Menopausa e sexualidade: como enfrentar os sintomas e redescobrir o prazer

Compartilhe

A menopausa é uma fase natural da vida da mulher e pessoas com vulva, mas as mudanças que ela traz, tanto físicas quanto emocionais, podem gerar dúvidas e inseguranças — especialmente quando o assunto é sexualidade. A apresentadora Fernanda Lima reacendeu esse debate em entrevista ao Fantástico, quando compartilhou como o período afetou o casamento com Rodrigo Hilbert.

“O mais chocante da menopausa, pra mim, foi perder a libido. Não ter vontade de transar é um negócio que me afeta. Me afetou como mulher e afetou de alguma maneira meu casamento”, declarou.

Quase 30 milhões de brasileiras estão na fase do climatério (período de transição do fim da etapa reprodutiva e entrada na pós-menopausa) e da menopausa, segundo o IBGE. No entanto, apenas 238 mil receberam diagnóstico no SUS, evidenciando subnotificação. Já a revista científica Climateric revela que 82% desse grupo enfrenta sintomas que afetam diretamente sua qualidade de vida.

A sexóloga e psicóloga Alessandra Araújo explica que, para muitas mulheres,  a sensualidade e o desejo estão diretamente ligados à juventude, à fertilidade ou a padrões de beleza — questões transitórias na menopausa. “O corpo muda, e com ele a percepção de si mesma. É natural que a mulher se questione sobre o seu valor e sua atratividade. A autoestima pode ser abalada pela sensação de estar perdendo algo, ou de que não é mais ‘desejável’ no sentido que antes conhecia.”, justifica.

No entanto, a especialista sugere uma abordagem diferente: “A sensualidade não se limita à biologia ou à aparência. Ela é uma energia vital que vem de dentro, da forma como nos sentimos em nossa própria pele. A mulher que se redescobre na menopausa aprende a focar em novas fontes de prazer e confiança, explorando o que realmente a faz se sentir bem.”

As montanhas-russas hormonais e emocionais da menopausa são os principais fatores da falta de libido. Alessandra exemplifica irritação, ansiedade e tristeza sem motivo aparente — emoções que se tornam barreiras reais para a intimidade e o prazer. A ginecologista Amanda Mota complementa que o nível de estrogênio apresenta queda nesse período, resultando no afinamento da mucosa vaginal, ressecamento, menor lubrificação, alteração do pH e maior vulnerabilidade a pequenas lesões.

“Essas alterações podem resultar em dor durante as relações sexuais e, quando vivida de forma recorrente, podem impactar negativamente o desejo sexual”, resume Amanda. Tal conjunto de sintomas é conhecido como síndrome geniturinária da menopausa, descrita tanto pela North American Menopause Society quanto pela British Menopause Society.

Para ressignificar a sexualidade na menopausa, a psicóloga argumenta que o prazer pode ser encontrado em uma variedade de experiências sensoriais e emocionais. A masturbação, por exemplo, é uma ótima ferramenta para entender o que dá prazer agora, pois a sensibilidade pode ter mudado, de acordo com Alessandra.

O reconhecimento precoce e o tratamento adequado são fundamentais para reduzir esses impactos, conforme a ginecologista. Ela indica o uso de lubrificantes vaginais e terapia hormonal, caso o acompanhamento médico sinalize. “A mensagem mais importante é: não normalize o desconforto íntimo como algo inevitável da menopausa. Buscar orientação médica é essencial, pois há recursos disponíveis para preservar a saúde sexual”, completa Amanda.

O diálogo com o(a) parceiro(a) é essencial para que isso aconteça, já que a falta de comunicação pode gerar inseguranças, mal-entendidos e um distanciamento gradual. “É fundamental que o parceiro entenda que as mudanças não são capricho ou falta de interesse, mas sim reflexos de uma transição hormonal e emocional”, afirma Alessandra.

A menopausa pode transformar profundamente a vivência da sexualidade, mas não precisa ser encarada como o fim do desejo ou da intimidade. Com informação, acompanhamento médico e abertura ao diálogo, é possível enfrentar os sintomas, ressignificar o prazer e fortalecer vínculos afetivos.

Confira 5 dicas da sexóloga para ajudar na jornada da menopausa:

  • Mapeamento do Prazer: A masturbação consciente é uma ferramenta poderosa. Reserve um tempo para você, em um ambiente relaxante. Use um óleo ou creme e explore seu corpo com curiosidade, sem a pressão de chegar ao orgasmo. O objetivo é redescobrir as zonas de prazer, entender as novas sensações e reaprender a se conectar com seu próprio corpo.
  • Comunicação Afetiva: Em vez de falar sobre os “problemas”, foque em expressar os sentimentos e as necessidades. Use frases como “Eu me sinto insegura quando…” ou “Eu adoraria que tentássemos…”. Isso evita acusações e cria um ambiente de cooperação. Falar sobre o que se deseja, e não sobre o que está faltando, é muito mais construtivo.
  • Terapia de Casal ou Sexoterapia: Se a comunicação estiver travada ou se os desafios forem grandes demais para serem resolvidos sozinhos, buscar um profissional é um ato de amor. Uma sexoterapeuta pode mediar a conversa, fornecer ferramentas e exercícios e ajudar o casal a entender as dinâmicas que estão em jogo. A terapia oferece um espaço seguro para explorar os medos e as fantasias, reconstruindo a intimidade.
  • Mindfulness e Presença: Práticas de atenção plena podem ser transformadoras. Ao invés de focar no passado (“como era antes”) ou no futuro (“e se nunca mais for igual?”), a mulher é incentivada a focar no momento presente, nas sensações, no toque, no cheiro e no som. A atenção plena nos permite sair da cabeça e entrar no corpo, o que é essencial para a excitação.
  • Diário da Sensualidade: Mantenha um diário para registrar o que te faz sentir bem e sensual. Pode ser um banho relaxante, uma massagem, uma música que te acalma, um elogio de um amigo, ou um momento de carinho. Registrar esses pequenos prazeres ajuda a mudar o foco do “problema” para as soluções e a perceber que a sensualidade e o prazer estão presentes em sua vida, mesmo que de formas diferentes.
Bianca Lucca

Posts recentes

Os benefícios do sexo matinal no humor e desempenho profissional

Como começamos o dia pela manhã pode ditar o nosso humor até as primeiras horas…

4 dias atrás

Orgasmo noturno: Gozei dormindo, o que isso significa?

Acordar e perceber que gozou dormindo é mais comum do que parece, e não acontece…

6 dias atrás

Os perigos da popularização do estrangulamento erótico

A asfixia durante o sexo se tornou uma prática comum na vida íntima de jovens…

2 semanas atrás

Sexóloga evangélica ensina prazer no sexo para mulheres e casais cristãos

A trajetória de Kariely de Andrade, 27 anos, começou no consultório, mas tomou outro rumo…

2 semanas atrás

Iniciação tardia, preliminares e sexo virtual: a nova vida sexual no Brasil

O panorama da vida sexual dos brasileiros mudou de forma significativa desde 2005. Duas décadas após o…

2 semanas atrás

Crônica – O dia em que dei um vibrador para minha irmã mais nova

Desde cedo, a socialização sexual performa um duplo julgamento baseado em gênero. Os que nasceram…

3 semanas atrás