CBPFOT040320151008 Maguila mantém cinturão sul-americano no Mané Garrincha contra Cea. Foto: Antônio Cunha/CB/D.A Press. Maguila comemora título sul-americano no Mané Garrincha contra Miguel Cea. Fotos: Antônio Cunha/CB/D.A Press.

A história da única luta de Maguila (1958-2024) em Brasília no velho Mané Garrincha

Publicado em Esporte

Era 14 de dezembro de 1991. Adilson Maguila Rodrigues, que morreu nesta quinta-feira, aos 66 anos, entrou no ringue do velho estádio Mané Garrincha para colocar em jogo o cinturão de campeão sul-americano contra o chileno Miguel Cea. Disputado ao ar livre no centro do gramado do campo de futebol com transmissão do SBT à época, o combate quase foi cancelado.

 

A luta tinha patrocinadores. No entanto, os parceiros comerciais recuaram e decidiram não mais investir na luta. Chateado, Maguila havia treinado dois meses para o combate e decidiu pagar para ver. Assumiu a conta e desembolsou o cachê do chileno.

 

“Eu vou tirar dinheiro do meu bolso para pagar a bolsa do chileno. Eu treinei dois meses para esse combate e vai ter luta”, desabafou naquela noite de sábado na capital do país. Cadeiras disponibilizadas no gramado deixaram os principais fãs do boxe pertinho das cordas — e do ídolo sergipano de Aracaju.

 

O golpe do nocaute contra Cea no Mané Garrincha. Foto: Antônio Cunha/CB/D.A Press

 

Maguila desembarcou em Brasília aos 33 anos. Acumulava 43 lutas no currículo. Ostentava 39 vitórias (31 nocautes) e quatro derrotas. Praticamente um sparring, o chileno foi além do esperado. Resistiu durante quatro assaltos, mas voltou a Santiago derrotado no quinto round por nocaute técnico justamente quando dominava o combate no Distrito Federal. O rival tentou se levantar, mas era tarde demais. A torcida havia decidido o duelo.

 

Miguel Cea tentou posar de dura na queda, mas o brasileiro manteve o cinturão de campeão sul-americano de pesos-pesados na 44ª das 77 lutas na carreira. Em certo momento, Maguila preocupou os súditos devido ao cansaço, ao desgaste, mas foi sustentado pelos gritos de “Maguila” da torcida brasiliense no Mané Garrincha no instante em que mais precisava. Castigado mo quarto round, Maguila chegou a sofrer um corte no supercílio.

 

 

O ringue montado no gramado do Mané para receber o combate entre Maguila e Cea. Foto: Antônio Cunha/CB/D.A Press

 

Quando a luta acabou, o sentimento de Maguila era de alívio por ter levado o desafiante à lona. “Graças a Deus eu fiz um grande combate. Passei por difíceis momentos, mas resisti e ganhei por nocaute. Aguentei os golpes, fui bastante castigado, mas me recuperei. Resisti muito. Quando a minha direita entrou, derrubou”, desabafou.

 

 

O pública à espera da luta entre Maguila e Miguel Cea nas cadeiras ao lado do ringue. Foto: Antônio Cunha/CB/D.A Press

 

Maguila encerrou o combate cantando no ringue improvisado no Mané Garrincha. Soltou a voz e escolheu o pagode “Dinheiro não há”, de Jair Rodrigues: “Dinheiro não há! Dinheiro não tem! Como eu não tenho dinheiro. não vou pagar a ninguém!”, ironizou, referindo-se ao calote dos patrocinadores e à grana que tirou do bolso para honrar o cachê do desafiante chileno.

 

 

 

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