A masturbação é comum em todo o reino animal, mas é especialmente prevalente entre os primatas, incluindo os humanos. Agora, nova pesquisa investiga como o ato ajudou na evolução
Um estudo realizado por pesquisadores de antropologia da University College London, da Inglaterra, e publicado no último dia 7 de junho na revista científica Proceedings of The Royal Society B, aponta que a masturbação teve um papel importante na evolução humana.
A masturbação é comum em todo o reino animal, mas é especialmente prevalente entre os primatas, incluindo os humanos. Historicamente, esse comportamento era considerado patológico ou um subproduto da excitação sexual, e as observações registradas eram muito fragmentadas para entender a distribuição, história evolutiva ou significado adaptativo do ato.
No estudo recém publicado, contudo, as descobertas indicam que a masturbação é uma característica antiga em primatas e que, pelo menos nos machos, aumenta o sucesso reprodutivo e ajuda a evitar infecções sexualmente transmissíveis (DSTs).
A Dra. Matilda Brindle, da University College London Anthropology, e seus colegas, reuniram o maior conjunto de dados de masturbação de primatas, com informações de quase 400 fontes, incluindo 246 trabalhos acadêmicos publicados e 150 questionários e comunicações pessoais de primatologistas e tratadores de zoológicos.
A partir desses dados, os autores rastrearam a distribuição do comportamento autossexual entre os primatas, para entender quando e por que ele evoluiu, tanto em fêmeas quanto em machos.
A equipe descobriu que a masturbação tem uma longa história evolutiva entre os primatas e provavelmente estava presente no ancestral comum de todos os macacos e símios (incluindo humanos). Não ficou claro, no entanto, se o ancestral dos outros primatas (lêmures, lóris e társios) se masturbava, principalmente porque os dados eram mais escassos para esses grupos.
Para entender por que a evolução produziria esse traço aparentemente não funcional, a Dra. Brindle e os colegas testaram algumas hipóteses.
Hipótese da seleção pós-copulatória
A hipótese da “seleção pós-copulatória” propõe que a masturbação ajuda na fertilização bem-sucedida, podendo ser alcançado de duas maneiras.
Primeiro, a masturbação sem ejaculação pode aumentar a excitação antes do sexo. Esta pode ser uma tática particularmente útil para machos de baixo escalão com probabilidade de serem interrompidos durante a cópula, ajudando-os a ejacular mais rápido.
Em segundo lugar, a masturbação com ejaculação permite que os machos liberem sêmen inferior, deixando o esperma “fresco” e de alta qualidade disponível para o acasalamento, com maior probabilidade de superar os de outros machos. Os pesquisadores encontraram suporte para essa hipótese, mostrando que a masturbação masculina co-evoluiu com sistemas de acasalamento multi-macho, ou seja, onde a competição entre machos é alta.
Hipótese de prevenção de patógenos
A “hipótese de prevenção de patógenos” propõe que a masturbação masculina reduz a chance de contrair uma DST após a cópula, limpando a uretra (um local primário de infecção para muitas DSTs) com a ejaculação obtida por meio da masturbação. A equipe também encontrou evidências que corroboram essa hipótese, mostrando que a masturbação masculina co-evoluiu com uma alta carga de DSTs na árvore genealógica dos primatas.
Masturbação feminina
O papel da masturbação feminina na evolução, segundo os pesquisadores, ainda permanece “menos claro”. Existem menos relatos descrevendo-a, o que diminui o poder analítico das estatísticas. A equipe argumenta que são necessários mais dados sobre o comportamento sexual feminino para entender melhor o papel evolutivo da masturbação feminina.
A pesquisadora principal, Dra. Brindle, afirma que: “Nossas descobertas ajudam a esclarecer um comportamento sexual muito comum, mas pouco compreendido, e representam um avanço significativo em nossa compreensão das funções da masturbação. O fato de que o comportamento autossexual pode servir a uma função adaptativa é onipresente em toda a ordem dos primatas e demonstra que a masturbação é parte de um repertório de comportamentos sexuais saudáveis”.
O estudo, apoiado pelo Conselho de Pesquisa do Ambiente Natural, envolveu pesquisadores da UCL Anthropology, do UCL Centro de Pesquisa em Biodiversidade & Meio Ambiente e da Queen Mary University of London.