Embora o HPV seja um dos fatores determinantes para o desenvolvimento do câncer ginecológico, a decadência da vacinação contra o papilomavírus humano resulta em um cenário mortal de 8 mil mulheres afetadas por ano
Cânceres ginecológicos são uma das principais causas de morte entre mulheres no Brasil, em grande parte associado à infecção persistente pelo HPV, transmitido principalmente nas relações sexuais sem preservativo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), os tumores que atingem colo do útero, ovário, endométrio, vagina e vulva representam 13% dos casos. Na região Norte, o câncer de colo do útero é a principal causa de morte por câncer entre as mulheres, 15,7% dos casos.
O Grupo EVA e a Frente Parlamentar em Defesa da Saúde das Mulheres (FPS Mulheres) promoveram, nesta terça-feira (16/9), o fórum “Câncer Ginecológico em Debate: Caminhos para a Transformação da Saúde Pública”. Na ocasião, a deputada federal Silvia Cristina (PP-RO), presidente da Frente Parlamentar em Prol da Luta contra o Câncer, destacou a importância da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, sancionada em 2023: “Temos a certeza de que, se diagnosticado precocemente e com ações concretas, nós podemos salvar vidas.”
A negligência da camisinha em muitas relações heterossexuais aumenta a chance de infecção pelo vírus, mas mesmo a proteção não elimina a possibilidade de transmissão, segundo a ginecologista Amanda Mota. “Por isso, além do uso do preservativo, a vacinação contra o HPV é a medida mais eficaz para prevenir o câncer cervical”, reitera.
Embora o HPV seja um dos fatores determinantes para o desenvolvimento do câncer ginecológico, a decadência da vacinação contra o papilomavírus humano resulta em um cenário mortal de 8 mil mulheres afetadas por ano. O sexo desprotegido levanta o debate sobre as consequências da exposição direta ao sêmen e a possibilidade de a ejaculação intravaginal estar relacionada ao desenvolvimento da doença.
Contudo, a especialista explica que a ejaculação intravaginal em si não aumenta o risco de câncer de colo do útero, mas sim o contato pele-pele/mucosa. “Tanto que relações sexuais entre mulheres também podem gerar transmissão do vírus HPV”, exemplifica. Além da vacinação e do preservativo, Amanda indica manter consultas ginecológicas regulares para realizar exames preventivos. “Evitar o tabagismo e manter um estilo de vida saudável ajudam a fortalecer o sistema imunológico, o que pode contribuir para a eliminação do vírus”, acrescenta.
Relações sexuais frequentes sem uso do preservativo aumentam a exposição contínua ao HPV, o que pode dificultar a eliminação do vírus pelo organismo e favorecer a persistência da infecção, conforme Amanda. Essa persistência é um dos principais fatores para o desenvolvimento de lesões que podem evoluir para o câncer do colo do útero. “Ou seja, não é a frequência das relações em si que acelera a evolução, mas sim a falta de proteção, que permite reinfecções e mantém o vírus ativo por mais tempo no organismo”, resume.
Já mulheres com múltiplos parceiros sexuais estão, sim, mais expostas ao risco de diferentes tipos de HPV. Mesmo que em relacionamentos monogâmicos o risco seja menor, a especialista salienta que ele ainda existe — e não pode ser negligenciado. “Não sabemos o status de HPV da parceria, e o vírus pode reativar mesmo após anos da exposição”, explica.
Mesmo com a vida sexual iniciada, a ginecologista aponta a importância da vacina para todas as mulheres. “É fundamental desmistificar informações equivocadas para que mais jovens se protejam”, afirma. “Atualmente o SUS disponibiliza a vacina quadrivalente contra o HPV, que protege contra o HPV 6, 11, 16 e 18. O sistema privado disponibiliza a vacina nonavalente, que cobre os 4 subtipos anteriores e mais o 31, 33, 45, 52 e 58, aumentando ainda mais a abrangência e proteção. Essa última está disponível para mulheres e homens de 9 a 45 anos, exceto gestantes.”
Os exames regulares — papanicolau, teste de HPV-DNA e colposcopia — são essenciais para detectar precocemente alterações que podem evoluir para câncer, mas eles não impedem a infecção pelo HPV. Amanda argumenta que a combinação do uso correto do preservativo, vacinação e rastreamento periódico é a forma mais segura de prevenir o câncer de colo do útero.
HPV em pauta
Oncologista clínica e Presidente do Grupo EVA, Andrea Paiva Gadelha Guimarães lembra que existe mais de um tipo de preservativo, entre masculino, feminino e para sexo oral. “O câncer de colo de útero está intimamente ligado ao vírus HPV. A ejaculação vaginal sem uso de preservativo pode, sim, aumentar o risco da transmissão”, declara.
Andrea alerta que a coexistência do HIV com o HPV de alto risco aumenta as chances de cânceres mais agressivos. “Por isso, é muito importante o uso do preservativo, muito embora ele não zere completamente o risco de transmissão”, diz. “Este é um câncer que conseguimos prever o comportamento. E como a exposição ao HPV é muito grande no mundo, sabemos quando prevenir e diagnosticar precocemente.”
A oncologista ressalta a importância do rastreio e da educação sexual: “Quanto mais informação de qualidade tivermos, mais conseguimos tomar decisões conscientes e formar multiplicadores de boas informações para a comunidade e para as famílias”.


