Doha — Quando a seleção é fraca, um bom técnico compensa. A Arábia Saudita entrou em campo para enfrentar a Argentina nesta terça-feira com status de uma das piores da Copa do Mundo Fifa Qatar-2022. No entanto, conta com uma espécie de gênio da lâmpada à beira do campo. Ninguém dá nada por ele, mas o francês Hervé Renard tem história na periferia da bola.
Aos 54 anos, o técnico responsável pela virada da Arábia Saudita contra a Argentina no Lusail Stadium levou a modesta Zâmbia ao título da Copa Africana de Nações em 2012. Superou nos pênaltis a badalada Costa do Marfim, com Didier Drogba em campo e tudo. Três anos depois, virou a casaca e guiou os Elefantes à glória no principal torneio do continente.
Coube a ele o papel de domar uma das favoritas ao título, pilhar a torcida saudita e transformar Doha um pedacinho de Riad. O país é vizinho do Catar. Tem fronteira terrestre. Daí a invasão ao estádio e o barulho ensurdecedor na entrada da seleção em campo, na execução do hino nacional, nos gols de Al-Shehri e Al-Dawsari e a cada defesa do heroico goleiro Al-Owais no triunfo por 2 x 1, o quarto em participações da Arábia Saudita na Copa do Mundo. Antes, só havia derrotado Marrocos e Bélgica, ambos em 1994, e o Egito, na edição passada.
O Catar é o dono da casa, investiu um dinheirão para receber o torneio, mas a Arábia Saudita parecia a anfitriã. Foi mais ativa do que os proprietários da festa na derrota para o Equador na partida de abertura. Os sauditas empurraram a Arábia como se estivesse ali, dentro do campo.
E pensar que uma goleada se desenhou no primeiro tempo. Lionel Messi abriu o placar em cobrança de pênalti perfeita. Tirou o goleiro Al-Owais da foto. O adversário viraria um dos vilões no segundo tempo. A Argentina balançou a rede três vezes na etapa inicial, duas com Lautaro Martínez e uma com Messi, mas o VAR acusou irregularidade corretamente nos três lances.
No segundo tempo, entrou em cena o gênio da lâmpada. Hervé Renard partiu para cima da Argentina como se não houvesse amanhã. A torcida comprou a briga. Aos cinco minutos, a Arábia Saudita Al-Shehri empatou a partida e deu início a uma operação tempestade no deserto contra o exército de Lionel Scaloni. Empatou a partida e silenciou a fanática massa argentina.
Dois minutos depois, o camisa 10 Salem Al-Dawsari protagonizou o inacreditável: a virada. Um golaço livrando-se do marcador De Paul foi concluído com um chute certeiro no canto esquerdo de Emiliano Martínez para decretar uma das maiores zebras da história das Copas.
O sonho é real. A Arábia Saudita pode voltar a disputar as oitavas de final da Copa do Mundo. Isso aconteceu apenas uma vez, em 1994, nos Estados Unidos. Os triunfos contra Marrocos e Bélgica levam o país ao mata-mata contra a Suécia. Incrédulo, Lionel Messi inicia a turnê do adeus ao torneio como jamais imaginava. Há histórico de seleção derrotada na estreia que bateu campeã. A Espanha levou a taça na África do Sul depois de começar perdendo para a Suíça. A questão é: a Argentina precisa jogar mais bola e seus principais atletas não estão bem fisicamente. Di María e Messi, principalmente. Se a dupla não está 100%, Lautaro sofre.
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