Vitoria Cenas da desmoralização do Vasco em São Januário na derrota por 3 x 0 para o Vitória. Foto: EC Vitória Cenas da desmoralização do Vasco em São Januário na derrota por 3 x 0 para o Vitória. Foto: EC Vitória

As contas do “perrellismo” e do “euriquismo” chegaram de forma cruel para Cruzeiro e Vasco

Publicado em Esporte

Condenados a continuar na Série B em 2022, Vasco e Cruzeiro estão coladinhos na classificação da segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Separados por um ponto. Nono e décimo colocados, respectivamente. Parece, mas não é mera coincidência. Trata-se da materialização daquele clichê profético: “um dia a conta chega”. Chegou com requintes de crueldade para os dois clubes.

Cruzeiro e Vasco viraram o século como potências do futebol brasileiro. Duelaram nas oitavas de final da Libertadores de 1998. Protagonizaram uma das semifinais da Copa João Havelange em 2000 – o Brasileirão da época. O time carioca conquistou o título contra o São Caetano. Três anos depois, a equipe celeste arrematou a tríplice coroa: Estadual, Copa do Brasil e Brasileiro.

Os títulos escondiam problemas administrativos. Administrações arcaicas comandadas por símbolos de uma era. Os irmãos Perrella no Cruzeiro e Eurico Miranda no Vasco. Houve um tempo em que falar desses dirigentes era pecado. O perrellismo e o euriquismo representavam sistemas de governo intocáveis. Ai de quem os criticavam.

Em vez de modernizar gestões, as duas administrações personalistas aproveitaram os benefícios dos títulos para conquistar votos. Especificamente cadeiras no Congresso Nacional. Na esteira dos títulos dos anos 1990, entre eles o Brasileiro de 1997 e a Libertadores em 1998, Eurico Miranda teve dois mandatos de deputado federal de 1995 a 2003. No segundo, foi pedida a cassação dele. O cartola teria promovido evasão de divisas. Atuava paralelamente no Vasco.

Zezé Perrella também aproveitou o trampolim do Cruzeiro. Saltou de deputado estadual para federal e depois senador no período de 2011 a 2019. Suplente, herdou o cargo do ex-presidente e então senador Itamar Franco, que morreu há em 7 de junho de 2011. A carreira política coincide com títulos expressivos do Cruzeiro como a Libertadores de 1997, a tríplice coroa de 2003 e o bicampeonato brasileiro de 2013 e 2014. Nadava de braçada entre os torcedores.

Eurico e Perrella supostamente trabalhavam em Brasília pelos interesses de Vasco e Cruzeiro, mas também reforçavam a bancada da bola, uma espécie de tropa de choque do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, nas batalhas pelos interesses da entidade no Congresso Nacional.

Os tentáculos do perrellismo e do euriquismo travaram Cruzeiro e Vasco. Davam a falsa impressão aos apaixonados pelos clubes de que tudo funcionava perfeitamente. Só que não. O coronelismo fez mal. Deixou como legado clubes destruídos tecnicamente, financeiramente e moralmente. Em vez de títulos, os dois times passaram a protagonizar escândalos e vexames.

O Vasco disputará a Série B do Campeonato Brasileiro pela quinta vez em 2022. Antes, caía, mas rapidamente retornava à Série A. Agora, não mais. Amargará dois anos consecutivos na segunda. Rebaixado em 2019, o Cruzeiro seguirá no purgatório pelo terceiro ano seguido.

O legado das duas administrações é terrível. Quem tenta romper com o passado político de Cruzeiro e Vasco parece condenado a afundar ainda mais o clube. Há resistência interna a mudanças. E assim dois gigantes do futebol nacional, que ostentam juntos oito títulos no Campeonato Brasileiro, caminham com passos de formiga e sem vontade na Série B.

E pensar que, um dia, Zezé Perrella profetizou na interminável guerra de vaidades com o cartola vascaíno: “O Eurico irá fazer um grande favor a todos os brasileiros quando deixar o Vasco. Ele pensa que pode fazer o que quiser no futebol brasileiro, provando que não tem responsabilidade nenhuma. Daqui a pouco, até mesmo os torcedores vascaínos não vão mais aguentar o Eurico”, atacou. O tempo provou que ambos eram dois lados de uma mesma moeda.

 

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