A exibição do Flamengo no empate por 0 x 0 com o Palmeiras sob a batuta de Paulo Sousa prova como faz diferença um time minimamente organizado taticamente em duelos de alto nível. Para mim, Renato Gaúcho não é mau técnico, longe disso, mas naquela decisão faltou o padrão apresentado na partida desta quarta-feira. O português não venceu o Atlético-MG na Supercopa do Brasil nem o rival alviverde na quarta rodada do Brasileirão, mas o trabalho de quatro meses mostrou sinais de evolução, principalmente, nos dois maiores desafios do ano.
A questão é a seguinte: a diretoria e a torcida do Flamengo estão preparadas para tolerar a possibilidade de uma temporada inteira de evolução do novo sistema sem conquistar títulos? Há cinco anos, o Manchester City passou por um processo semelhante. Vinha em declínio com Manuel Pellegrini, amargou um início de trabalho sem taça sob a batuta de Pep Guardiola e disparou a colecionar troféus na estação seguinte do futebol europeu.
A primeira temporada de Pep Guardiola no City terminou com terceiro lugar na Premier League, eliminação nas semifinais da Copa da Inglaterra, queda na quarta fase da Copa da Liga e adeus nas oitavas de final da Champions League. A arrancada de Paulo Sousa no Flamengo acumula um vice na Supercopa e outro no Carioca. A essa altura dos campeonatos, seria muita pretensão cravar título rubro-negro na Copa do Brasil ou no Brasileirão ou na Libertadores. Ainda mais em um ano de jogos sucessivos causados pelo calendário deprimido pela Copa do Mundo, a partir de 21 de novembro.
Em 2016/2017, o admirado Manchester City deu um passo atrás para incorporar os conceitos de Pep Guardiola na primeira temporada e avançou dois à frente em 2017/2018. Conquistou o título do Campeonato Inglês, a Copa da Liga Inglesa e caiu nas quartas de final na Champions League. O City acumula 10 títulos em cinco temporadas na Era Guardiola. Prova de que houve paciência.
Paulo Sousa não é Pep Guardiola. Longe disso. Eu não cometeria essa blasfêmia. Mas o português faz o trabalho dele. Determinado, tenta inserir na mente do qualificadíssimo elenco rubro-negro o chip dos próprios conceitos técnicos, táticos e de gestão. Suas convicções. Quanto tempo vai demorar para o processo atingir a plenitude? Não sabemos!
Em tempos de carnaval fora de época, podemos dar nota 10 ao Flamengo nos quesitos evolução e harmonia. Difícil apontar quem jogou mal contra o Palmeiras. O rendimento de Lázaro caiu no segundo tempo. O jovem deu lugar a Marinho e o reserva entrou muito bem. Faltou, sim, capricho à comissão de frente. Não se desperdiça oportunidades cristalinas contra adversários duríssimos como o Palmeiras — dono de um goleiro e defesa organizadíssima.
O técnico português do Flamengo tem algumas peças no banco de reservas como diferenciais em relação ao Palmeiras, mas fez apenas uma substituição. Direito dele, óbvio. Colocou Marinho no lugar de Lázaro. Só. E o Pedro? Não pode ser vendido para o Palmeiras, mas também não pode jogar contra o Palmeiras? Talvez, melhor seria trocar Lázaro pelo centroavante, abrir Gabigol pela direita, centralizar Everton Ribeiro, alargar Arrascaeta na esquerda e ter um homem de referência na frente para quando a bola passasse ali pela frente da meta defendida por Weverton.
Esperava mais do Palmeiras contra o Flamengo. Afinal, qual é a verdadeira face do time de Abel Ferreira: aquele alviverde imponente do segundo jogo da final do Paulistão contra o São Paulo ou esse que se apresentou de forma irregular contra Ceará, Goiás e Flamengo? Os 4 x 0 contra o São Paulo foram exceção? O Brasileirão também tem decisões. 38! E três já se foram na agenda palestrina.
O Palmeiras de Abel Ferreira tem uma baita virtude. A força mental. Inteligência emocional. Neste ano, o time dele encarou Chelsea, Athletico-PR e São Paulo em finais, duelou com Corinthians e Santos em clássicos, encarou o Flamengo diante de 70 mil rubro-negros no Maracanã e foi bem. Tudo isso com cabeça fria e coração quente. Tem que respeitar.
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