54866297655_dbce7a6b8f_c Um gol, assistência e pênalti sofrido: Pedro teve tarde de gala. Foto: Gilvand de Souza/Flamengo Um gol, assistência e pênalti sofrido: Pedro teve tarde de gala. Foto: Gilvand de Souza/Flamengo

A precisão do Flamengo, a imposição do Palmeiras e os erros do árbitro

Publicado em Esporte

Um tributo de altíssimo nível ao futebol como entregaram Flamengo e Palmeiras neste domingo, no Maracanã, pela rodada 29 do Campeonato Brasileiro merecia atuação irretocável da arbitragem. Wilton Pereira Sampaio não teve uma performance à altura da vitória rubro-negra por 3 x 2. Falhou em dois lances cruciais. Houve pênalti de Jorginho em Gustavo Gómez. O clássico estava 0 x 0. Achei falta do Danilo em Vitor Roque e de Pedro em Bruno Fuchs antes do pênalti corretamente marcado para o anfitrião. Ambos sem a intervenção do Árbitro Assistente de Vídeo (VAR). O apito influenciou na virada alviverde contra o São Paulo, há duas semanas, e foi novamente determinante no encaminhamento do excelente duelo entre os líderes da Série A. Estão empatados em pontos e o Palestra lidera no critério número de vitórias. 

 

Arbitragem à parte, Filipe Luís e Abel Ferreira entregaram um confronto moderno, digno de ligas europeias, em solo verde-amarelo. Publiquei uma matéria na edição de sábado do Correio Braziliense mostrando que os volantes Jorginho e Andreas Pereira são dois falsos camisas 10 dos tempos pós-modernos do futebol. Indicava que os dois jogadores recém-chegados da Premier League aos respectivos times seriam a chave da partida. 

 

Filipe Luís espetou o lateral Emerson Royal na direita, Samuel Lino alargava o campo pela esquerda, Luiz Araújo dava um passo para dentro atuando centralizado e Arrascaeta buscava aproximação com o centroavante Pedro. Lá atrás, Alex Sandro alinhava-se a Leo Ortiz e a Leo Pereira em uma linha de três com a posse da bola, formando um 3-2-5. Jorginho se desdobrava na marcação e na construção. Belíssima exibição do falso 10. 

 

Do outro lado, a função de marcar o ritmo recaiu sobre Andreas Pereira no sistema 3-4-1-2. Ele era quem mais se aproximava de Flaco López e de Vitor Roque na armação, porém não correspondeu às expectativas como o protagonista Jorginho. Piquerez formava trinca defensiva com Gustavo Gómez e Bruno Fuchs. Khelven subia para agredir e formava um quarteto no meio de campo com Mauricio, Aníbal Moreno e Felipe Anderson. À frente deles, Andreas Pereira buscando conexões com Flaco e Roque. 

 

O Palmeiras iniciou a partida propondo jogo de contato físico e marcação no campo rubro-negro para mudar características do estilo de Filipe Luís. Costumo dizer que o time de Abel é o único no Brasil com capacidade para emular o que o fez o Bayern de Munique contra o Flamengo nas oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes da Fifa: sufocar a saída de bola. Abel Ferreira avançou as linhas e jogava no campo do Flamengo antes de sofrer o gol de Arrascaeta depois da belíssima assistência do centroavante Pedro. O camisa 9 atrai a marcação individual de Bruno Fuchs na saída de bola do goleiro Rossi e deixa o uruguaio na cara do gol.

 

O empate palestrino tem méritos da linda confecção do lance, com inversões da bola de um lado para o outro; e falhas dos laterais. Alex Sandro deu espaço para Kellven dar um cruzamento milimétrico para Vitor Roque estufar a rede de Rossi numa linda cabeçada. Emerson Royal marca a bola e se esquece da movimentação do camisa 9 nas costas. Quando ele se virou na tentativa de evitar o estrago era tarde demais. 

 

O Flamengo venceu porque Pedro estava inspirado. Depois do passe para Arrascaeta, ele sofreu o pênalti cometido por Bruno Fuchs em um lance no qual o Flamengo cometeu duas infrações e Wilton Pereira Sampaio deixou seguir.  Danilo comete falta em Vitor Roque. Pedro também em Bruno Fuchs, mas prevaleceu o pênalti do zagueiro alviverde. Jorginho cobrou com a perfeição de sempre e recolocou o Flamengo em vantagem. 

 

O terceiro ato de Pedro consolidou uma exibição digna de uma oportunidade na Seleção nos amistosos contra o Senegal e a Tunísia, em novembro. Em outra inversão de papéis, ele rouba a bola do volante Aníbal Moreno, entrega a Arrascaeta, o camisa 10 aciona o centroavante e o camisa 9 finaliza com extrema precisão. 

 

O Palmeiras não teria energia para sufocar a saída de bola do Flamengo até o fim da partida, mas compensou com uma proeza: encerrou a partida com mais posse de bola no Maracanã: 52% x 48%. A trupe de Filipe Luís tem a melhor média do Brasileirão nesse quesito com média de 61,2% por partida. Os donos da casa compensaram nos desarmes. Foram 24. A média da equipe é de 16,1 por jogo, a 11a entre os 20 clubes. 

 

Para variar, o Flamengo relaxou no fim. Depois de manter o nível de concentração alto na maior parte do jogo, o time permitiu um contra-ataque alviverde vencendo por 3 x 1. Emerson Royal tomou bola nas costas, obrigou Léo Pereira a sair à caça de Ramón Sosa antes da finalização com defesa parcial de Rossi e gol de Gustavo Gómez no rebote em uma recomposição totalmente desorganizada da defesa rubro-negra.  

 

Flamengo e Palmeiras não entregavam um jogo como esse desde a Supercopa de 2023, em Brasília, quando os paulistas derrotaram os cariocas por 4 x 3, no Mané Garrincha. Filipe Luís e Abel Ferreira estão de parabéns. Pedro e Vitor Roque se candidataram à camisa 9 da Seleção. A lamentar o fato de o ítalo-brasileiro Jorginho ter escolhido a seleção da Itália e o nascimento Arrascaeta no vizinho Uruguai – em vez do Brasil. Imagine se Carlo Ancelotti contasse com esses dois meias…

 

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