Trocas de mensagens diárias, declarações de amor constantes e… nenhum contato físico. Sim, com a internet, é fácil se apaixonar por quem nunca se viu cara a cara. Mas, quando o apaixonado virtual está em um relacionamento real, surge uma dúvida: o envolvimento emocional, sem ato sexual, é traição? Segundo diferentes estudos, depende do sexo de quem vai responder a essa pergunta. A chamada infidelidade emocional parece incomodar mais as mulheres que os homens.
Uma das pesquisas mais recentes sobre o tema foi publicada no começo do mês na revista especializada Evolutionary Psychological Science por cientistas da Cardiff Metropolitan University, no Reino Unido. Os autores pediram para que 21 homens e 23 mulheres, todos heterossexuais, lessem mensagens fictícias como as trocadas no Facebook e imaginassem que elas tinham sido enviadas por seus companheiros para uma terceira pessoa.
Alguns dos textos eram “provas” de infidelidade sexual (“Você foi a melhor transa que eu já tive. A noite passada foi incrivelmente sexy”) e outros, de infidelidade emocional (“Você deve ser minha alma gêmea. Eu me sinto tão conectado com você, apesar de não termos dormido juntos”). Depois de lerem mensagens assim, os voluntários deviam dizer o quão desconfortáveis se sentiriam se a prova de traição fosse verdadeira.
O resultado: enquanto os homens se estressaram mais com as mensagens de infidelidade sexual, as mulheres se mostraram mais incomodadas que eles com a infidelidade emocional, embora a traição física também fosse algo muito, muito decepcionante. Outra diferença: as mulheres ficavam mais furiosas que os homens quando a mensagem indicava que alguma outra mulher estava tentando seduzir seus companheiros.
Para os pesquisadores responsáveis pelo estudo, Michael Dunn and Gemma Billett, os resultados indicam que os mecanismos tradicionais do ciúme continuam operando de forma semelhante na era digital e que homens e mulheres parecem ter visões diferentes sobre o tema.
A conclusão da dupla corrobora outros estudos feitos anteriormente que também notaram diferença no padrão de ciúmes de homens e mulheres. Um estudo feito nos Estados Unidos em 2016, baseado em uma pesquisa de opinião com cerca de 64 mil homens e mulheres, e outro norueguês, de 2015, chegaram à mesma conclusão: mulheres se incomodam mais que os homens com a infidelidade emocional, e os homens se incomodam mais com a traição sexual.
O que explica os diferentes conceitos de traição?
Grande parte dos cientistas interessados no tema tem uma visão evolucionista do comportamento humano, ou seja, eles buscam explicar a forma como agimos a partir de uma ideia de que, no fim, o objetivo é a reprodução e continuação da espécie. Segundo essa visão, os homens seriam mais preocupados com a infidelidade sexual porque, ao longo de milhares e milhares de gerações, tiveram de lidar com uma dúvida difícil de sanar: esse filho para o qual estou dedicando tempo e trabalho carrega mesmo meus genes?
Como para as ancestrais humanas essa nunca foi uma questão muito importante, a infidelidade sexual parecia menos ameaçadora que a possibilidade de seu companheiro abandoná-la ao se unir a outra parceira. Daí, a preocupação maior com a infidelidade emocional manifestada hoje em dia pelas mulheres. “Essas reações são mecanismos que integram parte da evolução mental da humanidade”, resumiu Mons Bendixen, pesquisador do Departamento de Psicologia da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, quando apresentou seu estudo de 2015, mencionado acima.
A posição de Bendixen e de outros evolucionistas, porém, não é a única. São muitos os cientistas que ressaltam a importância da cultura no surgimento de sentimentos como ciúmes. Para eles, sociedades em que os papéis sociais de homens e mulheres são mais igualitários, o ciúmes tende a se manifestar de forma mais parecida nos dois sexos.