Brazil v Costa Rica - CONMEBOL Copa America USA 2024 O sentimento de derrota da Seleção depois do empate com a Costa Rica. Kevork Djansezian/Getty Images via AFP O sentimento de derrota do Brasil depois do empate com a Costa Rica. Kevork Djansezian/Getty Images via AFP

Ansiosa na estreia, Seleção precisa de uma sessão de Divertida Mente 2

Publicado em Esporte

O filme Divertida Mente 2 trata sobre um dos males do nosso tempo: a ansiedade. A personagem principal, Riley, é uma jogadora de hóquei no gelo aprendendo a lidar com a gestão das emoções na transição da infância para a adolescência. A psicóloga da Seleção, Marisa Santiago, deveria providenciar uma sessão para os jogadores na Copa América. Muitos deles deixando de ser meninos sob a pressão de virar homens a toque de caixa em um torneio oficial. O Brasil treinou 25 dias para a estreia na competição continental contra a Costa Rica, mas o ataque de pânico diante de um adversário programado apenas para se defender minou as ideias de Dorival Júnior no SoFi Stadium, em Los Angeles. As reações dos jogadores no apito final foram de desespero, como se aquilo representasse uma eliminação. Impressionou.

 

Futebol não se restringe a 25 dias de treino. É preciso estar bom da cabeça. Mentalmente preparado para lidar com a dificuldade. Faltou inteligência emocional ao técnico e a quase todos os jogadores em campo. Forçando a barra, Rodrygo teve cabeça fria. Lucidez para tentar evitar o terrível empate por 0 x 0 contra a Costa Rica. A Seleção repetiu o empate sem gols com o Equador na primeira rodada da Copa América Centenário em 2016 nos EUA. Coincidentemente, com Neymar na plateia sentado na arquibancada com os parças nos dois episódios. Há oito anos, os “borthers” era m até mais famosos: Jamie Foxx, Justin Bieber e Lewis Hamilton foram com ele à época ao Rose Bowl, em Pasadena, na segunda era Dunga.

 

Vamos ao diagnóstico da ansiedade. Lucas Paquetá está sob investigação. Nos bastidores, fala-se em punição severa devido ao suposto envolvimento com apostas. Certamente o meia troca informações diárias com advogados, o estafe dele, em busca de informações sobre o possível fim da carreira dele em caso de banimento. Trata-se de um excelente jogador. O meia teve boa atuação, porém o corpo não obedece a um cérebro focado em um grave problema pessoal.

 

A crise de ansiedade de Vinicius Junior diz respeito ao protagonismo. Há sobre ele a pressão de assumir o papel de Neymar depois de fazer dois gols de título do Real Madrid na Champions League e figurar entre os concorrentes ao prêmio de melhor do mundo. O Brasil inteiro cobra isso dele. O próprio Vini também. Normal. Romário, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Kaká, Neymar e tantos outros eram desafiados a mostrar com a camisa da Seleção o futebol exibido em times de ponta do Velho Continente.

 

Dorival Júnior também teve crise de ansiedade. O que justifica tirar Vinicius Junior do time? Sim, ele não fazia uma grande partida, mas divide com Rodrygo o protagonismo do Brasil na Europa, ambos com a camisa do Real Madrid. Sacá-lo para a entrada de Savinho foi uma grave precipitação do técnico. A Costa Rica não agredia. Melhor seria abrir mão de volante.

 

Savinho fez uma bela temporada no Girona no Campeonato Espanhol. Ajudou o clube catalão a se classificar para a Liga dos Campeões da Europa. Não é mau jogador, longe disso, mas entrou ansioso. Errou na definição dos lances. Em vez de finalizar, tentou servir. Em vez de servir, finalizou bisonhamente, quase acertando a bandeirinha de escanteio.

 

Aos 17 anos, Endrick lida com a pressão externa para que ele vire titular. Luta contra a ansiedade para que isso aconteça logo. “Só Deus e Dorival sabem quando isso vai acontecer”, afirmou em uma entrevista antes da Copa América. Ele não conseguiu repetir o poder de decisão das partidas contra Inglaterra, Espanha e México pelo segundo jogo consecutivo.

 

O Brasil criou outras oportunidades, porém pecava na finalização ou no último passe justamente devido à angústia de tentar definir o lance e se livrar da possibilidade de 0 x 0.  Foram 19 finalizações. A maioria fora do alvo. Outro dado impressionante sobre a agonia da Seleção. Como um time com 74% de posse de bola pode ter cometido 13 faltas contra 10 da Costa Rica? Sim, a marcação alta é uma explicação, mas é preciso ter cuidado ao ser agressivo.

 

A ansiedade irrita inclusive o torcedor no estádio ou na poltrona de casa. Culpa do ano jogado fora com tantas indecisões. O presidente Ednaldo Rodrigues sabia que Tite deixaria o cargo antes de ser eleito. Empurrou a decisão com a barriga até a eliminação contra a Croácia. Quando todos esperavam uma decisão rápida, o dirigente travou. Sonhou com Carlo Ancelotti, improvisou Ramon Menezes, contratou o interino Fernando Diniz, desistiu do italiano ao vê-lo renovar com o Real Madrid e entrou a prancheta a Dorival Júnior cinco meses antes da disputa da Copa América. Assumiu em 8 de janeiro e tem cinco jogos!

 

Poucos treinadores conseguem entregar um time pronto em competição de alto nível em tão pouco tempo. Dorival Júnior teve 25 dias, mas faltam mecanismos de jogo. Não existe engrenagem, movimentos, flexibilidade tática, recursos para desatar nós. O Brasil jogou no limite da capacidade contra Inglaterra e Espanha, e incapacidade para superar as retrancas do México e dos Estados Unidos nos últimos amistosos. O problema se repetiu. A Costa Rica de Gustavo Alfaro minou o Brasil na base do posicionamento.

 

A ansiedade da estreia precisa ser tratada para os dois jogos mais difíceis da fase de grupos. A Colômbia estreou vencendo. Se derrotar a Costa Rica, pode antecipar a classificação para as quartas de final e colocar o Brasil numa fria contra o Paraguai e a própria Colômbia na última rodada. O segundo colocado pode enfrentar o Uruguai precocemente nas quartas de final. O confronto direto com a seleção de James Rodríguez, Luis Dias e companhia pode até mesmo repetir o desfecho de 2016, quando uma derrota para o Peru mandou a Seleção de volta para casa na primeira fase do torneio continental. Bata na madeira.

 

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