Victor Gama Técnico do Sobradinho, Victor Santana (C) foi carrasco do Botafogo no Maracanã na Copa do Brasil de 2004 Hoje técnico do Sobradinho, o ex-atacante Victor Santana já foi carrasco do Botafogo vestindo a camisa do Gama

Entrevista: aos 35 anos, o técnico Victor Santana conta como levou o Sobradinho à final do Candangão

Publicado em Esporte

Ele pode ser o primeiro técnico nascido no Distrito Federal a conquistar o Candangão. Tem apenas 35 anos. Idade para ser jogador, não técnico do Sobradinho nas finais do Candangão, que começam hoje, às 16h15, no Mané Garrincha, contra o Brasiliense. Atacante revelado pelo Gama, Victor Santana topou virar treinador no início deste ano. O ex-volante Túlio Guerreiro, com passagens por Botafogo e Figueirense, teve a ideia de apostar em Victor quando era presidente do clube e o anunciou como treinador do Leão para o Campeonato Candango. Victor já havia pendurado as chuteiras. Trabalhava nas escolinhas do Sobradinho. Em seguida, foi promovido a auxiliar-técnico. No início deste ano, subiu mais um degrau e assumiu o time profissional. “Confesso que me assustei, mas, com apoio da minha família e dos amigos, ganhei confiança para pegar essa oportunidade”.

No bate-papo a seguir com o blog, Victor conta que não teve tempo de se preparar para a função. Correu para as livrarias e apostou na leitura para conduzir o Sobradinho. Consumiu páginas e mais páginas das obras de Pep Guardiola. Mergulhou nas publicações sobre periodização tática. Aliou a teoria à prática com um baita professor. O vitorioso Reinaldo Gueldini é o guru à beira das quatro linhas. A relação entre os dois chega a ser engraçada. “O Gueldini, às vezes, fala que sou teimoso quando discordo de algo. Às vezes, eu o chamo também (de teimoso). Acho que, por isso, o ambiente é bom entre nós da comissão”, diverte-se.

 

Quem é a sua inspiração como treinador?

Sempre gostei muito do estilo do Muricy Ramalho dentro de campo. Ele é durão, coisa que ainda tenho que aprender ser em certos momentos. Sou do tipo que tento tudo na base da conversa, orientar para que saia como foi treinado. Sempre vejo os programas esportivos, principalmente quando estão os treinadores, Luxemburgo, Dorival Júnior, entre outros. Eu sempre observo muito  esses que são vencedores.

O que você fazia da vida em 1995, quando o Aílton Ferraz deu o cruzamento para o gol de barriga do Renato Gaúcho; e em 1996, quando o Aílton fez o gol do título do Grêmio no Brasileirão? Esperava enfrentá-lo em uma final, vocês dois como técnicos?

Como atleta, ele fez gols importantíssimos. Assisti aos jogos em que ele foi decisivo, tanto no Fluminense contra o Flamengo e também no Grêmio contra a Portuguesa. Naquela época, eu jogava futsal. Nunca imaginei que o conheceria. Falei com ele. O Reinaldo (Gueldini) me apresentou e comentei sobre um desses gols com ele. Demos risadas juntos. É um cara muito correto e bacana, que vem fazendo um belo trabalho no Brasiliense. Sei que fez um belo trabalho no Tupi-MG também.

Qual é o seu livro de cabeceira, aquela publicação que o inspirou nessa campanha do Sobradinho?

Gosto de ler, mas, hoje, me interesso muito mais em ler. Na verdade não tenho um livro específico não. Já li do Guardiola, leio muito sobre periodização tática, porque é o meu primeiro trabalho… Tento sugar o máximo da minha comissão. São todos mais experientes do que eu. Esse suporte que recebo faz com que eu fique mais tranquilo para trabalhar. Tento passar um pouco pra eles do que eu aprendi em quase 15 anos como profissional.

“Assisti aos jogos em que ele (Aílton Ferraz) foi decisivo, tanto no Fluminense contra o Flamengo e também no Grêmio contra a Portuguesa. Naquela época, eu jogava futsal. Nunca imaginei que o conheceria. O (Reinaldo) Gueldini me apresentou e comentei sobre um desses gols com ele. Demos risadas juntos. Ele vem fazendo um belo trabalho no Brasiliense”

Você tem noção de que pode ser o primeiro técnico nascido no Distrito Federal a conquistar o Campeonato Candango?

Não, ainda nem parei para pensar nisso. Na verdade, nem passou pela minha cabeça. Fico muito feliz com isso (possibilidade). Passam tantas coisas (pela cabeça) que a gente não imagina essa situação.

Dá para fazer história?

São dois jogos duros, mas estamos preparados. O Sobradinho está numa crescente. Espero que nós façamos bons jogos para, quem sabe, conquistar o título.

Sobradinho

Numa comparação, o Sobradinho tem o estilo de qual time?

Ah, hoje o futebol está moderno, hoje se usa muito esquema ofensivo, principalmente, o famoso 4-3-3. Os esquemas, hoje, dependem muito dos atletas que você tem. Por isso, procuro usar um que fique mais fácil para eles e também para que eu possa fazer mudanças. Não tem nenhuma equipe com a qual a minha se pareça não (risos), mas procuramos ser intensos durante todo o jogo, como são as grandes equipes.

Você tem um baita professor ao lado. Como o Reinaldo Gueldini tem colaborado?

A vida é um aprendizado. Procuro aprender muito todos os dias, seja com a comissão técnica, ou com atletas. O Gueldini é muito importante porque ele tem uma leitura rápida do jogo. Isso facilita pra todos nós. Aos poucos, vou aprimorando e melhorando em algumas situações que ocorrem no dia a dia.

É uma parceria que dá certo faz tempo. Você foi jogador dele e agora é o técnico dele…

Conquistamos juntos objetivos importantíssimos, como o acesso para a Série B com o Gama. O (Michel) Platini fazia parte daquele grupo. Temos um ambiente muito bom. Isso ajuda o trabalho a fluir com tranquilidade, embora eu seja muito chato, às vezes, comigo (risos). Fico muito preocupado com as condições para os atletas, mas a nossa diretoria facilitou. É por isso que estamos fazendo  essa bela campanha. O Gueldini, às vezes, fala que sou teimoso quando discordo de algo, e às vezes o chamo também (de teimoso). Acho que, por isso, o ambiente é bom entre nós da comissão.

“O (Reinaldo) Gueldini, às vezes, fala que sou teimoso quando discordo de algo, e às vezes o chamo também (de teimoso). Acho que, por isso, o ambiente é bom entre nós da comissão”

E a comissão técnica dá um baita suporte…

Como eles são mais experientes, perturbo todos eles. Osmair, preparador de goleiro, já joguei com ele; João Paulo, auxiliar, sempre ajudando em tudo; Luciano é César, nossos preparadores; Luca, que faz análise dos adversários; e o Gueldini que vem com toda a bagagem.

Pretende seguir na carreira de técnico? Quer fazer os cursos da CBF?

Estou com 35 anos. Pretendo. Como falei, a busca das minhas leituras é justamente porque não tenho curso, mas, acabando essa etapa, vou procurar (cursos) para buscar mais conhecimentos, entender mais de cada coisa que envolve o futebol.