Maio é comemorado o mês internacional da masturbação e especialistas alertam sobre os tabus em relação ao tema e dão dicas de como conhecer o próprio corpo
Helena Dornelas* — Desde 1995, maio representa o mês da masturbação nos Estados Unidos. A data foi criada para homenagear a médica Joycelyn Elders, primeira secretária de saúde negra do país. A médica foi demitida por Bill Clinton em 1994, após defender em uma conferência de combate à Aids da ONU, a inclusão da masturbação na educação sexual nas escolas.
Para ir contra o conservadorismo e debater sobre os tabus da masturbação, a sexóloga Carol Queen organizou o evento Masturbate-A-Thon, em 5 de maio de 1995, na cidade norte-americana de São Francisco, e logo depois a data se tornou um marco na luta pela educação sexual. A data ainda não é oficial no Brasil, mas não deixa de ser lembrada e discutida pelos brasileiros.
Sobre a masturbação, principalmente a feminina, a sexóloga Tâmara de Oliveira Dias, de 36 anos, explica que o auto toque é importante porque libera endorfinas, adrenalinas, citocinas e vários outros hormônios do bem-estar, além de ajudar na imunidade, na qualidade do sono e diminui as dores de cólicas menstruais. Mas a terapeuta sexual frisa ainda que o mais importante é a autonomia, independência e responsabilidade da pessoa com o próprio prazer.
“A masturbação ajuda na autoconhecimento, ajuda a aumentar o nosso repertório erótico, ajuda a verificação da resposta sexual, traz essa responsabilidade do prazer para a gente e não mais pro outro, e isso tudo, consequentemente, melhora as relações sexuais com a nossa parceria”, detalha a profissional.
Já Taynara Pires, de 27 anos, dona de um loja on-line de produtos para o prazer feminino acredita que a masturbação é um autocuidado e não está resumida aos órgãos sexuais. “Muito além dos órgãos sexuais, começa na mente, no desejo, descobrir que sensações provocam essas reações, os locais do seu corpo que são mais ou menos sensíveis, que tipo de toque, velocidade e intensidade te deixam mais confortáveis, até sua própria anatomia, como a altura do seu colo do útero e os diferentes estágios do ciclo”.
A empresária explica que na vida adulta a masturbação é um autoconhecimento e traz maturidade para o prazer, a preocupação não deve ser sobre os hormônios — ou outras pessoas —, mas sim sobre experimentar novas sensações, as mudanças do corpo, e próprios gostos e desejos e futuramente levar isso para as relações com outras pessoas.
Tâmara também explica que a masturbação está relacionada ao desenvolvimento pessoal e sexual. “A sexualidade é uma energia que é inerente ao ser humano, ela vai se manifestar de diferentes formas em todas as fases da nossa vida. A gente percebe que a masturbação funciona como meio e uma ferramenta.”
A importância (e dificuldade) de lidar com o tabu
A psicóloga sexual entende que o carinho pessoal na masturbação é tão inerente ao ser humano que deve ser algo naturalizado, desenvolvido e discutido de forma mais ampla. Mesmo sendo tão importante, contudo, Tâmara pontua que a masturbação ainda é um tabu, e ainda é tratado com tanto distanciamento. Entre as razões, a especialista indica que a religião construiu um conceito de certa segregação sobre o assunto.
“A igreja separou o corpo da alma, então tudo que está ligado ao corpo está ligado ao pecado está ligado ao sujo. Então quando houve essa separação entre a alma começou os tabus. O tabu é o sexo oral, anal, é em todas as coisas desse tipo. É um tabu porque além de estar ligado à religião, a sociedade infelizmente reforça, existe um reforço cultural para que a gente veja a sexualidade como algo pecaminoso. E principalmente para nós mulheres”.
Quando falamos de sexo a discussão de gênero não pode ser esquecida, a sexóloga explica também que os homens são estimulados a se auto erotizar bem mais cedo do que as mulheres. “O homem é estimulado a ter autonomia do seu próprio prazer. Por isso quando o sexo passa a ser em dupla, ele tem muito mais noção para chegar a um orgasmo. A importância da masturbação também está aí, principalmente no caso das mulheres, que conhecendo o próprio corpo podem ter prazer independente se estão sozinhas ou acompanhadas.”
Masturbação sem culpa
De acordo com as especialistas, a masturbação faz parte do desenvolvimento sexual e pessoal, e para isso é preciso ter experiências sem culpa, sem vergonha, caminhando junto com a boa autoestima, amor próprio e independência. “A frase ‘você só sabe se gosta ou não se experimentar’ se encaixa bem nesse contexto, nosso corpo possui inúmeras zonas erógenas, que nos proporcionam sensações e prazeres em maior ou menor grau, a depender da pessoa, e isso a gente só descobre se explorar as nossas próprias peculiaridades”, defende Taynara.
Além de todos os benefícios já citados, Tâmara explica que o maior benefício da masturbação é a responsabilidade sexual: “Quando eu me responsabilizo pelo meu prazer o outro é um complemento, e assim a relação sexual se ressignificar. A gente consegue ver que a relação sexual não é mais só para eu proporcionar o prazer sexual para o outro, e sim uma dança. Acaba virando realmente uma troca.”
O mercado do prazer
Atualmente, após muitas lutas, como a da médica Joycelyn Elders, existe um mercado voltado para o prazer, saúde íntima e descobertas do corpo. Homens e mulheres têm a disposição de brinquedos, géis, cremes voltados para a autodescoberta do prazer. Taynara dá indicações para quem está começando nesse universo.
“Antes de comprar produtos eróticos ou sensuais, comece conhecendo as áreas erógenas do seu corpo, nuca, seios, orelhas e lugares menos óbvios como atrás do joelho ou cotovelos. Os géis provocam sensações que esquentam ou esfriam, por exemplo, mas cuidado, comece com pouca quantidade porque pode ser que você seja mais sensível e a sensação seja muito intensa, o que pode causar hipersensibilidade.”
“Existem opções com várias vibrações e elas são pequenas e discretas, e você pode explorar todo o corpo, além de ser uma opção legal para usar junto com o parceiro. Por último, a dica de ouro, o lubrificante é seu melhor amigo. Usem sempre, pois por mais que você tenha uma boa lubrificação natural, o brinquedo sexual não tem”, conclui.
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes