O Vasco tem excelente acompanhamento da saúde mental na comissão técnica de todas as divisões do clube, da base ao profissional. A psicóloga Maira Ruas é responsável por esse trabalho que nem sempre é suficiente para bater metas. O Vasco precisava vencer o Sampaio Corrêa dessa quinta-feira para confirmar o acesso à Série A sem depender de uma combinação de resultados. A ansiedade levou o time à derrota e frustrou a torcida no único revés em São Januário em toda a campanha nesta edição da segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
À exceção do ótimo Andrey Santos, mais uma vez decisivo em uma partida importante, os garotos formados no clube sentiram o peso do jogo. Não amarelaram, longe disso, mas foram vítimas da ansiedade. O estádio ficou lotado à espera do encerramento de mais um calvário, porém o time não conseguiu. Nem mesmo os experientes Nenê e Alex Teixeira foram capazes de manter os nervos de um time jovem — 27,7 anos era a média da escalação inicial — na partida mais importante do clube na temporada.
A equipe cruz-maltina iniciou a partida com quatro jovens da base: Marlon Gomes, Andrey Santos, Figueiredo e Eguinaldo. Os quatro são bons jogadores. Porém, há jogos que exigem um time cascudo. O duelo decisivo contra o Sampaio Corrêa era um deles. Havia uma missão: vencer e tirar dos ombros sem ajuda alheia o fardo de duas temporadas seguidas na Série B.
Era o momento, por exemplo, de Nenê chamar a responsabilidade. Esperava mais do excelente meia-atacante de 41 anos. O zagueiro Anderson Conceição, 33, fez seu papel ao abrir o placar e, em tese, dar tranquilidade para o time jogar. No entanto, o time não segurou a adrenalina.
Pilhado pela torcida e contestadas escalações e mudanças do técnico Jorginho, o Vasco aparentava jogar bem no segundo tempo, só que não. O time atacava muito mais na base da empolgação do que de maneira organizada. A opção de Palácios no lugar de Yuri Lara foi uma faca de dois gumes: fortaleceu a construção, mas deu espaço ao Sampaio Corrêa. O técnico apostou na resolução do duelo no primeiro tempo e o tiro saiu pela culatra.
Um erro de Nenê, justamente de quem não se espera, e outro do goleiro Thiago Rodrigues no gol de Pará, do meio da rua, fizeram o Sampaio Corrêa gostar do jogo. O lance deixou a torcida bolada. As entradas de Yuri e Gabriel Pec, mais uma cria da base, deram a falsa impressão de que o Vasco resolveria a partida a qualquer instante. O enredo esteve longe de ser esse.
O Sampaio Corrêa virou o placar brincando dentro da área do Vasco. Em um lance de Catatau e Gabriel Poveda, o artilheiro da Série B aproveitou rebote do goleiro Thiago Rodrigues e estufou a rede diante de um Andrey Santos frouxo na marcação. O volante compensou ao empatar a partida de cabeça. Gerou clima de alívio em São Januário. Aparentemente, estava salvando um pontinho precioso na corrida pelo acesso.
Quando o jogo parecia novamente sob controle, outra falha individual deixou a torcida em pânico. Edimar falhou no cruzamento crucial do Sampaio Corrêa para dentro da área no último lance da partida. Desatento, marcou a bola e não Joécio, que se projetou nas costas dele para marcar o terceiro gol do Sampaio Corrêa e decretar a derrota do Vasco em São Januário.
As cenas de desespero, aflição e angústia posteriores ao apito final representam o trauma de uma torcida cansada de sofrer. Os vascaínos estavam prontos para uma festa, não para o clima de velório em São Januário. Depois de desperdiçar a chance de subir por conta própria, resta torcer para que Londrina e Ituano empatem hoje, e o Sport não vença o Operário-PR. Se o Ituano vencer, disputará uma vaga para a Série A em confronto direto na última rodada. Nesse caso, o Vasco teria a vantagem do empate no duelo marcado para a casa do adversário.
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