Adversário do Brasiliense neste sábado, às 16h, no Serejão, em Taguatinga, no jogo de volta da segunda fase da Série D do Campeonato Brasileiro, o Real Noroeste tem um orgulho em 12 anos de vida: o clube capixaba do município de Águia Branca, com pouco mais de 10 mil habitantes, revelou um jogador do Everton da Inglaterra, titular da Seleção Brasileira, e com passagem por América-MG, Fluminense e Watford avaliado em R$ 368,4 milhões.
Richarlison morava em Nova Venécia, cidade próxima de Águia Branca, quando decidiu tentar o início da carreira no Real Noroeste. A relação com o clube formador era de gratidão até 2018. “A escolinha lá em Nova Venécia foi fundamental, porque eu tive uma base ali. Agradeço também ao Real Noroeste. Lá, eu disputei o Campeonato Capixaba Sub-17, me destaque, ganhei experiência. Eu sou muito grato a eles”, disse, em 2018, ao portal GE.com.
O discurso mudou em novembro deste ano. Em entrevista ao site The Players Tribune, Richarlison mexeu no passado e criticou uma decisão da diretoria. Segundo ele, o Real Noroeste teria dificultado o crescimento profissional do atacante na transferência para o América-MG.
“Joguei lá por um ano e evoluí muito. Mas aí eles fizeram uma sacanagem comigo e com o meu pai. Com o meu desenvolvimento naquele um ano no clube, o América-MG demonstrou interesse em me contratar. Por ser um clube maior e muito tradicional, claro que eu queria ir. Inicialmente, o Real Noroeste disse que me liberaria, mas depois vieram com outra conversa, a de que só me negociariam se ficassem com 50% do valor. Eles falavam uma coisa e faziam outra. Isso abalou muito o meu pai. Nós sabíamos que seria a minha última chance, e na época só faltavam quatro jogos para acabar a temporada daquela categoria da base do América-MG”, conta Richarlison em carta aberta ao The Players Tribune.
O atacante relata, ainda, que o impasse prejudicou a saúde da família. “Foi muito difícil para o meu pai administrar o problema. Além da pressão por ser a minha última chance, ele estava sofrendo de depressão. Aquilo me magoou muito. Fiz grandes amigos no Real Noroeste, mas eu não falo muito do clube até hoje por causa disso. Ainda bem que resolvemos a situação, e eu fui para o América-MG. Eu poderia ter sido reprovado outra vez, não sei. O que posso dizer é que aquela vez que meu pai foi humilhado por causa do peixe me deu muita motivação. Tirei forças de onde eu não sabia que tinha”, acrescenta Richarlison.
Em entrevista ao blog, o presidente do Real Noroeste falou sobre as declarações de Richarlison ao The Players Tribune. “Isso é ideia de empresário que colocou na cabeça dele. Lá na frente, no futuro, ele vai se arrepender disso que contou. A realidade é outra”, afirmou Fláris Olímpio da Rocha.
“Joguei lá por um ano e evoluí muito. Mas aí eles fizeram uma sacanagem comigo e com o meu pai. Com o meu desenvolvimento naquele um ano no clube, o América-MG demonstrou interesse em me contratar. Por ser um clube maior e muito tradicional, claro que eu queria ir. Inicialmente, o Real Noroeste disse que me liberaria, mas depois vieram com outra conversa, a de que só me negociariam se ficassem com 50% do valor. Eles falavam uma coisa e faziam outra. Isso abalou muito o meu pai. Nós sabíamos que seria a minha última chance, e na época só faltavam quatro jogos para acabar a temporada daquela categoria da base do América-MG”
Richarlison, em carta ao The Players Tribune
Richarlison movimentou 53,98 milhões de euros desde a saída do Real Noroeste, o equivalente, na cotação de hoje, a R$ 331,4 milhões. Como clube formador, o Real Noroeste tem direito a um percentual relativo ao mecanismo de solidariedade em cada transação. Fláris Olímpio afirma que o clube tem recebido direitinho o valor a que tem direito nas negociações.
Há apenas uma batalha jurídica movida contra o Fluminense. “Direitos sobre percentual ainda está na Justiça. O Fluminense não pagou o percentual que era de direito do clube e o Real Noroeste continua na Justiça. Solidariedade quem pagou foi o Everton (da Inglaterra). O Fluminense não pagou os direitos econômicos que pertencem ao clube”, explica o dirigente.
“Isso é ideia de empresário que colocou na cabeça dele. Lá na frente, no futuro, ele vai se arrepender disso que contou. A realidade é outra”
Fláris Olímpio da Rocha, presidente do Real Noroeste, ao blog
O jogador foi vendido por em 2017 por 12,4 milhões de euros, o equivalente a R$ 76,1 milhões na cotação atual. A divisão dos direitos econômicos era a seguinte: 20% do Real Noroeste, 30% do América-MG, que também reclama a parte dele na Justiça, e 50% do Fluminense. Em janeiro do ano passado, o portal Lance! revelou que a Justiça determinou a penhora de R$ 10.540.074,28 do Fluminense. Do total, R$ 6.080.074,28 correspondem ao devido na venda do Fluminense para o Watford e R$ 4.460.000.00 no negócio com o Everton, calculado sob o montante que o clube carioca recebeu do percentual que reteve.
Apesar do imbróglio, Richarlison continua sendo o “case de sucesso” do Real Noroeste. O clube segue firme na formação de talentos. Tenta colocar um novo “Pombo” na vitrine. “Os meninos são jogadores jovens. Somos um clube formador. O início do Richarlison foi por aqui, mesmo, Saiu do Real para jogar a Série B do Brasileiro pelo América-MG. Hoje, 99% dos jogadores do Real são jovens da base, criados aqui. É um time que está começando, é novo, mas com futuro. Nós seguimos remando pela continuidade”, diz Floris Olimpio.
Em setembro deste ano, o Real Noroeste chegou a ficar fora do catálogo da CBF de clubes formadores. Por sinal, era o único reconhecido no Espírito Santo, desde 2015. O processo de renovação é feito a cada dois anos e atesta o padrão nos centros de treinamento, nos departamentos de base e garante ao times porcentagem em caso de venda ou transferências internacionais de atletas formados por eles. Um dos problemas detectados foi problemas de antigos atletas da base que ainda constavam no Boletim Informativo Diário (BID) do clube.
Entre as exigência para constar no catálogo da CBF estão: participação em competições oficiais, ter programa de treinamento compatível com a categoria, apresentação de documentos, proporcionar assistência técnica, médica e estudantil, manter alojamento e instalações desportivas em boas condições e apresentar a relação nominal dos atletas de cada categoria residente no alojamento.
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