O reino do futebol não testemunhava a coroação de um bicampeão europeu desde o Milan, de Arrigo Sacchi, nas temporadas de 1988/1989 e de 1989/1990. A família Real de Zinedine Zidane e Cristiano Ronaldo encerra um tabu de 26 anos com a autoridade de um clube nascido, em 6 de março de 1902, para ganhar títulos continentais. São seis troféus de 1955/1956 a 1991/1992, época em que o torneio se chamava Copa dos Campeões da Europa. Houve 32 anos de jejum até o início de uma nova coleção. Rebatizada de Champions League a partir de 1992/1993, a era moderna da competição também acaba de ver o sexto título. A história se repete. No total, uma dúzia de taças. Mais próximo do recordista, o Milan acumula sete.
A família Real conquista a duodécima com a autoridade de um príncipe nascido, em 23 de junho de 1972, para ser campeão com a bola nos pés e com a prancheta nas mãos. Eleito três vezes melhor do mundo como jogador, campeão da Copa de 1998 e da Euro-2000, Zinedine Zidane tem apenas 17 meses na profissão de técnico e cinco títulos: duas Ligas dos Campeões, um Campeonato Espanhol, uma Supercopa da Uefa e um Mundial de Clubes da Fifa. Para fechar a coleção, faltam tacinhas básicas como a Copa do Rei da Espanha e a Supercopa da Espanha, que disputará contra o Barcelona no início da temporada de 2017/2018.
Plebeu no mundo dos técnicos, Zidane não tem a badalação do patrício Pep Guardiola. Muito menos de José Mourinho. Mas também é gênio. A Juventus, do estrategista Massimiliano Allegri, havia sofrido três gols antes da final. Tomou quatro na decisão em jogo único. E olha que havia um injustiçado Buffon no gol. Três vices na história da Champions League. E olha que havia um Chiellini na defesa.
No primeiro tempo, diante de uma Juventus impecável taticamente em seu 3-5-2, o Real Madrid soube sofrer. Aproveitou o único contra-ataque certo (que pintura!) para Cristiano Ronaldo fazer 1 x 0. A Juventus empatou com um golaço do croata Mandzukic. Navas falhou no lance. Mas Zidane consertou o time no intervalo. Imponente na etapa final, o Real Madrid alternou 4-3-1-2 com 4-4-2. Sem a bola, Isco fechava a linha de quatro (4-4-2). Com a bola, enlouquecia a retaguarda da Juventus como primeiro homem, aquele “1” do Zagallo (lembram?). Assim, o Real fez dois, três, quatro… E poderia ter sido cinco, seis. Sem exagero.
A família Real conquista a duodécima com a obsessão de um príncipe — Rei, desculpem, só Pelé — programado, em 5 de fevereiro de 1982, para ser eleito cinco vezes melhor do mundo. Sim, estou cravando o penta pessoa. Dificilmente Cristiano Ronaldo deixará de alcançar o recordista Lionel Messi. Vai arrematar Bola de Ouro, Fifa The Best…
Neste sábado, igualou o número de conquistas de Messi na Champions League: 4 x 4. Ao balançar a rede duas vezes, ultrapassou os 10 do concorrente. Com 12 bolas na rede, é o artilheiro da Liga dos Campeões pela sexta vez na carreira. Messi jamais fez gol na lenda Buffon. Cristiano Ronaldo marcou sete! Sem contar que o português chegou aos 600 gols na carreira. Fez o gol 500 do Real Madrid na história da Champions League. Igualou um tal de Di Stéfano ao marcar duas vezes em uma decisão com a camisa do Real.
Para variar, a duodécima chega à superlotada sala de troféus do Real com um pouquinho de Brasil, iá, iá. Com o técnico da Seleção, Tite, na tribuna, vendo tudo de in loco. Graças a um outro príncipe nascido em 22 de fevereiro de 1992. Que chute do volante Casemiro no segundo gol do Real. Mais um cara vaiado, maltratado pela torcida do São Paulo no início da carreira (lembram do Kaká?) prova o seu valor. Casemiro tornou-se a ferramenta tática mais importante do Real Madrid. Não sou eu que estou dizendo. Palavras do Zidane e de vários treinadores que enfrentaram o Real Madrid nesta temporada.
Casemiro não é só mais um cão de guarda. É artilheiro: quatro gols no Campeonato Espanhol. Dois na Champions League. É a temporada mais goleadora de Casemiro na Europa. Acredite se quiser: nesta temporada, o camisa 14 balançou as redes mais vezes do que os companheiros Toni Kroos e Modric em 2016/2017. Tem que respeitar.
E o que escrever do príncipe Marcelo? Um cara nascido em 12 de maio de 1988 para atingir o status de Roberto Carlos. O lateral aposentado é tricampeão da Champions League — 1998, 2000 e 2002. Marcelo também! 2014, 2016 e 2017. Se no 4 x 1 de 2014 sobre o Atlético de Madri ele fez gol, neste sábado foi o autor da assistência para Asensio fazer 4 x 1.
Personagens de um Real Madrid que fincou sua bandeira em Paris (1956), Madri (1957), Bruxelas (1958), Stuttgart (1959), Glasgow (1960), Bruxelas (1966), Amsterdam (1998), Paris (2000), Glasgow (2002), Lisboa (2014), Milão (2016) e Cardiff (2017). Assim é a família Real!