Uma das virtudes do Tite é a paciência. Não combina com a ansiosa torcida do Flamengo, mas o técnico convenceu rubro-negro a maioria dos 64.705 torcedores de que a calma seria necessária para derrotar o Palmeiras na partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. Ao que parece, entenderam e o time carioca abriu vantagem de 2 x 0, no Maracanã.
Paciência é a palavra-chave do resultado devido ao comportamento do Palmeiras. Atento ao trabalho de Tite nos seis anos e meio na Seleção, o técnico Abel Ferreira notou a dificuldade do Brasil contra sistemas defensivos organizados, coordenados, ajustados.
O plano original do Palmeiras era suportar a pressão. Saber sofrer. Testar a paciência de Tite e do Flamengo ao extremo e aguardar pela desestruturação do adversário. O posicionamento médio do time deixa isso claro. No primeiro tempo, Rony era o único jogador além da linha do meio de campo, ou seja, com os pés no campo do Flamengo. Todos os demais ficavam do grande círculo para trás, à espera do Flamengo.
Felipe Anderson, Raphael Veiga e Richard Ríos formavam a primeira linha. Atrás deles, Caio Paulista, Zé Rafael, Aníbal Moreno e Agustín Giay. Os zagueiros Vitor Reis e Gustavo Gómez estavam protegidos e a estratégia do Palmeiras funcionou na etapa inicial. A partida foi para o intervalo do jeitinho que Abel Ferreira planejava: 0 x 0.
Dois jogadores tiveram papéis importantíssimos na construção do resultado no segundo tempo: o volante Gerson e o atacante Luiz Araújo. O meia por causa da movimentação. O ponta devido ao esforço para contribuir coletivamente em uma posição desconfortável para ele. Embora seja canhoto, Luiz Araújo gosta de trabalhar aberto na direita.
Luiz Araújo entrou no lugar do lesionado Éverton Cebolinha aos 23 minutos do primeiro tempo e vira a principal alternativa para quebrar as linhas do sistema defensivo alviverde. Foi fundamental, principalmente, no mano a mano com Giay. Quando todos olham para Luiz Araújo recebendo a bola na canhota, o centroavante Pedro corre no sentido contrário ao do sistema defensivo do Palmeiras para receber a bola sozinho e fazer 1 x 0.
O Flamengo recua à espera do contra-ataque e ganha o segundo gol de presente do melhor zagueiro do Palmeiras. Gustavo Gómez erra, Pedro puxa a ação ofensiva e toca para De La Cruz. Bastou um passe milimétrico do uruguaio para Luiz Araújo acertar o chute cruzado.
A sensação é de que o Flamengo poderia ter encerrado a série no Maracanã se não tivesse desperdiçado pelo menos dois lances claros de gol com o lateral-direito Wesley e o próprio Luiz Araújo em um lance no qual Pedro queria a bola por se achar mais bem posicionado para finalizar. Não se deve considerar um clássico como esse decidido. Longe disso.
O Palmeiras é forte no Allianz Parque, em São Paulo, e o Flamengo não tem costume de jogar em gramado sintético. Acrescento a isso a capacidade do Abel Ferreira de sacar um plano em partidas pontuais como a da próxima quarta-feira. Afinal, são dois belos times com elencos sortidos. O Flamengo conseguiu boa vantagem, mas não deve sentar-se nela.
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