Entre os benefícios da prática estão a consciência corporal, a ressignificação do prazer, o auxílio no tratamento para disfunções sexuais e o aumenta da libido; entenda
A busca pelo autoconhecimento e a potencialização do amor-próprio é uma constante na vida das pessoas, existindo diversas maneiras de se empenhar nessa missão. A sexualidade é um desses caminhos. O tantra, filosofia oriental originária da Índia, apresenta como um dos braços da tradição sexual: a massagem tântrica. O Correio conversou com as terapeutas de sexualidade e tantra Daricha e Nalini, que estão à frente da escola da sexualidade sagrada, Atman Consciência & Tantra, para compreender melhor a prática, como inclui-la no dia a dia e — principalmente — descobrir os benefícios que ela traz.
As terapeutas explicam que a massagem tântrica é uma experiência de contato consigo mesmo. Um mergulho sensorial e expansivo que libera as tensões diárias, ressignifica o prazer onde se pode vivenciar um contato profundo com seu interior através de toques que percorrem todo o corpo e também os genitais.
“Estamos falando de ampliação da percepção corporal, desgenitalização do prazer e expansão da sensibilidade. O objetivo é trazer uma nova perspectiva sobre a sexualidade e o prazer. O orgasmo se expande desde os pés até a cabeça. Sim, estamos vivendo um orgasmo limitado e uma vida sexual empobrecida”, pontuam.
Entre os benefícios da prática estão a consciência corporal, a ressignificação do prazer, o auxílio no tratamento para disfunções sexuais e o aumenta da libido. Daricha e Nalini esclarecem que a prática é indicada para qualquer pessoa que tenha interesse em conhecer mais o próprio corpo e suas potencialidades. Além disso, é indicado também para quem está passando por algum transtorno sexual, para quem quer se conectar mais ao parceiro ou busca ferramentas para sentir mais prazer.
“Talvez algumas pessoas esperem técnicas mirabolantes, mas o Tantra é muito simples, é o resgate do toque com presença e intenção amorosa. Nosso dia a dia sobrecarregado nos impede de pararmos um tempo para dar atenção ao que realmente importa”, esclarecem.
Não há restrições quando o assunto é dar e receber prazer. Você pode aprender as técnicas da prática e incorporar no seu dia a dia. Existem cursos personalizados particulares individuais e para casais, retiros espirituais imersivos onde solteiros e casais aprendem e vivenciam a massagem tântrica em meio à natureza e também workshops exclusivos para casais onde é ensinada a arte do Maithuna, o sexo tântrico.
Após a realização do curso, chegou a hora de aplicar as técnicas aprendidas. Dentre elas estão o toque em áreas que normalmente não são tocadas, de uma forma que normalmente não tocamos; a respiração de forma profunda e relaxada; e utilização de movimentos do quadril para potencializar o prazer.
“Um olhar mais atento para si e para o outro, mais intimidade, conexão e criatividade são as consequências. A experiência segue no corpo, no sentir. Fazer amor ganha conexão, troca, atenção e cumplicidade. A única contra indicação é viver uma vida sexual pobre e limitada”, acrescentam.
As palavras de quem já se beneficiou com a prática
Telma Venturelli e William Katagiri são dois exemplos de pessoas que fizeram a formação e aplicaram a filosofia em suas vidas. A professora Telma, 56 anos, teve o primeiro contato com a massagem tântrica para tratar uma anorgasmia (dificuldade ou incapacidade de chegar ao orgasmo).
“Com a ajuda do terapeuta que me atende há cinco anos, descobri os motivos que me levaram a desenvolver a anorgasmia como forma de autodefesa. Descobri também que a pele guarda cicatrizes visíveis e invisíveis das nossas feridas. Não foi fácil entender o que realmente havia acontecido comigo, logo no comecinho da vida e que me trouxe severas consequências em termos de saúde psíquica, física e principalmente nas relações interpessoais”, relata.
“Meu tratamento continua, a anorgasmia tem sido superada, as feridas emocionais tratadas com a devida competência e delicadeza que eu precisava”, completa Telma.
Além do tratamento contra a anorgasmia, ela aponta outros benefícios do tantra, entre eles uma menopausa quase sem sintomas. “O trabalho feito na massagem se refere ao equilibro bioenergético do corpo, logo isso afeta maravilhosamente a parte hormonal”, explica.
“Desde que comecei a ser tratada com a massagem emagreci 24 quilos, deixei de tomar remédios psiquiátricos, sou uma pessoa sorridente e cheia de planos”, conta.
Já o biólogo William, 43 anos, teve o início da relação com o tantra como uma curiosidade, um desejo de descobrir mais prazer na vida sexual e que evoluiu para uma maior conexão entre ele e a esposa. “Descobrimos o prazer de nos olharmos, de sentir o cheiro e o gosto da nossa pele, de sentir o carinho e o amor do nosso toque”, relata.
Ele conta que esse primeiro contato evoluiu para outras experiências com participação na Jornada tântrica e até a pós-graduação em Terapias Integrativas e Sexualidade Humana com Ênfase em Tantra.
“Na jornada fomos mais profundamente em nossas emoções, curando nossas feridas e descobrindo o quão poderoso é ter orgasmos múltiplos, de platô e secos e que nos conecta com o divino que temos dentro de nós”, explicou ele.
Já na imersão da pós-graduação, ele conta que curou a dor infantil que buscava aceitação do mundo e que o transformava em uma marionete, ao invés de conseguir crescer como adulto e ter o controle da vida emocional.
“O tantra para mim é mais do que uma palavra que tem uma conotação pejorativa, pornográfica, vinculada a luxúria. Foi a coisa mais terapêutica que eu já vivi. Acabei me aceitando mais, aceitando meu corpo e minha mente; saindo do prazer genital e passando a ter mais prazer com tudo: com o vento que toca minha pele, com os pássaros que cantam nas árvores, comigo mesmo, me deixando com um sentimento de completude e amor por tudo que há na Terra”, revela o biólogo.