Casos na AFA e RFEF motivam Ronaldo a pedir supervisão da Fifa na eleição da CBF

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Pré-candidato à presidência da Confederação Brasileira de Futebol, Ronaldo Nazário de Lima se inspira em casos negativos ocorridos recentemente nas eleições da Real Federação Espanhola (RFEF) e da Associação de Futebol Argentina (AFA) ao pedir a fiscalização do processo na CBF. Aclamado por unanimidade no pleito de 2022, e com mandato assegurado até 2026 após homologação de um acordo no Supremo Tribunal Federal na última sexta-feira, Ednaldo Rodrigues pode abrir a disputa pelo cargo para o qual pretende se reeleger a partir de 23 de março. O vencedor nas urnas comandará a entidade no quadriênio de 2027 a 2030.

Em campanha pelo apoio de quatro federações e de quatro clubes das séries A ou B para inscrever a chapa, como determina o estatuto da entidade máxima do futebol brasileiro, o Fenômeno teme pela falta de lisura e enviou carta aos presidentes da Fifa, da Conmebol, da CBF, das federações e dos clubes das séries A e B cobrando transparência.

Recentemente, a Fifa e a Uefa tiveram de intervir no processo eleitoral de dois países campeões do mundo: Espanha e Argentina. Dono do Valladolid, do qual tenta se desfazer para evitar conflito de interesses, Ronaldo acompanhou de perto o processo na Real Federação Espanhola de Futebol. Um dos motivos do supervisionamento eram as travas para a inscrição de chapas na corrida pela sucessão de Luis Rubiales.

Nomeados representantes da Fifa e da Uefa, os diretores Emilio García Silvero e Angelo Rigopoulos ameaçaram tirar da Espanha o direito a receber a Copa do Mundo de 2030. No fim das contas, houve três candidatos. Rafael Louzán superou Salvador Gomar no voto. Sergio Merchán desistiu de concorrer na última hora. Em 2020, o ex-goleiro Iker Casillas anunciou candidatura à presidência da Federação Espanhola, mas desistiu depois de enfrentar extrema resistência por parte dos dirigentes justamente por não um deles, ou seja, tratar-se de um ex-jogador tentando invadir a seara dos cartolas. Oficialmente, ele atribuiu o recuo ao momento político e social do país à época da pandemia.

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Em 2017, a Fifa e a Conmebol tiveram de intervir no pleito da AFA por causa de mudanças no estatuto na definição de quem seriam os responsáveis pela definição de habilitação dos candidatos. Havia uma bola dividida entre o Colégio de Advogados de Buenos Aires e o Comitê de Ética da Conmebol sobre qual órgão realizaria os testes de idoneidade. No fim das contas, o crivo ficou nas mãos da entidade sul-americana.

Dois anos antes, uma tentativa de eleger o sucessor de Julio Grondona foi manipulada. O colégio eleitoral tinha 75 habilitados a votar, porém a apuração registrou empate de 38 x 38 entre Marcelo Tinelli e Luis Segura, ou seja, alguém havia votado duas vezes. Posteriormente, o atual presidente da AFA, Hector Tapia foi eleito e reeleito por aclamação, sem adversários.

O pré-requisito para oficializar a candidatura é ter o apoio de quatro das 27 federações vinculadas à CBF e de quatro dos 20 clubes das séries A ou B no ano da eleição. No entanto, não há disputa entre dois candidatos desde a ascensão de Ricardo Teixeira ao poder nas eleições de 1989. Historicamente, as federações apoiam o candidato da situação.

Entre as reivindicações de Ronaldo estão a definição de uma data para a eleição com um mês de antecedência e as supervisões da Fifa e da Conmebol para a garantia do “tratamento isonômico das partes e a preservação da estabilidade institucional”, diz.

