Guia do squirt: o que é a ejaculação feminina e como atingir o esguicho

Publicado em Vagina

Na hora em que acontece, a reação costuma misturar surpresa e constrangimento. Para muitas mulheres, o squirt não vem acompanhado de euforia performática, mas de um silêncio espantado, risos nervosos ou até do reconhecimento do próprio corpo em um território pouco falado. Para entender melhor como atingi-lo, o que facilita e se todas as mulheres podem ter, o Blog Daquilo conversou com a médica ginecologista Jessica Lucena Wolff. Confira:

Poucas pesquisas 

Embora reconhecido na medicina como uma resposta fisiológica real, o squirt ainda não é completamente compreendido — especialmente porque há grande variação entre mulheres, dificuldade de padronizar estudos e confusão histórica entre squirt e ejaculação feminina. 

Segundo a especialista, muitos autores chegaram a um consenso para descrever o esguicho: “Uma expulsão involuntária de grande volume de líquido pela uretra durante excitação sexual, com mecanismos que podem envolver a bexiga e, em menor grau, secreções parauretrais.”

Toda mulher consegue atingir? 

“Varia de pessoa para pessoa”, resume a ginecologista. “Algumas mulheres relatam com frequência; outras nunca vivenciam.” A variabilidade individual pode ser ditada por anatomia, neurofisiologia, ou contexto sexual e emocional. Vale ressaltar que a ausência do squirt não significa disfunção e nem um sexo melhor ou pior.  

Mesmo que não exista um marcador anatômico único e definitivo, Jessica explica que a estrutura vaginal pode dificultar ou facilitar a resposta. “Estruturas do complexo clitóris–uretra–parede vaginal anterior e as glândulas parauretrais (glândulas de Skene, às vezes chamadas de “próstata feminina”) entram nas hipóteses para explicar por que algumas mulheres têm mais facilidade do que outras”, esclarece. 

Quero tentar, por onde começo?

Nível de excitação, estimulação adequada e condições de segurança/relaxamento contemplam a chegada até o squirt. Sem um manual universal, a especialista aponta que a técnica depende do autoconhecimento corporal de identificar estímulos prazerosos. “Pressão por performance costuma atrapalhar”, acrescenta. 

Em termos descritivos, relatos e revisões associam maior chance de esguicho com a combinação de alguns fatores: estimulação do clitóris (externa e/ou do complexo interno), estimulação da parede vaginal anterior/área periuretral, excitação progressiva com tempo, lubrificação e relaxamento do assoalho pélvico (sem “forçar”). 

Orgasmo e squirt

Nem sempre o squirt acompanha o orgasmo. Conforme Jessica, o esguicho pode acontecer antes, durante ou depois do ápice. “A medicina sexual descreve essa dissociação como possível e relativamente comum”, aponta. Vale lembrar que muitas têm o orgasmo sem o squirt.

Ponto G 

Existe ainda uma forte relação popular entre o ponto G e o squirt. No entanto, a ginecologista disserta que a ideia do local como uma estrutura anatômica única, bem delimitada e igual em todas as mulheres não é comprovada.

“Revisões sistemáticas mostram falta de concordância entre estudos sobre existência, localização e natureza do chamado G-spot”, afirma. “Hoje, muitos especialistas preferem explicar como uma zona de maior sensibilidade na parede anterior relacionada ao complexo clitóris-uretra-vagina, e não como um ‘botão universal’.”

Ejaculação feminina, urina ou mistura? 

O líquido expelido no ato pode gerar confusão. Jessica detalha que os melhores estudos com ultrassom e análise bioquímica sugerem que, no squirting (especialmente quando há grande volume), o líquido vem principalmente da bexiga, com composição semelhante à urina (por exemplo, presença de ureia/creatinina), podendo haver mistura variável com secreções parauretrais. 

Paralelamente, a ejaculação feminina é descrita como um fenômeno de pequeno volume, mais associado às glândulas de Skene e componentes como PSA (Antígeno Prostático Específico) — proteína produzida pela próstata (nas mulheres, as glândulas de Skene). Basicamente, a diferença entre os dois fenômenos é de onde o líquido é expelido. “Ou seja, são eventos que podem ser relacionados, mas não necessariamente idênticos”, completa a especialista. 

Nunca expeli líquidos, posso aprender?

Questionada se mulheres que nunca tiveram squirt podem aprender a atingir essa resposta, Jessica resume que o foco deve ser prazer e autonomia, não “obrigação”. “Quando a mulher quer explorar isso, as orientações mais seguras e coerentes com sexologia clínica são: reduzir pressão por desempenho (ansiedade inibe resposta sexual); aumentar tempo de excitação e comunicação do que é prazeroso; e explorar estímulos que envolvam clitóris e parede anterior sem dor”, ilustra. 

Caso haja dor, trauma sexual, disfunções associadas, ou sofrimento com expectativas, a ginecologista recomenda considerar um acompanhamento com um profissional de saúde sexual. “É uma experiência involuntária e variável, e que “não acontecer” não é falha”, reitera.