Não é só o futebol. A vida de Fábio Henrique Tavares também é uma caixinha de surpresas. Um dia, o paulista de Campinas estava no Paulínia, da quarta divisão do Paulistão. No outro, era uma das apostas das divisões de base do Fluminense. Vestia a camisa 2 do tricolor na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2012, quando o time carioca perdeu para o Corinthians por 2 x 1. Sem chance com Abel Braga, topou a oferta do Rio Ave, de Portugal.
Um mês depois de chegar ao time lusitano, seu empresário mandou arrumar a mudança para ir jogar na Espanha. Fabinho fez voo cego. Foi sem saber para onde estava indo. Aterrissou no Real Madrid. Sob o comando de José Mourinho, treinou com Kaká, Cristiano Ronaldo, Higuaín… e disputou sua primeira partida como profissional no Campeonato Espanhol com a camisa do clube merengue. Deu até passe para um gol de Di María na goleada por 6 x 2 sobre o Málaga, em 8 de maio de 2013.
De repente, Fabinho chutou para escanteio a chance de ser galático. Aceitou oferta do Monaco. Teve de engolir o veto à sua convocação para os Jogos do Rio-2016. Perdeu a chance de conquistar a medalha de ouro. Enquanto isso, trocava a lateral direita pela função de volante. Arrebentou. É um dos responsáveis pelo fim do jejum de 17 anos da equipe do principado no Campeonato Francês. Aos 23 anos, Fabinho espera que a próxima surpresa seja o retorno à Seleção, como em 2014.
Ele estava jogando videogame na concentração da Seleção Sub-21 quando recebeu um telefonema avisando que teria de se apresentar ao time principal para substituir Maicon, cortado. Fora dos planos da Seleção desde o fim da segunda era Dunga, Fabinho conta, em entrevista ao Correio, por que merece, no mínimo, um teste com Tite.
Primeiro título
Foi a minha melhor temporada em números, mas números não são o mais importante. Consegui ser campeão. É o meu primeiro título aqui no Monaco. É o meu primeiro título como profissional também. Fui importante para a equipe. Melhorei o meu rendimento. Tive regularidade. Por isso, é a minha melhor temporada na Europa. Fiz gols (11), dei passes. A nossa equipe é muito ofensiva. Era importante ter um meio de campo sólido. Eu e o Bakayoko fizemos uma dupla.
Mudança de posição
Eu não vejo pontos prejudiciais. Isso ajudou. Mostrei a minha polivalência, que eu posso jogar e ter destaque na lateral e como volante. Estou disponível nas duas posições. O Leonardo Jardim (técnico do Monaco) sabia disso. Ele não hesitou em fazer essa mudança na minha posição, e a troca só me ajudou.
Trunfo para a Seleção
Pode ajudar, mas não creio que a minha polivalência seja o principal. Eu preciso ter um bom desempenho, regularidade, uma sequência de bons jogos. Aparecer nas partidas grandes, importantes. Foi assim neste ano, principalmente na Champions League.
Concorrência
É grande, é Seleção Brasileira. Mas, se eu continuar tendo regularidade, um bom desempenho, eu volto.
Na lateral ou no meio?
Como volante é a posição que eu mais tive destaque nesta temporada. Mostrei capacidade. Eu creio que eu também posso lutar por uma vaga de volante na Seleção Brasileira.
Cabo eleitoral
Ele (Leonardo Jardim) é meu treinador. Claro que sempre vai falar bem de mim. Talvez, por ele me conhecer melhor do que o Tite, tenha dito isso (que fica surpreso pela ausência de Fabinho na Seleção). Eu fico agradecido pela admiração dele por mim. Eu até brinquei com ele: “Mister, depois eu também vou falar bem de você”. É um treinador que me ajudou e me fez evoluir muito.
Tite
Sei que ele assistiu a jogos da Champions League. A comissão dele também, o Syvlinho esteve em alguns, mas nunca conversamos.
Um jogo para Tite rever
A temporada toda foi boa, mas uma partida em que eu estive muito bem foi contra o Manchester City, aqui em casa. Nós precisávamos reverter uma desvantagem de dois gols de diferença e conseguimos. Claro que o Tite não pode se basear apenas em um jogo, mas a partida que eu escolheria para ele ver seria essa.
Ausência na Rio-2016
Não acho que isso atrapalhou a minha sequência na Seleção (não é chamado desde a Copa América Centenário de 2016). Se eu jogasse bem (na Seleção Olímpica), tivesse destaque e fosse campeão, as chances aumentariam, mas o Monaco não permitiu. Até os últimos dias da convocação, conversei com o treinador (Rogério) Micale, mas eles olharam o lado deles. O Monaco precisava se classificar para a Champions League. E eu estava olhando o meu, que era o sonho da Olimpíada no meu país.
Frustração
Falei com o presidente do Monaco, com o treinador, mas, infelizmente, não pude disputar os Jogos Olímpicos. Sei que eu seria titular, mas ainda bem que as coisas foram boas para os dois lados. O Brasil foi campeão olímpico e o Monaco entrou na Champions League. Fez uma campanha extraordinária.
