Sim, o futebol também foi tema do compositor e escritor Aldir Blanc Mendes, que morreu de Covid-19 na madrugada desta segunda-feira no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio. Você conhece o Aldir de O Bêbado e a Equilibrista em parceria com João Bosco na voz de Elis Regina. Rolou mais de uma tabelinha entre os dois para tratar um pouquinho sobre o esporte mais popular do mundo.
E que tabelinhas! Em tempos de Árbitro de Vídeo, o contestado VAR na sigla em inglês, a música Gol Anulado consegue juntar o talento de dois gênios — Aldir Blanc e João Bosco — e os dois dois clubes mais populares do país: Flamengo e Vasco. Um gol de placa em nome da música brasileira.
Destaco meu trecho predileto da letra:
“(…) Eu aprendi que a alegria
De quem está apaixonado
é como a falsa euforia
De um gol anulado”
Mas Gol Anulado também marcou gol contra ao fazer alusão à violência contra a mulher. Recebeu críticas por retratar a decepção de um homem ao descobrir, depois de três anos vivendo juntos, que a parceira era torcedora do arquirrival Flamengo.
“(…) Quando você gritou mengo
No segundo gol do Zico
Tirei sem pensar o cinto
E bati até cansar”
Aldir Blanc era vascaíno. Inclusive escreveu o livro Vasco — a Cruz do Bacalhau numa tabelinha literária com o jornalista e historiador José Reinaldo Marques.
É de Aldir Blanc e João Bosco a música De Frente Pro Crime. A primeira fase da canção virou bordão do locutor esportivo Januário de Oliveira: “Tá lá um corpo estendido no chão”. O narrador usava a expressão quando um jogador desabava no gramado durante uma partida.
A música Linha de Passe cita o craque Garrincha e usa expressões do futebol como “rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau”, “quebra outro nariz, na cara do juiz Quebra outro nariz, na cara do juiz; “fique na banheira, ou jogue pra torcida feliz da vida”. Sem contar a expressão linha de passe.
Outra música bacana de ouvir é Incompatibilidade de Gênios. A letra começa falando em futebol: “Dotô, jogava o Flamengo, eu queria escutar, chegou, mudou a estação, começou a cantar. Tem mais, um cisco no olho, ela em vez de assoprar, sem dó, falou que por ela eu podia cegar”.
O futebol também foi tema na Copa do Mundo. A tevê Globo encomendou o hit Coração verde amarelo. Ele compôs em parceria com Luiz Otávio de Melo Carvalho, o Tavito, e o single foi a sensação da conquista do tetra nos EUA, em 1994. Tavito morreu no ano passado por complicações de um câncer no pescoço.
“Peço desculpas aos que têm me procurado hoje. Não tenho condições de falar. Aldir foi mais do que um amigo pra mim. Ele se confunde com a minha própria vida. A cada show, cada canção, em cada cidade, era ele que falava em mim. Mesmo quando estivemos afastados, ele esteve comigo. E quando nos reaproximamos foi como se tivéssemos apenas nos despedido na madrugada anterior. Desde então, voltamos a nos falar ininterruptamente. Ele com aquele humor divino. Sempre apaixonado pelos netos. Ele médico, eu hipocondríaco. Fomos amigos novos e antigos. Mas sobretudo eternos. Não existe João sem Aldir. Felizmente nossas canções estão aí para nos sobreviver. E como sempre ele falará em mim, estará vivo em mim, a cada vez que eu cantá-las. Hoje é um dos dias mais difíceis da minha vida. Meu coração está com Mari, companheira de Aldir, com seus filhos e netos. Perco o maior amigo, mas ganho, nesse mar de tristeza, uma razão pra viver: quero cantar nossas canções até onde eu tiver forças. Uma pessoa só morre quando morre a testemunha. E eu estou aqui pra fazer o espírito do Aldir viver. Eu e todos os brasileiros e brasileiras tocados por seu gênio”
João Bosco – 04/05/2020
Siga o blogueiro no Twitter: @mplimaDF
Siga o blogueiro no Instagram: @marcospaul0lima
Siga o blog no Facebook: https://www.facebook.com/dribledecorpo/