Bia Hamamoto Crédito: Micaell Rodrigues

Pole dance: das danças sensuais de strippers à prática esportiva contemporânea

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Além de uma prática comum em casas de entretenimento adulto, o pole dance se tornou, também, um esporte, classificado em entidades internacionais como a Global Association of International Sports Federation (GAISF). A modalidade de exercício que exige força muscular, além de sensualidade, flexibilidade e acrobacias, já que deriva da cultura de strippers.

Segundo a pole dancer e tradutora Bia Hamamoto, há uma tentativa de apagar as origens da prática por preconceito da sociedade e das próprias pole dancers, até para não sofrer preconceito. “Acredito que seja importante (re)conhecer a história de qualquer prática, até como forma de respeito e agradecimento às pessoas que a criaram e possibilitaram que continuássemos praticando, independente do contexto”, pontua. 

O exercício surgiu de clubes de strip, quando as mulheres utilizavam da dança sedutora para atrair clientes, explica Bia. O nome do exercício vem da dança, que é feita com barras. No entanto, a dança acrobática em barras deriva de shows eróticos itinerantes que se popularizaram no fim do século XVIII na Europa e América do Norte.

“Quando falamos da origem do pole dance, também costumam ser citadas práticas esportivas como o mastro chinês (aparelho de circo) e o mallakhamb (esporte tradicional indiano), mas apesar de algumas movimentações serem semelhantes o próprio aparelho utilizado é diferente: o mastro chinês utiliza uma barra emborrachada e o mallakhamb é praticado em um poste de madeira”, esclarece. 

De acordo com Bia, foram as strippers que popularizaram a sensualidade da dança no ocidente, que com o tempo foi levada para salas de aula como uma alternativa de atividade física que trabalha força, flexibilidade e expressividade.

Pole Dance pela perspectiva de uma stripper

Stripper, dançarina e modelo, Thata Moranguinho lembra que a performance não acompanha necessariamente o trabalho de garota de programa. Ela diferencia a arte de outros entretenimentos adultos ao destacar a dança e a provocação visual. “Eu amo dançar, sou apaixonada pela dança que mexe com a imaginação.”

Ela revela que o maior preconceito contra strippers vem das próprias mulheres, que muitas vezes associam a profissão à falta de caráter ou traição. Tanto que a rotina não envolve somente subir no palco e tirar a roupa: “A gente estuda durante uma semana, escolhe roupas, coreografias, músicas. Tem um preparo intenso para entregar um show legal.” 

Thata destaca que o pole dance envolve movimentos técnicos na barra, como giros e subir de ponta-cabeça, combinados com dança no chão e sensualidade. Apesar de ainda estar aprendendo a prática, a stripper gosta de misturar pole dance, strip e outros estilos como black e funk para tornar seus shows variados e envolventes.

No Brasil, o pole dance ainda carrega o peso dos preconceitos que não são tão fortes em outras culturas, onde a prática é vista de forma mais plural e natural. Essa distância cultural revela como a nossa sociedade ainda está aprendendo a lidar com a liberdade de expressão corporal e a diversidade das formas de arte ligadas à sensualidade. 

Nem sempre é sensual

O preconceito com o esporte vem do tabu sobre a sexualidade e a marginalização de profissionais do sexo, afirma Bia. “Praticar pole dance não significa que você é um(a) stripper. Trabalhar sua sexualidade também não significa que você tenha que ser sensual, pode significar que você vai apenas ficar mais confortável com seu próprio corpo e com o que ele é capaz de fazer”, pontua.

Embora toque o sensual, o pole também pode ser desnecessariamente sexualizado. Bia explica que quem pratica, busca uma forma de movimentação que lhe faz bem, o que pode significar ser sensual ou não. Já a pouca roupa no pole não é apenas uma expressão da sexualidade em si, mas é necessária por causa do grip: a aderência na barra. O contato com o metal e a pele é essencial para a prática, mas ela ressalta a existência de roupas compridas especializadas que possibilitam os movimentos com o corpo mais coberto. 

Assim como no caso de outras danças, ela reforça o lado recreativo da prática: “As praticantes podem atuar profissionalmente como atletas, performers e professoras. É para todo mundo, você só precisa descobrir qual vertente te agrada mais! ”.