DC297ABD-1D65-4993-BE04-B37E8A7B452B Darwin Núñez destruiu o Brasil com um gol de cabeça e uma assistência. Foto: Vitor Silva/CBF Darwin Núñez destruiu o Brasil com um gol de cabeça e uma assistência. Foto: Vitor Silva/CBF

Bielsa não precisou ser “loco” para domar um Brasil sem pé nem cabeça

Publicado em Esporte

Há uma partida simbólica na carreira de Fernando Diniz. Voltemos a 29 de setembro de 2019. Rio de Janeiro. O técnico estreia no São Paulo simplesmente contra aquele Flamengo liderado pelo Jorge Jesus, no Maracanã, pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro. Não havia tempo para fazer o download do dinizismo. O treinador renunciou ao estilo autoral no primeiro jogo, limitou-se a negociar o resultado, teve até oportunidade de vencer, mas ganhou um ponto contra um adversário embalado por uma sequência de 10 vitórias consecutivas dentro de casa. Faltou um pouco daquele Diniz pragmático na derrota para o Uruguai de Marcelo Bielsa.

 

É raro, mas Fernando Diniz pisou em ovos contra aquele Flamengo. Foi cauteloso. Deu o devido respeito ao adversário e surpreende. A expectativa da torcida tricolor era por derrota para um mandante que começava a encantar. No fim das contas, o empate sem gols teve sabor de vitória.

 

Em tese, a implementação do dinizismo contra Bolívia, Peru e Venezuela era aceitável. O duelo contra o Uruguai era diferente. Logo, exigia um planejamento distinto depois do bug no sistema na Arena Pantanal, em Cuiabá, no empate por 1 x 1 contra a Venezuela. Houve um alerta de que o aplicativo estava travando e demandava uma solução alternativa contra o Uruguai. Pisar em ovos no Centenário como naquele início de processo do São Paulo contra o Flamengo.

 

Fernando Diniz não aceitou deixar de ser Fernando Diniz por 90 minutos em um clássico e perdeu. Marcelo Bielsa abriu mão de ser El Loco por um jogo e venceu. O Uruguai não exibiu nada de encantador, mas teve organização, paciência e contundência para domar o Brasil. Para ser explícito, a Celeste desfrutou de um camisa 9 capaz de fazer gol e dar assistência. O Brasil usou três centroavantes nesta Data Fifa. Gabriel Jesus, Richarlison e Matheus Cunha foram improdutivos.

 

Darwin Núñez usou a cabeça para abrir o placar depois do cruzamento de Maxi Araújo. O meia esquerda aproveitou-se da desorganização do lado direito do sistema defensivo canarinho, ganhou do zagueiro Marquinhos na corrida e o centroavante só abaixou o corpo para finalizar sozinho, livre de marcação, dentro da área do Brasil. No segundo tempo, o atacante do Liverpool ganhou uma disputa de bola na linha de fundo de dois marcadores do Brasil, serviu Nicolás de la Cruz no lance do segundo gol e consolidou a vitória contra um adversário no mínimo confuso.

 

O Brasil estava mal com Neymar e piorou sem ele. Culpa, sim, de Fernando Diniz. O técnico errou na escolha do substituto do camisa 10. Enquanto o único fora de série da turma deixava o campo em lágrimas com suspeita de torção no joelho e suspeita de rompimento ligamentar, o treinador optava pela entrada de Richarlison em vez de recorrer ao meia especialista Raphael Veiga.

 

O dinizismo não quis renunciar as convicções. Se Neymar era uma espécie de “falso 10”, o substituto dele na função de armador também tinha que ser um jogador postiço. Rodrygo e Gabriel Jesus ser revezaram na armação e simplesmente não deu certo. Vinicius Junior não chamou o jogo para si, Rodrygo acertou a bola no travessão em uma bela cobrança de falta e o técnico da Seleção acumulou cinco substituições equivocadas e totalmente ineficazes.

 

Esperava-se muito de Vinicius Junior nesta Data Fifa, porém é preciso ponderar. Ao aglomerar Neymar, Rodrygo e Carlos Augusto na esquerda no tradicional estilo autoral de colocar o máximo de jogadores em volta da bola, Fernando Diniz sufocou o atacante do Real Madrid. Houve uma espécie de congestionamento, um engarrafamento no setor. A Seleção não andou e se entregou.

 

Depois de liderar as Eliminatórias por 29 rodadas na Era Tite, o Brasil ocupa o terceiro lugar na caminhada rumo à Copa de 2026. Das 10 seleções, seis irão direto ao primeiro Mundial com 48 países. O sétimo terá direito a uma repescagem. É quase impossível a Seleção não participar da festa. A questão é como chegará lá depois do balaio de gato criado pela CBF. O Brasil está saindo do titismo para o dinizismo enquanto espera pelo ancelotismo. Alguém achou que seria fácil…

 

Louco não é Marcelo Bielsa, mas quem planejou o início de ciclo de Copa do Mundo mais confuso da Seleção desde o início da caminhada rumo ao penta. Naquele período, o Brasil teve quatro técnicos diferentes: Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Émerson Leão e Luiz Felipe Scolari. A CBF retomou o projeto do hexa sob o comando de Ramon Menezes, delegou a prancheta ao interino Fernando Diniz e espera pelo técnico italiano do Real Madrid. Carlo Ancelotti trata a possível vinda para o país como rumor.  Natural que seja assim pelo menos até a virada do ano.

 

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