Segundo especialista, a traição está relacionada à nossa história de aprendizado em relação ao proibido
A Radiografia da Infidelidade e Infiéis no Brasil 2022 aponta que oito em cada 10 pessoas já foram infiéis nos relacionamentos. Os dados são do aplicativo de encontros Gleeden e que ouviu 460 mil pessoas no país. Mas por que será que as pessoas traem?
O Correio conversou com a psicóloga Juliana Moraes para entender o que leva uma pessoa a trair, mesmo amando o parceiro(a).
Para que a infidelidade ocorra é necessário que haja a quebra do acordo de exclusividade de um relacionamento. Segundo a especialista, a traição é uma experiência subjetiva. Significa dizer que o motivador para a infidelidade varia de acordo com a percepção de cada pessoa e com a forma como ela encara a traição.
Ela ressalta que a crença de que as mulheres traem para fugir da solidão no casamento, em busca de uma relação mais íntima, e de que os homens traem por tédio e para fugir de relações mais profundas, apresenta tom moralizador. Isso restringe a traição a um problema do casal ou do indivíduo falho, descartando qualquer processo cultural.
Por isso, antes de pensar a traição como um sintoma de um relacionamento que deu errado ou comportamento de pessoas falhas e sem caráter, é necessário que o casal alinhe suas expectativas, exponha os seus limites e vontades.
“Não podemos desconsiderar o processo cultural dentro da infidelidade. A falta de diálogo, de exposição de ideias e de valores que interferem nesse processo. A infidelidade diz muito sobre os pares, mas fala mais sobre o casamento como uma instituição”, pontuou a psicóloga.
O estudo mostra ainda que os homens são mais infiéis que as mulheres. A psicóloga explica que isso ocorre por conta do contexto histórico. O homem sempre teve uma liberdade sexual maior. Por isso, a falta de fidelidade masculina era considerada um pecado perdoável, um mal inevitável.
“Já a sexualidade feminina foi podada e controlada. A mulher considerada como ideal para casar era a pura, generosa, fiel e assexuada. Com isso, a fidelidade conjugal era sempre tarefa da mulher. O recato e a virgindade eram valorizados, assim como a submissão e obediência ao marido”, explica.
Segundo Juliana, esse contexto histórico entende como natural a traição masculina, tornando-a mais comum e aceitável. Isso por que sempre foi incentivada a virilidade masculina pautada e medida pelo desempenho e número de relações sexuais. “Ao contrário do contexto feminino em que se destaca uma exigência moral muito mais rígida e restrita”, completou.
Ainda segundo a pesquisa, sete em cada 10 brasileiros consideram que é possível amar e ser infiel. Para a especialista, uma das possíveis explicações para a traição, mesmo em casos em que há amor pelo parceiro, está relacionada à nossa história de aprendizado em relação ao proibido.
“A transgressão está no cerne da natureza humana, desde a infância sente-se um prazer em fazer algo e não ser pego, se esconder, ser sorrateiro, temer ser descoberto. E, ao escapar ileso, sentir-se potente, orgulhoso e com a sensação de estar no controle da situação”, avalia.
Juliana acrescenta que, quando adultos, isso se torna um potente afrodisíaco. O risco de ser pego em flagrante fazendo alguma travessura ou obscenidade, a quebra dos tabus, ultrapassar os limites torna toda essa experiência excitante.
Confira a Radiografia da Infidelidade e Infiéis no Brasil 2022 completa pelo link.
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