Por que eles não param?
Venho por meio deste dizer que você TEM que ler esse livro. Pois é, ando meio mandona ultimamente.
Acho que já deu para perceber que não faço ideia do que estou fazendo aqui, certo? Meu critério para determinar se um livro é bom ou não é o impacto intelectual/emocional que ele causa. E, baseado nisso, posso dizer que esse foi quase uma experiência religiosa, daquelas “a partir de hoje serei uma mulher diferente”.
Antes de mais nada, uma retratação: no texto sobre Dunkirk, afirmei que achava as guerras antigas mais miseráveis. Venho por meio deste dizer que a Primeira Guerra Mundial não fica devendo em nada. A arte da miséria teve um de seus grandes momentos na Guerra das Trincheiras.
A Primeira Guerra recebe menos atenção do que a Segunda e acho isso uma injustiça. Sem a Primeira, a Segunda não teria acontecido. É possível até especular que o nazismo só foi possível por causa do cenário pós-guerra alemão. E a importância histórica da Primeira Guerra não se resume ao que ela causou, mas por que ela aconteceu. Ninguém, no final do século XIX e início do XX estava à espera de uma guerra dessas proporções. Havia um clima de “chegamos ao ápice da civilização”, uma crença de que o progresso tecnológico e científico eram acompanhados de progresso social e moral. A guerra, especialmente da forma como ocorreu, destruiu essas ambições, substituindo o ufanismo pelo cinismo e pela desilusão.
A Primeira Guerra teve muitas estreias: metralhadoras, granadas, gás mostarda, tanques, arame farpado, entre outros. Houve um choque entre novas e velhas táticas. Ainda havia cavalos, baionetas e coisas desse tipo. Tem uma minissérie muito boa, de três episódios, sobre o assunto: Our World War. Vale a pena conferir.
Esses são os fatos. Nada de Novo no Front não está primariamente interessado neles.
Publicado em 1929, foi escrito por um veterano da Primeira Guerra. É e não é um livro biográfico ao mesmo tempo. Não é a história de uma pessoa, mas de uma geração. Os soldados rasos, meninos de dezoito anos que foram levados à guerra inflamados por discursos nacionalistas e promessas de heroísmo, mas se deparam apenas com miséria, medo, crueldade, indiferença. Esse livro dói na alma. Estava um tanto em choque quando terminei.
O que fica registrado na história são as manobras políticas, os generais, e algumas histórias incríveis. Mas isso não é guerra. Guerra mesmo, só o soldado, na linha de frente, na trincheira, sabe o que é. Isto é uma das coisas mais perversas da guerra: os responsáveis nunca são os que pagam o preço.
O livro é narrado em primeira pessoa, o que faz você sentir o horror mais de perto. Acompanha um grupo de amigos que cresceram juntos e saíram da escola direto para o front. Não poderia dar certo.
Essa visão honesta rendeu muitos problemas para Remarque, que teve seu livros queimados e a cidadania cassada pelos nazistas. Ele conseguiu escapar dessa fúria, mas sua irmã não teve a mesma sorte. Foi executada por “associação”.
Sinto muito por trazer tanta miséria ao seu dia, mas é necessário. Quem ignora a história, vai repeti-la.
Texto por:
– Dona Tereza –
“Saia do meu gramado!”