Em 23 de outubro do ano passado, o Red Bull Leipzig da Alemanha derrotou o Zenit São Petersburgo da Rússia por 2 x 1 pela fase de grupos da temporada 2019/2020 da Uefa Champions League. Público do jogo na Red Bull Arena: 41.058 pagantes. Este é o número de mortes no Brasil causadas pelo novo coronavírus segundo apuração do consórcio de veículos de imprensa coletado por O Globo, Extra, Estadão, Folha de S. Paulo e UOL em razão das limitações impostas pelo Ministério da Saúde. O governo aponta 40.919 óbitos, ou seja, 139 a menos.
O público do duelo entre RB Leipzig e Zenit dá a dimensão do drama brasileiro. Em pouco mais de um mês, a quantidade de perdas praticamente quadruplicou no país. Na contramão da gravidade do que está acontecendo, alguns clubes de futebol (não são todos) pilhados pelo presidente da República pressionam autoridades para a retomada dos falidos estaduais.
Nada contra protocolos de altíssimo nível confeccionados para a volta aos treinos e até mesmo aos jogos. Alguns originais. Outros CTRL C + CTRL V do que havia sido produzido com excelência por competições de ponta como a Bundesliga, La Liga, Premier League e CBF. A questão é a falta de respeito à vida, ao aumento exponencial da crise causada pela pandemia.
Há um descompasso entre a volta das competições na Europa e no Brasil. Por lá, houve respeito ao isolamento, obediência à quarentena, em alguns até ao confinamento. Enquanto isso, em terra tupiniquins, mais de um time deu de ombros para o veto a treinos e jogos e forçou na marra a volta ao batente. Um deles, o Flamengo, o clube mais popular do país.
Palco do citado jogo entre RB Leipzig e Zenit, a Alemanha mais uma vez goleou o Brasil por 7 x 1 na seriedade com que encarou a pandemia. Por essas e outras puxou a fila da retomada da competição nacional entre as principais ligas do mundo. Deste lado do Oceano Atlântico assistimos a uma esculhambação com direito a um festival de declarações lamentáveis de presidentes que só conseguem se preocupar com o próprio umbigo.
Escrevi aqui no blog, em 6 de maio, que querer jogar à força em meio à pandemia do novo coronavírus é a maior fraqueza do futebol. A opinião continua a mesma. Não mudo uma letra.
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