Na prática, a Fifa e a Conmebol dificilmente se manifestarão publicamente sobre a insatisfação de Ronaldo com as regras do pleito. Se houver, a resposta pode ser enviada protocolarmente ao Fenômeno. Em tese, a segurança jurídica foi retomada depois da homologação no STF do acordo entre os dirigentes que afastaram Ednaldo Rodrigues do cargo em dezembro de 2023.  A Fifa forma comissões normalizadoras em situações extremas, como em janeiro do ano passado, quando dirigentes da entidade enviados ao Brasil manifestaram apoio ao atual presidente em meio à intervenção do presidente do STJD. A entidade, inclusive, “premiou” a CBF com a Copa do Mundo de 2027 durante o imbróglio.

A carta de Ronaldo

Prezados Senhores,

Conforme comuniquei publicamente, pretendo me candidatar à presidência da CBF no próximo pleito. Preocupa-me, no entanto, a falta de transparência e segurança jurídica no processo eleitoral, que pode comprometer a imparcialidade e a legitimidade das eleições.

É notório que, com o estatuto vigente, o presidente em exercício tem controle absoluto de todo o processo – o que, por si só, nos distancia das condições de concorrência leal e isonômica. Além de não contribuir para a integridade do pleito, o modelo dificulta (quiçá, impede) o surgimento de candidaturas alternativas.

Ademais, a crise dos últimos anos no comando da CBF, marcada por uma série de interferências externas e disputas judiciais incompatíveis com a autonomia e grandeza da entidade, maculou sua reputação a nível mundial e colocou em risco a sua independência.

Se existe um fato incontestável nesses anos de imbróglio – que, inclusive, antecede a atual gestão – é que essa sucessão de acontecimentos gerou um sentimento coletivo de insegurança jurídica e afetou negativamente a credibilidade da confederação.

Faltam menos de 16 meses para a próxima Copa do Mundo – chegaremos a 2026 com um jejum de 24 anos sem o título – e tudo que o futebol brasileiro não precisa agora é passar por um processo eleitoral de legitimidade duvidosa. O que precisamos é de tempo para dar voz e espaço aos clubes que, unidos, são ainda mais fortes; para escutar as federações em prol de melhorias nas competições e desenvolvimento do esporte em seus estados; para que a força da visão compartilhada, no alinhamento estratégico, nos conduza à mudança.

À luz dessas preocupações, solicito que a data para as próximas eleições – cujo prazo estatutário é de um ano a partir de 23 de março de 2025 – seja definida com antecedência mínima de um mês, a fim de assegurar a organização e participação dos interessados.

Solicito ainda que o pleito seja supervisionado presencialmente pela FIFA e pela CONMEBOL, para dar mais transparência e segurança jurídica ao processo eleitoral, bem como alinhamento aos princípios internacionais de governança no futebol. Está nas mãos do colégio eleitoral a oportunidade e a responsabilidade de atender à urgência de um choque de gestão na CBF, que comece por restaurar a confiança na instituição e seja sustentável no longo prazo. Reitero minha completa disposição colaborativa para a reconstrução da credibilidade e proteção do futuro da entidade. O futebol brasileiro é patrimônio público – cabe a nós defendê-lo.

ENTENDA A ELEIÇÃO DA CBF

Para se candidatar?

É preciso ter o apoio de quatro federações e de quatro clubes das séries A e/ou B do Campeonato Brasileiro no ano do pleito para ter a chapa registrada.

Para vencer

É necessário ter maioria dos 141 votos no colégio eleitoral distribuído assim:

27 federações: peso 3 (81 votos)

20 clubes da Série A: peso 2 (40 votos)

20 clubes da Série B: peso 1 (20 votos)

Pré-candidatos

Ednaldo Rodrigues (atual presidente)

Ronaldo Nazário (manifestou interesse)

Quando será?

Ednaldo Rodrigues pode convocar eleições a partir de março, um ano antes do fim do mandato para o qual foi eleito em 23 de março de 2022. O mandato é de quatro anos.

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Marcos Paulo Lima

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