Monaco ofensivo
O treinador mudou de sistema tático. Nós jogávamos no 4-3-3. Mudamos para o 4-4-2. Antes de o Mbappé surgir, nós tínhamos dois atacantes que estavam sempre dentro da área. O Valère Germain vinha de uma temporada excelente no Nice e o Falcao queria demonstrar que ainda é o Falcao. A chegada de laterais ofensivos (Sidibé e Mendy) também foi importante. Vários aspectos contribuíram para que a gente tivesse esse poder ofensivo (o Monaco só fez menos gols do que Real Madrid e Barcelona nas ligas nacionais da Europa).
Claro que o Tite não pode se basear apenas em um jogo, mas a partida que eu escolheria para ele assistir seria aquele Monaco 3 x 1 Manchester City
Atlético de Madrid?
Depois do fim da temporada, o meu nome tem sido citado em alguns clubes aqui na Europa. Toda proposta que chegar eu vou analisar com carinho, falar com o meu empresário, estudar… O Monaco, apesar de não ser um dos grandes clubes do futebol mundial, é um lugar muito bom para trabalhar. Jogo aqui e estou bem no clube. Tenho que avaliar se vale a pena sair.
Ligas tentadoras
Espanha e Inglaterra me atraem muito pela competitividade, a maneira de jogar. Se eu tiver a oportunidade de atuar numa dessas duas ligas, com certeza pensarei com carinho.
Fluminense
Eu estive um ano e meio lá nos juniores. Não tinha muito intercâmbio com o profissional, não treinava com eles. O técnico na época era o Abel (Braga). Tinha subido um lateral, que era o Walace, que passou por quase todas as seleções de base. E tinha o Bruno. Eles não estavam precisando de mim. Joguei a Copa São Paulo pelo Fluminense. Chegamos à final contra o Corinthians, fomos muito bem. Isso gerou uma esperança de subir para o profissional, mas não tive essa oportunidade. Poucos subiram.
Guinada
Eu já tinha nível para jogar no profissional. Fui convocado para a Seleção Sub-20, fiz um campeonato muito bom e, a partir daí, clubes europeus começaram a ficar interessados. Até cheguei a ser relacionado para dois jogos do time profissional do Fluminense, mas fiquei no banco. Eu percebi que não teria muita chance de jogar. Quando voltei da Seleção, soube que havia interesse da Europa e fui para o Rio Ave, de Portugal.
Real Madrid
Depois de um mês no Rio Ave, fui emprestado para o Real Madrid B. Fiz um ano bom lá. De repente, eu estava treinando com Kaká, Di María, Higuaín, Cristiano Ronaldo. Era a minha primeira temporada como profissional. Joguei até um número bom de partidas. A minha estreia como jogador profissional (em 8 de maio de 2013) não aconteceu no Brasil, foi no Real Madrid (contra o Málaga, vitória por
6 x 2, com passe para gol de Di María). O técnico era o José Mourinho.
Oferta do Monaco
Fui chamado para uma reunião no Real Madrid. Disseram que contavam comigo para continuar na segunda equipe, e, a partir do meu rendimento, eu poderia subir ou não para o principal . Mas, quando apareceu a proposta do Monaco, as contratações, o projeto do clube para bater de frente com o PSG, eu preferi sair. Acho que tomei a melhor decisão.
Apesar da idade, o Mbappé tem muita maturidade. É veloz, tem habilidade e frieza na frente do gol. Tem tudo para ser um dos grandes nomes do futebol
Quebra da dinastia do PSG
Nem nós falávamos em título. Sabíamos que tínhamos uma boa equipe, mas bater de frente com o PSG seria muito difícil. Eles haviam sido campeões da temporada anterior com oito rodadas de antecedência. Bater essa equipe foi muito especial. O elenco deles custa muito mais caro que o dos outros. É montado para ser campeão da Champions League, não para disputar o Campeonato Francês. Por isso, o título do Monaco é incrível.
Mbappé
Ele apareceu no momento correto. Nos primeiros seis meses, não era titular. Os titulares eram o Germain e o Falcao. Ambos faziam uma dupla boa. Mas teve um momento em que o Mbappé estava tão bem que não teve mais como deixá-lo no banco. No primeiro confronto com o City, ele jogou bem, virou titular, fez o primeiro gol na Champions, teve exibição excelente. A partir dali, não teve mais como segurar. Começou a jogar muito, a ser uma das principais peças da equipe. O importante também é que ele não fez gol apenas em jogos pequenos.
Marrento?
Ele brilhou nas partidas importantes. Apareceu na Champions League. Fez cinco gols na Champions League em sete jogos. São números muito bons para um garoto de 18 anos. Apesar disso e também da idade, ele tem muita maturidade. É veloz, tem habilidade e frieza na frente do gol. É um garoto muito talentoso. Espero que ele siga nessa evolução. Tem tudo para ser um dos grandes nomes do futebol.
Jorge
Ele chegou no início do ano. O ritmo dele não era o mesmo do nosso. Precisa de um tempo de adaptação. Não era fácil para ele jogar. O titular (Mendy) é um dos melhores do time, mas, sempre que o Jorge teve oportunidade, foi muito bem. Quem não o conhecia está muito impressionado com o desempenho dele. É questão de confiança.
Fórmula 1
A rua de baixo da minha casa faz parte do autódromo. Moro próximo do circuito, mas não vou assistir. Vou embora antes (em férias). F-1 nunca chamou a minha atenção, até eu assistir a um treino. Depois que vi, achei muito legal. Queria ver uma corrida, mas não será desta vez.