Argentina ensina o Brasil a valorizar o que esnobou no início do século

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A Argentina curte uma fase que o Brasil esnobou. Em 2002, a Seleção conquistou o penta na Copa contra a Alemanha e foi bicampeão da Copa América em 2004 e em 2007, ambas com triunfos sobre o maior rival. Demos de ombros para os títulos continentais como se nada valessem.

Havia sempre depreciações do tipo: “Era o “time B do Parreira” no gol do Adriano e triunfo nos pênaltis contra os hermanos. A “seleção horrorosa do Dunga” nos 3 x 0 contra Riquelme, Messi e companhia. Todos tiveram méritos, mas o esforço para desqualificar as conquistas prevalecia.

Prepotentes, miramos nos elefantes nos Mundiais e nos esquecemos de formigas trabalhadoras como o gigante adormecido Uruguai, a Colômbia, a Venezuela e o Equador. A Seleção está atrás de todas elas nas Eliminatórias para a Copa de 2026 no Canadá, Estados Unidos e México.

Merece a Copa América quem a deseja. A Argentina quis muito em 2021, no Brasil, e em 2024, nos EUA. Com a vitória por 1 x 0 contra a valente Colômbia, volta a ganhar duas edições consecutivas como em 1991 e em 1993. Há uma diferença: pela primeira vez uma seleção sul-americana ganha Copa América, Copa do Mundo e Copa América em sequência nessa ordem. A Espanha havia sido a última a cumprir esse mesmo roteiro ao erguer a Euro em 2008, a Copa em 2010 e a Euro novamente em 2012.

Mais do que Lionel Scaloni e o elenco, o povo argentino celebra o ciclo de glórias. Nossos vizinhos foram às ruas pela quarta vez em quatro anos comemorar a Copa América em 2021, a Finalíssima e a Copa do Mundo em 2022, e a Copa América novamente em 2024. No fim do ano, enfrentarão a Espanha, campeã da Euro, em mais uma Finalíssima. Uma catarse para um país cansado até pouco tempo dos 29 anos de abstinência no período de 1993 a 2021.

Mais do que taças, a Argentina festeja heróis. Messi, o maior deles, não conseguiu terminar o jogo depois de sofrer duas lesões. A mais grave o levou às lágrimas. O tornozelo direito virou uma bola de tão inchado. O jogador eleito oito vezes número 1 do mundo chorava sentado no banco de reservas como criança. Um reflexo da autocobrança por excelência — isso falta a uma geração blasé da Seleção. No fim das contas, a Copa América serviu para o camisa 10 curtir o processo de maradonização depois de tirar a seleção do jejum e iniciar a série de conquistas.

Di María deu adeus à camisa albiceleste como sonhou: campeão. O cara do título continental em 2021, do triunfo na Finalíssima diante da Itália em Wembley, do tricampeonato na Copa ao marcar o primeiro gol no duelo com a França e do bi olímpico em Pequim-2008 dessa vez deu aula de resistência ao suportar 117 minutos de jogo no tempo regulamentar e na prorrogação.

Costumo dizer que a Argentina conta com um Messi em campo e outro nas traves. Dibu Martínez tem a manha de intimidar. As principais peças da Colômbia respeitaram o goleiro. Havia demanda por finalizações precisas e isso pesava demais na construção e nas conclusões das jogadas.

Há mais heróis no meio de campo. Que aula do volante De Paul. Admirável atuação do discreto Mac Allister. Boa entrada de Nico González no lugar de Messi. Melhor ainda a intervenção do trio Paredes, Lo Celso e Lautaro Martínez no gol do título. Os três saíram do banco de reservas e tramaram a jogada consumada pelo gol do artilheiro isolado da Copa América: Lautaro foi às redes seis vezes. Saiu do banco de reservas em quatro partidas para mudar  o resultado.

Lautaro é lição de comprometimento. Jogador de grupo. Soube esperar (até demais) o momento dele. Respeito total pelo colega Julián Álvarez e pela opção tática do técnico Scaloni. Compreensão da necessidadee do diferencial do bom concorrente: a polivalência nas demandas do plano de jogo. Por essas e outras razões a Argentina é a família Scaloni.

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Marcos Paulo Lima

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