Conhece os bons e os maus hábitos.

 

A CBF perdeu tempo. Escrevi no blog mais de uma vez. Tite anunciou a saída do cargo em fevereiro de 2022 em entrevista ao colega Marcelo Barreto no programa Redação SporTV. Lá se vão 14 meses. A cúpula da entidade teve tempo para se programar. Elaborar o planejamento para a Copa de 2026 independentemente do que acontecesse em 2022. No entanto, jogou tempo fora. Vem aí mais um ano de desperdício até que Carlo Ancelotti assuma o cargo e use a varinha de condão para transformar o Brasil na Copa América.

 

Enquanto isso, o Brasil vê o sistema defensivo, ponto forte da Era Tite, derreter. São sete gols marcados e sete sofridos em três amistosos contra Marrocos, Guiné e Senegal. É grave a crise. às vésperas das Eliminatórias. Uma seleção sem pé nem cabeça iniciará a caminhada rumo à Copa do Canadá, México e Estados Unidos. São seis jogos oficiais (Bolívia, Peru, Venezuela, Uruguai, Colômbia e Argentina) além de dois amistosos (Espanha e um duelo a definir) até o aguardado desembarque do salvador da pátria Carlo Ancelotti em terra nostra.

 

Supersticiosos de plantão recorrem ao passado para sustentar que nenhum técnico campeão da Copa do Mundo precisou do ciclo completo para levar o Brasil aos cinco títulos mundiais. Eles só omitem outras curiosidades. A superstição na escalação de Bernard com a camisa 20 — a mesma de Amarildo em 1962 — não impediu o 7 x 1. Jamais um técnico estrangeiro levou uma seleção ao título da Copa do Mundo. Há argumento para tudo. Em último caso, essa crise não existiria se a Seleção fechasse para balanço até ter um técnico.

 

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