Fui ver Ghost in the Shell no escuro. Ensaiei para ver o animê antes, mas só vi depois. E foi melhor assim. Cara, que parada bem feita! O visual está sensacional. A história tá bem maneira também. Virei fã.
O filme é dirigido por Rupert Sanders, de Branca de Neve e o Caçador. Scarlett Johansson é Major. Eu sei. Não interessa o que estão dizendo. Ela fica muito bem de lycra. De tanto ver a cara dela durante o filme, levei um leve choque de realidade quando me vi no espelho logo após a sessão.
Já falei que o visual está um espetáculo?
Pois é, tira isso da sua cabeça. Há diferenças narrativas e filosóficas. E por que não? Para que ter mais do mesmo? Não quer dizer que houve uma “distorção”, mas que os produtores trabalharam em cima de um material muito rico e deram uma cara própria. Enquanto no animê (Oshii, 1995) as questões estão centradas em inteligência artificial, o que é vida ou não e como a vida surge, o filme se preocupa com o que é humano.
Mas não se angustie, fã! Tem muita coisa do animê (e do mangá) presente, principalmente na estética. Só não é um remake, coleguinhas, não era para ser. (Dá uma olhada)
Tem muita gente reclamando (também) que houve uma perda de substância. Peço licença para discordar. Veja por quê:
Tem uma galera superempolgada com toda a evolução tecnológica e biológica das últimas décadas, aguardado ansiosamente o dia em que poderemos nos livrar das limitações corpóreas e atingir todo o potencial físico, intelectual e psicológico que essas inovações podem proporcionar. De minha parte, gosto tanto de tecnologia quanto de ter um corpo, então quero manter os dois. Separados. Obrigada. Até porque ter um corpo cibernético, ou partes dele, tem suas próprias agruras, como você verá no filme.
É claro que isso é uma análise grosseira. Há toda uma filosofia, ou filosofias, por trás do movimento. A ideia geral é que nós atingiríamos o paraíso: eliminação de doenças e sofrimento desnecessário, aumento dos potenciais físicos, intelectuais e emocionais. É uma visão da natureza como um “campo de obras” e do ser humano como matéria-prima a ser melhorada pela tecnologia.
Esta semana, o Elon Musk (novidade) anunciou sua nova companhia, Neuralink, que vai se dedicar ao desenvolvimento de dispositivos para serem implantados no cérebro para que os humanos possam “manter o passo” com uma superinteligência artificial. Ele está apavorado com a perspectiva de sermos “ultrapassados”, e você deveria estar apavorado também. Mas isso é outra história. Tudo é muito incipiente, é claro. Nós ainda temos muita coisa para aprender sobre o cérebro natural para podermos fazer algo artificial. E há também as dificuldades éticas. Como testar isso em humanos? Isso é um tema abordado no filme. O cenário mais provável é que pessoas com problemas graves se candidatariam para o teste. Igual no conto Entenda, do Ted Chiang. Pessoas com danos cerebrais severos recebem uma substância que repara o tecido danificado, e continua o processo indefinidamente, aumentando as capacidades mentais dos indivíduos na mesma proporção da destruição tecidual. Muito louco.
Falando em Ted Chiang, tem outro conto excelente, Setenta e Duas Letras, que fala sobre autômatos. Se passa na era vitoriana e mistura a ciência da época com conhecimentos místicos judaicos. Estou tentando entender até agora. E, falando em autômatos, sabia que essa ideia vem desde a Antiguidade? Existem mitos gregos, como os de Hefesto e Dédalo. Referências também podem ser encontradas na literatura judaica e na chinesa. Não é uma ideia nova querer colocar um “ghost” numa carapaça artificial.
Agora uma reflexão mais clássica: vamos falar de alma, assunto polêmico, pelo menos na cultura ocidental. Tenho a impressão de que, por questões culturais, a audiência original não teria os mesmos pruridos. Mas é só impressão.
Talvez alma não seria a palavra mais correta para expressar o conceito de “ghost” no mangá e no animê. Seria melhor essência, ou uma energia que gera algo. Só que, para os ocidentais, alma faz sentido. Ou self. Sei lá. A ideia de que tem algo imaterial, uma entidade à parte, é um dos temas básicos da filosofia. Penso, logo existo. Mas tudo isso só vale se essa “essência” de fato existe, e não é meramente uma ilusão, produzida por processos físicos no nosso cérebro. Entramos numa discussão que nunca terá fim, já que estamos falando de algo que não pode ser provado nem refutado. Cada um vai continuar vendo evidência que confirma sua crença sobre o assunto.
Mas, em nome da argumentação, assuma que de fato há um “ghost”. Seria possível fazer o upload dele? A transferência dos bits de informação do seu cérebro seria você? Seria possível um San Junipero (eu vou te convencer a ver Black Mirror, cara, uma referência de cada vez)? Ou teria que utilizar seu cérebro físico? O que, teoricamente, diminuiria drasticamente o potencial “transumano”, já que o que nos limita é o corpo?
Minha lógica é a seguinte: se existe um “ghost”, ele não pode ser digitalizado. Se a consciência, o self, ou o quer que seja são mera ilusões produzidas pelo nosso cérebro, então não há limites. Basta fazer a transferência da informação para um outro meio, mais adequado, resistente e avançado. O filme tem uma resposta interessante. E você? De que lado está?
Veja mais:
Valores Trans-humanistas, Nick Bostrom (inglês)
História da sua vida e outros contos, Ted Chiang
Texto escrito por:
– Dona Tereza –
“Saia do meu gramado!”
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