Trabalhos de excelência do técnico Luiz Felipe Scolari são lembrados por inesquecíveis duplas de ataque. Jairo Lenzi e Soares no Criciúma campeão da Copa do Brasil em 1991. Paulo Nunes e Jardel no Grêmio vencedor da Libertadores em 1995. Paulo Nunes e Zé Alcino no bi no Brasileirão em 1996. Paulo Nunes e Oseas na conquista continental do Palmeiras em 1999. Rivaldo e Ronaldo no penta do Brasil na Copa de 2002. A campanha do Atlético no segundo turno tem a assinatura de um par perfeito.
A vitória do Atlético por 3 x 0 contra o Flamengo pode ser explicada pelo resgate da dupla de ataque em tempos de pontas abertos e um centroavante fixo na área (4-3-3) ou da linha de três atrás de um homem de referência isolado dentro da área (4-2-3-1). Felipão pulverizou o adversário, no Maracanã, recorrendo a velhos rabiscos táticos. Tite deveria conhecê-los, interpretá-los e tratar o duelo como um jogo diferente em vez de tentar impor um estilo.
Estava claro desde a vitória do Atlético-MG contra o Grêmio — também por 3 x 0 — que o meio de campo do Galo formado por Zaracho, Otávio, Edenílson e Igor Gomes ganharia as batalhas contra Thiago Maia, Gerson e Arrascaeta. Tite deveria estar vacinado pela eliminação na Copa contra a Croácia. Estava escrito que Modric, Brozovic e Kovacic determinariam o ritmo daquele duelo válido pelas quartas de final e engoliriam Casemiro, Lucas Paquetá e Neymar. Na prática, apenas dois deles são habituados a combater. Logo, a Croácia teria dois contra três. Mesmo assim, Tite não renunciou a um dos pontas para comprar briga no meio de campo.
Guardadas as devidas proporções, Felipão fez o mesmo. A ideia era envolver o Flamengo a partir do setor de criação. Se Tite pensou diferente, errou. Descompactado e perdido diante da movimentação do quarteto de meias alvinegros, o time carioca não viu a cor da bola no primeiro tempo. Ficou na roda justamente devido à carência de bons marcadores. Nem mesmo a ideia de avançar as linhas e pressionar no campo do adversário funcionou no início do primeiro tempo.
Não demorou para o Galo controlar o jogo no meio de campo e minar o Flamengo aos poucos usando as conexões de um truque cada vez mais em extinção no futebol: a dupla de ataque. Há cumplicidade entre Hulk e Paulinho. Humildade também de parte a parte.
Protagonista do Triplete em 2021 nas conquistas do Mineiro, Copa do Brasil e Brasileiro, Hulk aceita numa boa o papel de coadjuvante, garçom do artilheiro isolado da Série A. No lance do primeiro gol, recua como se fosse um meia e assume o papel de flecha. A belíssima assistência nas costas do lateral-direito Matheuzinho é a melhor definição de par perfeito. Os vascaínos vão lembrar, por exemplo, dos links entre Evair e Edmundo na conquista do Brasileirão de 1997.
Um dos equívocos do plano de jogo rubro-negro foi não cortar as conexões entre Hulk e Paulinho. Dos 89 gols do Galo na temporada, 58 foram marcados pela dupla, o equivalente a 65%. Houve dupla, mas também jogo em equipe. Como diz o próprio Tite, o coletivo potencializa o individual. A dedicação dos homens de meio campo fez a diferença nos outros dois gols, um de Edenílson e outro de Rubens em uma noite de tributos ao 4-4-2 e à dupla de ataque. O Flamengo até tem a dele, mas Bruno Henrique e Gabriel Barbosa andam divorciados da bola.
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