Dezenove técnicos diferentes; tragédia aérea com o time que era base da seleção e levava a bordo, entre outros jogadores, o tio de Paolo Guerrero; decepção nas Eliminatórias para a Copa de 1986 com um gol do carrasco argentino que, 31 anos mais tarde, se tornaria herói do país como treinador; frustração causada pela perda da vaga para a Copa de 1998 para o Chile no saldo de gols; doping do maior artilheiro da história da seleção às vésperas do início de uma repescagem… A volta do Peru ao Mundial poderia perfeitamente ser o roteiro de um filme.
A seleção que venceu a Nova Zelândia por 2 x 0 na madrugada desta quinta-feira e ficou com a última das 32 vagas para a Copa da Rússia não participava da Copa desde 1982, na Espanha. De lá para cá, o Peru teve 19 técnicos diferentes. Média de quase dois por ano. Houve apostas em profissionais estrangeiros de cinco nacionalidades: Sérvia, Brasil, Colômbia, Uruguai e Argentina — país de Ricardo Gareca. Carrasco do Peru nas Eliminatórias de 1986 ao fazer o gol do empate por 2 x 2 que levou os hermanos para a Copa de 1986 e eliminou o Peru, — Gareca compensou assumindo o papel de herói nacional ao classificar o país para 2018.
A lista de técnicos que tentaram levar o Peru de volta à Copa teve dois brasileiros. José Macia, o Pepe, ocupou o cargo em 1989. Paulo Autuori topou o desafio de 2003 a 2005. Por sinal, ele deixou um legado na passagem pelo cargo: foi o primeiro a convocar o centroavante Paolo Guerrero, que na época defendia o time B do Bayern de Munique, da Alemanha. Os bons trabalhos de Didi na Copa de 1970 e de Tim em 1982 levaram a federação acreditar que um treinador daqui encerraria o jejum. Pepe e Paulo Autuori não conseguiram. Profissionais badalados como o colombiano Francisco Maturana, os uruguaios Sergio Markarian e Pablo Bengoechea e até o sérvio Vladimir Popović também frustraram os planos.
O Peru esteve próximo de voltar à Copa duas vezes. Em 1985, um gol justamente do então atacante Ricardo Gareca garantiu o empate por 2 x 2, levou a Argentina ao México e deixou o Peru fora do Mundial de 1986. Trinta e um anos depois, o carrasco virou herói.
Nas Eliminatórias de 1990, as esperanças estavam depositadas no bom time do Alianza Lima. Porém, uma tragédia aérea em 1987 com a delegação do time que liderava o Campeonato Peruano e era base da seleção abalou o sonho de ir à Copa da Itália. Houve perdas como a do goleiro José González Ganoza — tio do centroavante do Flamengo Paolo Guerrero, que na época tinha três anos — e do atacante Luis Escobar. Todos os jogadores morreram.
Na seletiva para a Copa de 1998 na França, o Peru perdeu a vaga para o Chile no saldo de gols (14 x -1). Na classificação final, as duas seleções empataram em todos os critérios de desempate. No mesmo ano, o Sporting Cristal chegou a decidir a Libertadores com o Cruzeiro. Perdeu o título, mas o clube também embalou a esperança do país de ir ao Mundial.
A geração atual vinha dando sinais de que tinha potencial para conseguir algo mais do que chegar às semifinais da Copa América em 2011 e em 2015. Ano passado, na edição centenária do torneio continental, venceu o Brasil por 1 x 0, tirou os pentacampeões na fase de grupos e encaminhou a demissão de Dunga, substituído por Tite.
Numa a reação espetacular nas Eliminatórias para a Rússia, o Peru superou o trauma causado pelo teste positivo no exame antidoping de Paolo Guerrero — simplesmente o maior artilheiro da história da seleção. Reconciliou-se com o carrasco Ricardo Gareca e viu o treinador, que até então era herói de uma só torcida — foi campeão peruano pelo Universitario em 2008 —conquistar 32 milhões de súditos de um país inteiro.
O FIM DO JEJUM
Da Copa de 1982 a 2018: os 19 técnicos do Peru
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